Alan Kardec, ex-Palmeiras, deve jogar no São Paulo
 Como 99% das pessoas que gostam de futebol já sabem, Alan Kardec, avante do Palmeiras, está de malas prontas para pular o muro da Academia de Futebol e desembarcar no CT da Barra Funda, no rival São Paulo. A negociação foi marcada por uma série de polêmicas e terminou nesta segunda-feira, quando o presidente do Verdão, Paulo Nobre, anunciou de forma definitiva que o bom centroavante não era mais do Alviverde.
O presidente do Palmeiras deu uma coletiva na tarde de hoje. Visivelmente abatido, teceu severas críticas ao rival, que atravessou a renovação do contrato de Alan Kardec. Falou que o rival joga sujo, que o São Paulo não foi ético ao se intrometer. Também falou que a relação institucional entre as duas diretorias é péssima desde os anos 1940 e que, graças à ação de Miguel Aidar, recém-empossado presidente do Tricolor, a situação não deve se alterar.

As explicações dadas por Nobre aos jornalistas e, mais importante, aos palestrinos, são cobertas de lógica e extremamente pertinentes. O mandatário afirmou que o Palmeiras passa por uma severa crise financeira e que não pode se dar ao luxo de gastar o dinheiro que já não tem. Pregou equilíbrio financeiro e ressaltou que essa é uma de suas bandeiras de campanha. Também defendeu o contrato por produtividade e disse que o Verdão vai ao mercado para tentar contratações, inclusive para um substituto.

Feito o resumo, cabe agora uma análise mais aprofundada.
Paulo Nobre acerta, em sua entrevista, ao focar na política de austeridade que ele decidiu seguir. O torcedor do Palmeiras – entre os quais me incluo – precisam entender  que o clube tem as finanças severamente comprometidas, em situação pré-falimentar. E que uma parte dessa realidade se deve a investimentos desastrosos em transações de jogadores.

Antes de Nobre, o Palmeiras passou praticamente uma década e meia contratando muito mal. Comprava jogadores “meia boca” caro demais, oferecia salários acima do mercado e, com isso, se endividava cada vez mais. E, pior ainda, sem que os resultados viessem em campo – ao contrário disso, o Verdão foi rebaixado duas vezes. Acerta, portanto, o presidente em pregar austeridade. Como acertou também em não pagar um salário astronômico a Alan Kardec.
Acerta também o presidente ao soltar os cachorros contra o São Paulo. A atitude do rival foi um golpe baixo. Uma postura claramente imbecilóide e que só faz com que o futebol, em si, perca. Mas não se pode dizer que foi um fato completamente inesperado.

O único erro de Nobre foi deixar de fazer a tão necessária mea culpa. Pois sejamos claros: a perda do jogador não foi motivada exclusivamente por uma oferta irrecusável do São Paulo. O que houve - e ai faltou humildade ao presidente - é reconhecer que ele próprio foi o maior responsável pela saída do atacante do Palmeiras.
Pois vamos aos fatos.

Alan Kardec disse seguidamente que queria permanecer no Palmeiras. As primeiras declarações dele nesse sentido foram dadas no início do ano, ainda durante a pré-temporada. O Palmeiras sabia desde então que Alan Kardec era o homem gol, o melhor atacante do time. Deveria, portanto, ter iniciado as conversas para renovação ali mesmo. Mas preferiu esperar. Assumiu o risco.

Paulo Nobre, presidente do Palmeiras: ele errou feio
Na hora que a negociação começou a deslanchar, o presidente optou por negociar e tentar reduzir ao máximo o que se poderia pagar ao Kardec. Convenhamos, R$ 220 mil de salários fixos, mais luvas milionárias e salário variável que poderia chegar a R$ 320 mil – essa foi a proposta – é um valor bem razoável para o futebol do atacante. E esse valor chegou efetivamente a ser fixado, faltando a assinatura do contrato. Isso ocorreu há duas semanas.
A essa altura da negociação, o jogador já havia reduzido a pedida três vezes, e o Palmeiras aumentado em igual quantidade. O São Paulo já havia declarado publicamente que o atacante interessava e o pai do jogador, bem como seus empresários, já mostravam insatisfação com a lentidão na negociação. Houve um prazo para o acerto e o estafe do jogador afirmou que, se não fechasse até aquela data, iriam ouvir outras propostas. Houve uma reunião onde o martelo foi batido, faltando apenas a assinatura de Nobre.

É nesse ponto que Paulo Nobre errou.
O presidente do Palmeiras desautorizou seus subalternos, em especial o José Brunoro, que havia dado a negociação por encerrada. E queria que o jogador abrisse mão de R$ 20 mil para fechar. Nesse momento, propostas começaram a vir. E ai o dinheiro falou mais alto.

Não creio que Alan Kardec seja mercenário ou algo do tipo. Ele é um profissional. Também não duvido que ele realmente teve intenção de ficar no Palmeiras. E poderia ter ficado se o presidente não tivesse regateado no momento errado. Uma análise mais apurada por parte dele poderia facilmente ter previsto que o momento era de fechar o contrato, não de pechinchar mais. Afinal, Kardec está adaptado ao Verdão, o salário não seria exorbitante – qualquer atacante de ponta custará mais ao clube – e ainda havia a expectativa de vendê-lo, recuperando o investimento. Era, portanto, um negócio atrativo.
Alan Kardec fará falta ao Palmeiras? Certamente. A torcida, carente de ídolos, irá ficar indignada? Sem dúvida. A diretoria errou na forma como conduziu as negociações? Errou, e feio. Embora com boas intenções. E é isso que precisa ficar claro.

Paulo Nobre é inteligente e está sabendo capitalizar o discurso da austeridade financeira. Também não se pode negar que está tomando medidas claras nesse sentido. Também não se pode colocar em dúvida o amor dele pelo clube, indo ao ponto de colocar dinheiro no bolso, usando seu próprio nome, para sanar os problemas intermináveis do Palmeiras. Acertou em cheio no programa de Sócio Torcedor e também tem boas propostas.
Mas também não se pode negar que a diretoria é morosa ao contratar e deixa as situações se prorrogarem até o limite. Gilson Kleina e Leandro são exemplos disso. Ambos estiveram com os pés fora do Palmeiras e depois voltaram. Com Kardec, isso não ocorreu. A mesma coisa teria acontecido com ambos se houvesse alguém disposto a pagar por eles.

A diretoria também peca pela morosidade em conseguir patrocínios. Para conseguir alívio financeiro, o Palmeiras precisa conseguir negociar o contrato máster. Desde a saída da Kia, em 2012, o Verdão está sem esse recurso. São milhões que fazem falta. Não significa que o Palmeiras deva aceitar qualquer acordo. Mas um ano de prazo é tempo mais que suficiente para que os homens do marketing consigam alavancar alguma proposta ao menos aceitável. Se isso não ocorreu até o momento, a falha precisa ser corrigida imediatamente. Para não penalizar ainda mais o torcedor.
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Eduardo Schiavoni

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