"Digno de bang-bang", essa é a definição mais clara e honesta que se pode dar ao que vimos no penúltimo debate entre os candidatos ao governo de SP, promovido pela TV Record na noite desta sexta (26). O tom do debate foi de ataques a atual gestão de Alckmin (sem fazer juízo de valor se são justos ou não), e também de auto-defesa, sobretudo de Skaf em relação a duros ataques promovidos pelos marqueteiros da atual gestão ao candidato que hoje ameaça a vitória em 1º turno de Alckmin, segundo as pesquisas. E como sempre no pleito Paulista e nacional, vamos aqui analisar a performance de cada candidato e projetar o cenário eleitoral.

Mas antes, tenho dito exaustivamente que de acordo com nosso lema, temos a postura de não apenas comentar (e cornetar) os fatos políticos de nosso país, como temos a intenção de contribuir para o processo democrático, e acima de tudo para a reflexão da sociedade, com uma cobertura também propositiva, com base nos temas levantados nesse debate, vamos aqui colocar algumas ideias que temos para o Estado de SP, que para você que não mora nesse Estado, certamente (adaptando a realidade) também podem lhe ser familiares e úteis.

Água e Meio Ambiente - Como bem colocado pelos candidatos Natalini e Maringoni, a questão da água é um problema muito sério ocasionado em parte sim pela estiagem. Mas é evidente que não se pode botar isso apenas na conta da seca, os candidatos citados atacaram de forma dura e justa, a questão da privatização de 49% da Sabesp, de fato são sim, especuladores, abutres, que tem lucrado sobre algo que não pode ser tratado como mercadoria, que é a nossa água, sempre disse aqui que quando se privatiza algo é ilusório e utópico crer em reestatização, estamos em 2014, as coisas não funcionam dessa forma, mas no caso da Sabesp é preciso recomprar essas ações de forma urgente, para que todo o recurso proveniente do consumo seja revertido em investimento, e não para o bolso de especuladores, como já dito.

E como deve ser esse investimento, emergencial, o grande problema da atual gestão (que eu considero séria, e que projeta adequadamente) é tirar do papel aquilo que se projeta, é fazer as obras necessárias para tornar realidade as necessidades da população, que são sim refletidas em seus projetos. Então o que deve ser feito em regime de urgência: Modernização da nossa rede de tubulação de água, afim de evitar que 20% da água continue se esvaindo em vazamentos, Interligação entre todos os reservatórios de SP e construção de novos reservatórios em áreas estratégicas e investimento nos mais diversos métodos de reuso da água. E a longo prazo, modificar a nossa rede de esgoto, para que haja o tratamento correto e não o descarte em rios, e que nestes seja feito um trabalho de despoluição sério, para que até 2030, tenhamos nossos principais rios limpos, e servindo a comunidade.

Ainda falando em meio ambiente, temos que ser justos, os novos prédios da CDHU estão contando com uso da energia solar, é preciso expandir cada vez mais isso, e estender isso á uma proposta de Reforma Urbana (falaremos sobre isso já, já), além de fomentar crédito para os que querem contar com essa tecnologia, precisamos investir em energia limpa, Solar e Eólica, evidente que isso é um papel maior do governo Federal, mas as gestões Estaduais podem contribuir nesse processo. Se fazem também necessários investimentos maiores em reciclagem, reuso de resíduos de construção na construção de moradias populares (sem empreiteiras e incorporadoras envolvidas) para que um dia possamos efetivamente acabar com esse mal que destrói o meio-ambiente que são os aterros (lixões).

Segurança Pública - Vejam, o Detecta é um ótimo projeto, mas por que será que se toma a iniciativa de implementá-lo justo em época de eleição, após 20 anos comandando SP? Evidente que soa eleitoreiro, por tal razão sou favorável á ser adotado como norma, o afastamento do cargo de quem pleiteia reeleição 3 meses antes do início da campanha eleitoral, mas esse é um assunto para Reforma Política (clique), e temos de falar de segurança.

É preciso implementar um sistema como o Detecta (independente do nome) de forma justa e verdadeira, é preciso humanizar a polícia, sem demagogia de desmilitarização, é necessário que a polícia tenha uma doutrina militar, mas é preciso que ela seja parceira da população e contra os bandidos, e não como age hoje em alguns casos, com uso excessivo da força contra cidadãos comuns, e não respeitando o direito de livre manifestação e de ir e vir, como temos visto constantemente, é preciso que cada tipo de operação tenha o equipamento adequado. Exemplo; não dá pra fiscalizar comércio ilegal com arma letal, no máximo o teaser já é suficiente, aliás, sou favorável ao fim do cacetete, que remete à tempos sórdidos de tortura, o teaser é um equipamento elétrico de choque que utilizado apenas uma vez contra o provocador, imobiliza-o fazendo com que não sejam necessárias vexatórias cenas de cacetadas no lombo de quem quer que seja.

