O Grêmio, nesse momento, passa por uma completa crise de identidade. Os recentes insucessos mostraram mais claramente à torcida tricolor que os nossos problemas vão muito além de uma proposta de jogo que agrade ou não ao público. Renato Portaluppi havia conseguido extrair de um elenco fraco e cheio de carências um futebol pragmático e feio na visão de muitos, mas que empilhava bons resultados. Porém, esses mesmos bons resultados começaram a desaparecer justamente no momento mais importante do ano. O resultado disso é que estamos há 6 jogos sem sequer conseguir marcar um gol, com a classificação para a Libertadores de 2014 através do Campeonato Brasileiro ameaçada, e amargando uma dolorida eliminação na Copa do Brasil para o Atlético-PR, onde jogamos fora a nossa real oportunidade de pôr um fim ao jejum de 12 anos sem conquistar um título de expressão.

Afinal de contas, o que é que está acontecendo, de fato, com a instituição Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense? O que antes era um clube temido, respeitado, até mesmo odiado por adversários por sempre ter os seus planos e objetivos frustrados, virou motivo de indignação para os gremistas e de chacota para os rivais. Como pode ser possível um clube dessa magnitude ficar tanto tempo sem conquistar algo de relevante? Não somos um clubeco de bairro qualquer, e sim um gigante que já conquistou praticamente tudo o que foi possível no futebol profissional, que possui a maior torcida do Brasil tirando os clubes do eixo Rio-SP e que acabou de inaugurar o terceiro estádio da sua gloriosa história. A resposta para essas perguntas estão na péssima maneira como os dirigentes e a torcida do Grêmio estão lidando com o passado vitorioso do clube.

O Grêmio sempre se notabilizou por montar times operários, ou seja, times sem grandes estrelas que jogam em torno de um objetivo comum a todo o time. Os times que nos deram os nossos maiores títulos eram formados por jogadores qualificados tecnicamente, sem serem grandes estrelas e todos eles comprometidos com a causa. Enfim, jogadores que ainda precisavam provar alguma coisa à opinião pública e até à si mesmos, jogadores com algum objetivo nas suas vidas profissionais e até mesmo pessoais. Essa sempre foi a nossa filosofia de montagem de times até o ano de 2008, quando lutamos ponto a ponto, rodada a rodada, até a rodada final pelo título de campeão brasileiro, mesmo com um elenco (considerado pela maioria) modestíssimo. Só que, apartir disso e sem nenhuma razão aparente, a torcida do Grêmio começou a rever o seu "conceito". De 2009 até hoje, só o que a torcida quer e exige jogando no Grêmio são jogadores de grife, acomodados, com salários altíssimos, que já ganharam títulos e não têm mais nenhuma ambição, desafio ou objetivo no futebol. Jogadores sanguessugas, que estão pouco se importando para os nossos anseios de conquistas e só o que lhes importa é o seu salário (alto e pago religiosamente em dia) depositado no primeiro dia útil do mês. O mais revoltante é que a torcida acredita cegamente que esses medalhões são a salvação para a nossa seca de títulos, com alguns inclusive chegando ao nível de demência de afirmar que esse tipo de jogador possui o "DNA da vitória". Outro absurdo é a predileção por jogadores só pelo fato de falarem espanhol (o camarada saber chutar ou não uma bola é apenas um mero detalhe, o importante é "hablar") e por jogadores que possuem o que eu classifico de "falsa raça" (aqueles que só dão carrinhos inúteis e fazem discursos bonitinhos nos órgãos de imprensa somente para fazer média com a torcida, mas que são verdadeiros aleijados com a bola no pé). Enquanto isso, os meninos oriundos das nossas categorias de base são vaiados e perseguidos a cada passe errado ou chute torto, e os jogadores desconhecidos que vêm de clubes pequenos do interior dispostos a lutar pelo seu lugar ao sol são humilhados (com direito a receberem os nomes pejorativos de "jacozinhos").

