Imagem: Fabiano Rocha/Agência O Globo


Nesta quinta (6), uma operação das Polícias Civil e Militar resultou na maior chacina da história do RJ. A ação que, a princípio, visava reprimir o tráfico de drogas no local se transformou em uma cruzada revanchista após a morte de um policial durante o confronto. Os demais agentes que participavam da incursão ficaram totalmente descontrolados e passaram a atirar em tudo que estivesse ou não ao alcance da vista. O saldo da barbárie foram o confisco de celulares de moradores, residências invadidas, pessoas baleadas dentro de casa e de um vagão do metrô localizado próximo à favela e mais vinte e oito mortos. Tamanha atrocidade é sintomática de duas características peculiares das forças de segurança do RJ. 

A primeira é essa estratégia policial, calcada na lógica do confronto, que só é utilizada no território fluminense e, única e exclusivamente, para favorecer diversos negócios criminosos que locupletam muitos policiais do estado. Para se ter ideia da especificidade da estratégia das forças de segurança do RJ, esse tipo de ação policial sequer é aplicado em SP, por exemplo. O fato é que essas rotineiras operações policiais só existem no RJ para assegurar a necessidade da presença de armamento pesado nas favelas dado que ela é, em grande medida, garantida por meio de desvios e fornecimentos oriundos das próprias forças de segurança.

Já a segunda advém do modelo miliciano que hegemoniza as forças de segurança do estado. Afinal, essa lógica de dominação calcada em armamento pesado provoca ainda uma corrida armamentista entre grupos rivais, que mantém o mercado de armas e munições sempre aquecido e, ao mesmo tempo, constantes conflitos e mortes em um processo autodestrutivo entre diferentes facções criminosas para fragilizá-las e facilitar o domínio da polícia. Essa fragilização das facções e dominação policial possibilita a cobrança de arregos ou a pavimentação do caminho para a entrega do controle das favelas a milicianos que são oriundos, em grande proporção, dos quadros das próprias forças de segurança, ou seja, a polícia fatura com a guerra em ambos os casos. Outro dado importante desse processo de “milicianização” das forças de segurança do RJ é expressado na conduta que tornou a operação de hoje uma cruzada revanchista. Não é novidade pra ninguém que as polícias do RJ vêm deixando há tempos de atuar, até mesmo, como parte de um mero dispositivo de manutenção da ordem social. Atualmente tenho, inclusive, cá minhas dúvidas se ainda faz sentido chamá-las de instituições de segurança pública. Como se pôde mais uma vez constatar, tais corporações que possuem função social atuam mais em função das próprias corporações dado que dedicam grande parte de suas atividades e utilizam-se do poder bélico e aparatos de repressão estatal não só para garantir o amplo domínio de favelas como também para vingar os seus. Estimulados pelo poder público, esse teatro da guerra cotidiana, além de fomentar corporações e batalhas que se tornam cada vez mais privadas e particulares, gera um eterno looping de vinganças e retaliações.

Um círculo vicioso que ficou mais longe de ser interrompido após grandes entusiastas e operadores da lógica do confronto, da guerra aos pobres e do modelo miliciano chegarem ao centro do poder e das grandes decisões do estado e do país.



Texto por Luan Toja, Insta e Twitter: @luantoja




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Redação

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1 comments so far,Add yours

  1. O mais grave em todo esse contexto é que no Rio as polícias não mexem em área de milícia. A meu ver a instrumentalização está num estágio bem avançado.

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