Outro registro importante que precisa ser feito, não é necessário que haja a unificação das polícias para que haja a integração das atividades, está bem claro qual atribuição é pertinente à qual polícia, Militar, Civil e Científica, a integração deve se dar na interligação dos sistemas, e no melhor diálogo entre elas, é preciso investir em inteligência, papel de Delegado é instaurar processos e coordenar ações, papel de investigador é auto-didático, e papel de militar é estar junto a comunidade na prevenção e combate ao crime. 

É preciso também extirpar a corrupção de seio policial (pessoal do RJ sabe particularmente bem do que estou falando) para isso é preciso melhor qualificação, inclusive vocacional, e plano de carreira de verdade, valorização dos policiais, policial é policial, se tiver que trabalhar à mais, que trabalhe na operação delegada, e não para empresas privadas, para isso é preciso que compense para ele financeiramente, e que ele tenha um armamento no mínimo igualitário ao dos bandidos, coisa que não ocorre hoje nas grandes metrópoles.

Habitação - Esse é um tema que nos é muito caro, e que debatemos aqui recentemente; Reforma Urbana (clique), onde novamente a leitura dos candidatos Maringoni e Natalini foi perfeita, há condições de reduzir consideravelmente o déficit habitacional nas grandes metrópoles do Brasil com o fim da especulação imobiliária, evidentemente que indenizando os especuladores, mas os entes federativos precisam deixar de serem omissos nessas questões e ainda acusarem frentes de esquerda de lotearem os movimentos de luta por moradia, afinal, se os governos não fazem a intermediação entre as camadas mais pobres da população e o poder público alguém precisa fazer, e é hora do Estado acabar com esse intermediário, assumir a sua responsabilidade, parar de receber dinheiro de empreiteiras e incorporadoras, e fazer uma Reforma Urbana que efetivamente atenda as necessidades de uma parcela sofrida da população, que tem de criar seus filhos com menos de 700 Reais ao mês. 

Agora sim, vamos analisar cada candidato;

Paulo Skaf (PMDB)

O candidato Skaf, como já dito inicialmente fez questão de defender-se de ataques feitos pelo programa de Alckmin, teve uma postura sóbria, didática, procurou se colocar com clareza sobre os temas as quais foi questionado. Eu simpatizo com algumas de suas ideias, o considero um homem íntegro, antes de mais nada, o que fica nebuloso é por que ele que se propõe á mudar o conceito de fazer política, saiu do PSB justamente para o PMDB, não que o anterior seja maravilhoso, (longe disso), mas ele conseguiu ir para um núcleo político, no mínimo desgastado não é.

Quanto as provocações de Benko, sobre com quem está, com quem se deixa de estar. Eu mataria a questão com um "golpe" certeiro, eu perguntaria: "Candidato Benko, por que razão tu estás com Marina Silva, e esta por sua vez apoia Geraldo Alckmin?", o candidato poderia até ter resposta, de que é apoiado pela REDE, mas dificilmente iria por esse caminho pois poderia causar mal-estar entre Marina e PSB, as portas do 1º turno, há ainda um debate na Globo, se alguém ligado ao PMDB estiver lendo isso, dê essa dica à assessoria do candidato Skaf, é preciso debater propostas, não essa ladainha.

Laércio Benko (PHS)

Eu vou repetir o que disse desde o começo da campanha, Benko é um bom candidato quando se propõe a debater as suas propostas, as propostas são boas (sem entrar no mérito se são as melhores, não estamos aqui pra isso), mas ele segue em tentar de forma desesperada atrair uma transferência de votos proveniente de Marina, que já ficou claro que ele conseguirá, e o PSB apoia Alckmin, isso confunde totalmente a cabeça do eleitor, que no meio do toma lá, da cá, que infelizmente é proposto pelo candidato nessa conversa de; "Eu estou com Marina", não enxerga nisso a tal, "Nova Política", mantra tão entoado pela coligação unida à REDE. Ou seja, o candidato Benko se debatesse projetos, seria viável e identificado com essa proposta de nova ideologia.

Gilberto Natalini (PV)

O candidato do Partido Verde mais uma vez foi muito bem no debate, postura sóbria, propostas efetivas para todos os temas, que mostram, que o PV, ao contrário do preconceito que se estabeleceu em muitos, não é uma "Selva de ECO-Chatos", o PV tem sim, e sobretudo na figura do candidato, ideias e políticas públicas em todas as áreas, claro que com um olhar sempre voltado ao desenvolvimento sustentável, e a integração de todas as classes sociais, convivendo em uma cultura de respeito mútuo, entre as mais diversas formas de pluralidade, que é o que caracterizam SP e o Brasil.

Novamente, faço questão de elogiar a perfeita leitura do candidato em relação aos mais diversos temas, os quais destaco: Água e Meio Ambiente, Transporte, Habitação, Segurança Pública, Reforma Política e Financiamento de campanha, e corrupção. 