O resultado prático dessa aberração são fiascos constantes, campanhas muito aquém da grandeza do nosso clube, eliminações bizarras das competições para clubes que fazem o que nós fazíamos no passado e nunca deveríamos ter parado de fazer (o Atlético-PR é apenas o exemplo mais recente disso), resignação com as derrotas (sim, porque o time faz papelão em campo e a torcida ainda bate palmas para isso, não existe mais cobranças dentro do Grêmio, o nível de exigência está abaixo do chão) e apequenamento cada vez maior do clube. Antigamente os adversários tinham respeito pelo Grêmio quando ele era o seu visitante e tinham medo de encarar o Grêmio aqui em Porto Alegre. Qualquer um sabia que jogar contra nós era "carne de pescoço". Hoje em dia, ninguém mais tem respeito por nós e muito menos medo, fora de casa o Grêmio parece um rato assustado com medo do escuro e dentro de casa os outros vêm aqui e cospem na nossa cara, e a minha indignação como gremista apaixonado é que simplesmente ninguém reage contra isso. E tudo isso por causa desse processo de demência mental que tomou conta da nossa torcida por sempre exigir medalhões que nunca darão nada ao nosso clube. É incrível a capacidade da torcida do Grêmio em ter adoração por jogador ruim, grifento, descompromissado, sanguessuga e que faz pouco caso do clube. Nenhum jogador desses sente ou adquire amor pelas nossas cores. Os dirigentes não querem ir contra a torcida, já que é ela quem os elege nas eleições a cada 2 anos. O presidente apenas faz a vontade da torcida de contratar jogadores desse "quilate" e o resultado disso é um elenco caríssimo, com uma das folhas salariais mais altas do campeonato, mas que é extremamente carente e mal-montado como um todo. O nosso lateral-direito ganha uma fortuna para sequer acertar um cruzamento para a área tamanha a sua deficiência técnica. O camarada é tão ruim que até contaminou o nosso lateral-esquerdo com o seu péssimo futebol, provavelmente ensinou para o menino promissor como NÃO se faz para ser bom no seu ofício. Um dos zagueiros é um dos piores que tive o desprazer de ver jogar no Grêmio, comprometedor ao extremo principalmente em jogos importantes. Não temos um armador, um "camisa 10" no meio campo. Nossos atacantes simplesmente não fazem gol em ninguém, mesmo recebendo salários que cobririam toda a folha de pagamento da maioria dos nossos adversários. Esse elenco "maravilhoso" foi concebido e montado pelo nosso ex-técnico, que também faz parte da linha de grife que é a preferida da nossa torcida, e a bomba-relógio acabou estourando na mão do Renato Portaluppi. Ele tem, sim, os seus problemas de escalação, andou fazendo algumas bobagens, mas a grande verdade é que ele faz o que pode com um elenco tão horroroso como o nosso. Claro que ele tem a sua parcela de culpa da nossa má fase, mas colocar TUDO na conta dele chega a ser sacanagem, os problemas do Grêmio vão muito além de ter o Renato como técnico, mas existem gremistas que são tão iludidos que, pela maneira que falam mal do Renato, simplesmente bastaria ele ser demitido que o Grêmio se transformaria num Barcelona dos Pampas, como num passe de mágica. Só digo o seguinte: com esses "jogadores", pode botar o Felipão na casamata que mesmo assim o jejum de conquistas continuará.

Sei que o texto de hoje ficou longo e cansativo e peço desculpas por isso, mas eu precisava fazer esse desabafo. Eu sou um gremista que vivenciei a época de ouro do Imortal Tricolor e fico muito triste com o rumo que as coisas tomaram nos últimos anos. Querem acabar com o Grêmio vencedor que eu cresci vendo ser e eu continuarei lutando para impedir isso. Quero poder apresentar aos meus filhos o Grêmio que nunca desiste, que luta até o fim e que mantenha a nossa auto-estima sempre em pé. Só existe uma maneira do Grêmio resgatar a sua dignidade e a sua identidade: voltar às suas origens. Chega de bandalheira, de medalhões, de grife, de falta de respeito com o clube. Enquanto continuarmos com um elenco repleto de jogadores caros, ruins e sem objetivo no futebol como Pará, Werley, Elano, Zé Roberto, Kleber e Barcos (só para citar alguns), nunca mais seremos campeões de nada. O único caminho é voltar a prestigiar os meninos das categorias de base (mesmo que não sejam craques, isso não impede que eles sejam úteis e deem a sua contribuição) e a investir em profissionais qualificados, que realmente precisem provar alguma coisa ao público e à eles mesmos. Nunca precisamos de jogadores de nome para construir a nossa história e, por ironia do destino, hoje são os outros clubes que nos mostram esse caminho que fomos nós quem sempre trilhamos, e tudo isso porque o Grêmio atual (e perdedor nos últimos 5 anos) insiste em ir na contramão do que nos tornou o gigante que somos hoje. O tamanho nós temos, falta é agir de acordo com ele.

Saudações gremistas
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2 comments so far,Add yours

  1. Grande desabafo Leonardo
    Enfim o Inter também entrou nesta onde de jogadores de grife, acomodados, com salários altíssimos, que já ganharam títulos e não têm mais nenhuma ambição no futebol. É impressionante quanto os times de nosso Estado, tenham se rendido aos medalhões, sendo que ambos sempre quando tiveram êxitos em competições eram formados por jogadores que tinha ainda "sangue nos olhos", em busca de novas conquistas.

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  2. Léo, grande crônica, eu concordo com vários aspectos dela. Fico triste (por que gosto do Portaluppi) mas ele foi covarde em muitos momentos, foi mesquinho como nessas brigas, ele como treinador já demonstrou muita coisa boa, e mostrou que é injusta a forma como muitos o tratam, porém, ele avacalhou demais no Grêmio.

    Fato é também que o PLANEJAMENTO foi mal feito, visto que os jogadores trazidos em sua maioria PASSARAM DO PONTO de consagrados, e estavam em declínio.


    Eu só vou colocar aqui o que já te disse, a torcida do Grêmio caracteriza-se por individualizar e crucificar excessivamente, atletas que tomam como vilões, EU DISCORDO disso, ainda mais quando VICTOR, foi tido como um deles em recente passado.

    Especialmente em relação ao Pará, acho que é cometida uma injustiça, Kleber é bom jogador mas é um DOENTE MENTAL, e Barcos joga de volante, por essa razão não produz o que pode.

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