O dia 16 de Setembro de 2014 ficará manchado na história de São Paulo e do Brasil, por conta de um dos mais lamentáveis episódios da história da relação entre o poder público e a sociedade, uma Reintegração de Posse na Avenida São João, no prédio do antigo Hotel Aquarius, que tinha uma ocupação por movimentos de luta por moradia.

Mas somos um Blog de Cronismo, e eu não estou aqui para simplesmente reportar a barbárie que se instalou de parte a parte sob meus olhos na região central de SP, e sim comentar o fato, que foi o estopim de uma inexistente relação entre o Poder Público e a população. Poder público esse que pelo contrário, deveria ter diálogo pleno com todos os setores da sociedade, sobretudo os mais carentes, os que lutam por moradia.

Não, nós não viemos aqui fazer ideologismo barato, colocando como heróis pessoas que perderam a cabeça, atacaram a polícia, que incendiaram ônibus e cabines de pontos de ônibus, que saquearam lojas, que lá estavam com o rosto coberto, que agrediram um cidadão imprudente que foi pedi-los para não fazerem isso, enfim, mas esse é o resultado de um total descaso na relação com a população carente.






Isso desencadeia a ação da tropa de choque, totalmente despreparada para lidar com a população, ser pelotão de elite, não deveria significar ser um pelotão de guerra, por volta das 10:40 da manhã, estava eu vendo tudo o que se passava na escadaria do Teatro Municipal, estava logo atrás de um Repórter Cinematográfico, quando na nossa direção veio uma bomba de efeito imoral".

O Choque não faz distinção entre cidadãos comuns e imprensa, e bandidos, e manifestantes agressivos, para a tropa de choque, toda e qualquer pessoa ou coisa que estiver a sua frente é um alvo, que precisa ser extirpado, eliminado, destruído.

Isso me faz refletir um pouco sobre o ideologismo de algumas correntes de esquerda, que pleiteiam o fim da Polícia Militar. Evidente que sou contra, pois teríamos instalada uma completa anarquia de domínio de bandidos de toda espécie diante do cidadão de bem, seja ele empregado ou patrão.

Porém, é preciso de forma mais do que urgente, mudar a mentalidade das nossas polícias, torná-las mais Humanas, mais Civis, investir em inteligência e no diálogo com a sociedade, enquanto a polícia seguir tendo a visão de que; "Todo mundo é bandido, até que se prove o contrário", teremos a sociedade rechaçando a polícia, como atualmente.

Sim, há o banditismo, ninguém vai passar a mão na cabeça de quem comete delitos como os citados no começo do texto. Mas é preciso entender que há sim uma dívida do Estado (leia-se em todos os níveis de gestão pública) para com a população, sobretudo esta que luta por moradia, há um déficit que simplesmente deixou de ser atendido pelas políticas atuais de habitação. Projetos como o "Minha Casa, minha vida", tem atendido muito mais o interesse de especuladores imobiliários, incorporadores e empreiteiras, basta ver o aumento dos preços dos imóveis, desde que o "dito" subsídio foi criado, é uma completa ilusão. É preciso ter coragem e respeito pelo povo, para se fazer uma Reforma Urbana de verdade.


Reforma Necessária - Reforma Urbana.

Reintegrações de posse traumáticas para os despejados e para a população, somente irão ter fim com uma Reforma Urbana, algo que é totalmente desinteressante para os que hoje estão no poder, que favorecem os interesses do setor imobiliário, mas um governo que pense na população como um todo (vou usar o que diz Luciana Genro), precisa contrariar interesses, uma Revolução Social somente é possível contrariando os interesses que sempre foram favorecidos neste país, é por isso que o "Minha Casa, minha vida" é totalmente ineficiente para as camadas mais pobres da sociedade, por que elas não tem condições de pagar os lucros das grandes empreiteiras parceiras do governo.

O Edifício do antigo Hotel Aquarius é apenas um dos praticamente centenas só na região central, que estão ocupados pela população carente, e que simplesmente não será atendida pelo programa Federal. Muitas reintegrações devem estar em curso na justiça, e teremos uma verdadeira Guerra Civil, um Estado de Sítio, se presenciarmos em cada uma dessas reintegrações, fatos lamentáveis como os que vimos.

O primeiro ato de uma Reforma Urbana decente, seria agrupar todos os processos de Reintegração de Posse, em ocupações pelos Movimentos de Luta por Moradia existentes em uma Comissão Especial de Déficit Habitacional, que seria responsável exatamente pela condução dessa Reforma Urbana. 

Feito isso, o correto seria instituir uma indenização de 30% sobre o valor avaliado do imóvel para os proprietários, fazer as reformas estruturais necessárias, e manter lá essas famílias, no esquema de cortiço, isso sim seria subsidiar habitação popular, e não dar dinheiro para empreiteiras. Isso no caso de moradores já instalados em edifícios "Despropriados", como gostam de dizer nossos amigos Socialistas. Já os moradores de abrigos e de rua, além de pessoas que não tem condições de seguir pagando aluguel, esses deveriam ser privilegiados em um programa habitacional que verdadeiramente subsidie a moradia, com a construção de habitações populares, fazendo mutirões onde preciso, construindo casas e apartamentos simples. Há também muitos imóveis vazios ainda não invadidos, estes do mesmo modo, devem ser indenizados em 30% e colocados em condição para as moradias populares, com direito á título de escritura, nada provisório, provisório é abrigo, albergue.

Tais medidas não são nada inviáveis, não faltam no caso de SP, terrenos para a construção de apartamentos para a "Classe Média", mas para a classe trabalhadora há o nabo, e as invasões, é preciso urgentemente reverter essa lógica, é preciso verdadeiramente governar para os trabalhadores.



Voltando ao tema inicial, a conclusão que se tira é que há um enorme abismo entre as camadas mais carentes da população e o poder público, e enquanto houver essa distância, cenas tristes como as que vimos hoje se repetirão.

A polícia precisa ser um agente de defesa da sociedade, enquanto ela seguir vendo o povo como inimigo, será necessário o uso da força, pois a recíproca será verdadeira.

É preciso também que a sociedade como um todo entenda que é preciso mudar essa relação institucional com o povo, e para isso é preciso romper com os modelos políticos atualmente no poder. Será que a população aceita esse desafio? Ou vai seguir sendo vítima de seu próprio medo de mudar? As urnas dirão, e a resposta é tão óbvia quanto sempre foi nesses 25 anos de Democracia.


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Imagens: Estadão, G1

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Adriano Garcia

Amante da comunicação escrita e falada, cronista desde os 15 anos, mas apaixonado pela comunicação, seja esportiva ou com visão social desde criança. Amante da boa música e um Ser que busca fazer o melhor a cada dia.

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