Gilberto Maringoni (PSOL)

O mesmo elogio que fiz à Natalini, estende-se ao único candidato de esquerda presente no Debate. Creio que foi a melhor apresentação de Maringoni nos três debates que acompanhamos, o Professor conseguiu manter a postura didática que o caracteriza, mas dessa vez foi além, usando seu tempo com parcimônia, não só para expor o que está errado, como para propor soluções para os graves problemas de SP, os citados anteriormente, com a firmeza característica do PSOL, está de parabéns o candidato. 

Walter Ciglioni (PRTB) 

Eu lamento profundamente, mas não é possível fazer nenhum tipo de avaliação sobre o candidato do PRTB, é uma pena, mas ele não contribui em nada para o processo eleitoral, não tem nenhuma proposta, se mostra apavorado com o Debate, não sabe usar seu tempo, não sabe se colocar perante a população, que a população ignore quando diz que ele "vem do povo", ele veio sim, mas o povo pode ter representantes que tenham ideias, que saibam se colocar perante a sociedade, e não tornar o processo mais pândego do que já é.

Levy Fidelix que demonstra tanta habilidade ao falar em economia e transporte, e ao se candidatar tantas vezes á cargos majoritários não soube escolher corretamente o candidato desta vez, muito pelo contrário, faz de seu partido uma piada perante o povo Paulista, Havanir Nimtz, aluna de Enéas tem como missão puxar votos para que o PRTB siga tendo participação na Câmara Federal, isso compreendemos perfeitamente, agora, colocasse Flaquer, ou até mesmo sua bela filha como candidata ao governo, ao menos não passariam por isso, e não nos consumiria tempo nos debates. O candidato mencionou que não queria decepcionar entes queridos, sinto informar que provavelmente decepcionou sim, desfazendo-se de seu tempo como criança que esconde peraltices juvenis.

Alexandre Padilha (PT)

O candidato veio para o debate com fome, fome esta já demonstrada em sua propaganda eleitoral, foi firme em suas colocações, foi duro nos ataques, para firmar as dobradinhas de ataque, fugiu dos debates contra os principais adversários, inclusive o Governador, e aí vai a crítica, por que soa baixo dizer isso, que eu saiba Alckmin não compareceu ao Debate Band (Clique), por conta de problemas de saúde, não acho que isso possa ser classificado como uma fuga do debate. A grande realidade é que apesar da postura adequada de Padilha em sua campanha, há uma resistência do eleitorado Paulista a sua campanha, em parte pelo conservadorismo Paulista, e em significativa parte, pela má avaliação da gestão Haddad até aqui, o que tem também se refletido no pleito ao Senado (que infelizmente não teve debates, em tempos que se pensa em Reforma Política) onde mesmo Suplicy sendo o candidato, a "ressurreição" de Serra parece algo consumado, á menos que as pesquisas estejam totalmente fora da realidade. 

Geraldo Alckmin (PSDB)

O Governador caracteriza-se por ter uma postura bastante sóbria, não se abala com ataques, jamais sobe o tom, parece ter a certeza da vitória, debate com dados, que muitas vezes não refletem as dificuldades que vive o povo Paulista, e inegável que tem uma postura séria, eu não penso que Alckmin seja nocivo à sociedade, inclusive acho que era mais preparado que Aécio para representar o PSDB na disputa presidencial. 

O que me causa estranheza no eleitorado é a passividade. Será que está tudo andando no ritmo que deveria? É evidente que há um trabalho, mas esse trabalho não atende as necessidades da população, anda a passos muito lentos. Será que apenas a postura de Alckmin é suficiente para conquistar de tal maneira o eleitorado? A população de SP está feliz com os rumos que o Estado tem tomado, ou tem receio de andar para trás com outros modelos de gestão? 

Além da lentidão, a principal crítica que faço ao Governador são os ataques gratuitos, que ele começou contra os adversários, Alckmin (segundo as pesquisas) jamais teve seu "trono" ameaçado, não tinha portanto, nenhuma necessidade de abaixar o nível do pleito. Política é a arte de servir ao bem comum, e não ao bem próprio. Portanto o mesmo que digo á Presidente vale para ele; Não se aproprie do Estado, o estado é da população, e a decisão dela é soberana. O "pudê" pelo "pudê", de nada vale. 

Avaliação Final

O Debate foi interessante, apesar das dobradinhas contra o atual governo, de perda de tempo com candidato sem ideias, e das habituais "pegadinhas", como por mim já citado, foi um debate onde foi possível há uma semana da eleição, ouvir ideias sendo colocadas e ver os candidatos com fome de governar SP, a regra dinâmica proposta pela Record, ajudou muito no bom desenvolvimento do Debate, permitindo à todos igualdade de oportunidade de dirigir-se á população e dinamismo na exposição das ideias, portanto, a Record está de parabéns. 


Vamos debater o debate, sem militantismo, com CIDADANIA!

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Imagem: R7.com
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Adriano Garcia

Amante da comunicação escrita e falada, cronista desde os 15 anos, mas apaixonado pela comunicação, seja esportiva ou com visão social desde criança. Amante da boa música e um Ser que busca fazer o melhor a cada dia.

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