Sei que o assunto não é dos mais novos, mas o retomarei antes da partida deste domingo, contra o Flamengo, para esgotá-lo de vez antes de voltar minha atenção ao futebol dentro da quatro linhas.
O presidente do São Paulo, Miguel Aidar, deu entrevista na última terça-feira onde rebateu o seu “colega” do Palmeiras, Paulo Nobre. Midiático, Aidar fez uma série de ponderações fanfarronas. Em uma delas, no entanto, ele foi certeiro: o Palmeiras está se apequenando.

Miguel Aidar, presidente do São Paulo: o Palmeiras se apequenou
 Deixando a bobagem da briga entre os mandatários de lado – para ser bem sincero, não acho que o Alan Kardec valha tantas linhas nem tanta discórdia, vou me ater a essa fala de Aidar. A Sociedade Esportiva Palmeiras está se apequenando.

E não, torcedor Alviverde, não falo das glórias, nem da tradição, itens nos quais o Verdão tem poucos, muito poucos rivais no Brasil à sua altura. Muito menos da torcida, que é apaixonada e vive intensamente o clube. Falo, sobretudo, da forma como o Palmeiras foi conduzido por muito tempo. E isso, claro, tem reflexos diretos em fatores sensíveis, como receitas, capacidade de atrair patrocínio e, por consequência, conseguir competir no mercado da bola.

O Verdão é, hoje, a quinta maior torcida do Brasil, segundo pesquisa da Pluri consultoria em conjunto com a Stochos Sports & Entertainment. Tem 4,9% dos torcedores brasileiros. Pouco mais de 12 milhões de pessoas. Um contingente que, embora extremamente respeitável, vem diminuindo muito nas últimas décadas. E vale lembrar que o Palmeiras perde para Corinthians e São Paulo, seus maiores rivais, de goleada: o Timão tem 14,6% da preferência e o Tricolor, 8,1%

Uma outra pesquisa, realizada pelo Estadão, mostra bem como a realidade tem sido cruel para o Verdão. Em 1967, ano da primeira pesquisa, o Corinthians tinha a preferência, no Estado de São Paulo, de 35% dos torcedores. O Palmeiras era o segundo, com 27%. E o São Paulo o terceiro, com 22%.Onze anos depois, o Timão já tinha 44% e Palmeiras e São Paulo estavam empatados com 22%. E, em 1991, quando o time do Morumbi papou tudo, o Verdão foi ultrapassado pela primeira vez: Corinthians 46,99%, São Paulo 21,69% e Palmeiras 18,07%.

Desde então, a situação apenas se agravou. Em São Paulo, o Corinthians tem 36%, o São Paulo, 20% e o Palmeiras, parcos 13%. O Santos em quarto, com 6. O que significa que a distância que separa o Palmeiras do São Paulo, hoje, é a mesma que seara o Verdão do Santos. E a tendência é que ela diminuía mais nos próximos anos, refletindo o fator Neymar.

Ok, diz o leitor, entendi o ponto. Mas o que isso quer dizer?

Quer dizer, responde o autor, uma coisa simples: quanto mais torcedores, mais mercado. Quanto mais mercado, mais se pode fazer dinheiro. A questão das cotas de TV é um exemplo claro: quem tem mais torcida, tem mais jogos transmitidos. E quem tem mais jogos transmitidos, pode vender sua cota por valores mais altos. E, com isso, fecha patrocínios mais vantajosos, já que seus parceiros aparecem mais em rede nacional. Isso para não falar na cobertura da mídia e na consequente exposição.

Calma, palmeirense, não fique deprimido (ainda). Há esperança.

A queda de popularidade do Palmeiras reflete uma série de fatores. Entre os anos 1980 e 1990, o time ficou um longo período sem ganhar títulos. É natural que a torcida míngue nesses momentos. O problema é que, depois das conquistas do começo da década de 1990 e do auge com a Libertadores de 1999, uma série de péssimas administrações vem tomando conta do Palmeiras. Mais do que deixar de crescer, os últimos presidentes agiram de forma tão bisonha que o Palmeiras, sim, ficou, menos grande. E ainda está – diminuído perto de seus rivais.

Há mais de uma década o Palmeiras não revela ninguém que seja destaque. Vagner Love – que nem é, vamos dizer assim, um craque – foi o último jogador que rendeu divisas interessantes ao clube. É muito pouco para um time dito grande. Pode-se dizer, portanto que, nesse tempo, o Palmeiras limitou-se a comprar jogadores. A gastar. E o retorno dado aos cofres da equipe foram imensamente inferiores ao que se gastou.

Não tenho balanços em mãos, mas sou capaz de apostar que, no balancete do Palmeiras, muito mais foi gasto com contratações do que recebido com vendas de atletas. É o primeiro passo para a falência.
Além disso, as diretorias fizeram maus negócios em série. Pagaram salários alto demais para jogadores com qualidade de menos. Entre os gigantes do futebol brasileiro, nenhum teve tantos atletas inexpressivos quanto o Palmeiras na última década. E isso, claro, tem um custo.

Paulo Nobre, presidente do Palmeiras
Pior que isso, o Palmeiras deixou o câncer chamado empresário de futebol dominar os corredores do Parque Antarctica. Tenho contatos com empresários de futebol e todos eles garantem que o Palmeiras foi, durante pelo menos cinco ou seis anos, o paraíso da categoria. O Verdão não se fazia de rogado e pagava somas generosas por negociações. Segundo um amigo com contatos no mundo do futebol, a coisa era tão absurda que um empresário chegava a conseguir dobrar os rendimentos que conseguiria em negociações com outros clubes. Especialmente pelos jogadores menos badalados.

O finado Palmeiras B, por exemplo, era o alvo certeiro de negociatas com atletas de menor expressão. Muitos negócios foram feitos por indicação de conselheiros, com fartas percentagens aos empresários e, em alguns casos, aos próprios conselheiros. Um verdadeiro mar de dinheiro onde o único prejudicado era o Palmeiras.

As sequentes diretorias do Palmeiras fizeram com que o time, hoje, não esteja com o mesmo poderio financeiro dos seus concorrentes. E, pior que isso, está completamente engessado: para sair dessa triste realidade, precisa de dinheiro. Mas não consegue fazer times que empolguem a torcida, o que tira receitas do clube. O que, por sua vez, faz um círculo vicioso que precisa ser quebrado por uma questão, em longo prazo, de sobrevivência.

A austeridade financeira adotada por Nobre é uma parte importante para quebrar essa realidade. Endividado como está, o Palmeiras precisa adequar seus gastos para se reerguer. Mesmo que isso, em um primeiro momento, signifique resultados não tão bons dentro de campo. O problema é que a austeridade deveria vir acompanhada de uma busca eficaz de receitas – o que, infelizmente, não ocorre. A única iniciativa positiva até o momento é o programa de sócio-torcedor Avanti, bem estruturado e que tem condições de dar um respiro para a diretoria. Mas 40 mil associados ainda é um valor que não chega a fazer diferença no cotidiano do clube. Embora seja uma luz no fim do túnel.

Sem patrocínio principal há mais de um ano, o Palmeiras segue sem revelar talentos. E segue com a dificuldade de formar um elenco competitivo. E, por, sem alternativas para gerar renda. Esse é o grande gargalo. E é ai que a diretoria precisa tomar muito cuidado.

O Palmeiras, hoje, vive uma situação de time médio. Mas não significa que é um time médio.É um gigante que, por situações do futebol, está tentando se reerguer. É essa grandeza, a grandeza do Palmeiras, que a diretoria, os conselheiros e os próprios palmeirenses precisam ostentar.

Alan Kardec, a semente da discórdia entre Palmeiras e São Paulo
Paulo Nobre falou, em sua coletiva, que irá brigar por cada centavo nas negociações de contratos. É justo e válido. Essa medida é essencial para a segurança financeira do clube. Mas ele precisa entender que o orgulho de ser palmeirense, em alguns casos, não pode ser mensurado. A negociação com o Kardec foi um desses casos. R$ 20 mil – a diferença entre o que o atacante queria receber e o salário ofertado pelo Palmeiras – são um impacto considerável ao longo dos anos de contrato. Sem dúvida. Mas o retorno que o jogador traria ao Palmeiras – não dentro de campo, mas sim no resgate da autoestima e do orgulho de ser Palmeirense – foram esquecidos.

A verdade é que, por mais que Alan Kardec seja um jogador mediano, longe de ser craque, o palmeirense sentiu no fígado essa situação. Todos nós, alviverdes, nos sentimos impotentes. Imagino que o presidente Paulo Nobre também tenha se sentido assim. Nesse caso, a economia feita certamente será muito menor do que os frutos que uma negociação bem conduzida geraria.

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Eduardo Schiavoni

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