Olá a todos e sejam muito bem-vindos ao novo espaço do Jovens Cronistas. O meu nome é Daniel Fernando, sou português, e, através das minhas crónicas, tentarei dar-vos a perspectiva deste lado do Atlântico em relação aos assuntos mais marcantes da política em Portugal, na Europa e, quando for caso disso, nos EUA e no próprio Brasil.


Nesta minha estreia irei falar-vos do crescimento da extrema-direita em Portugal e fazer um retrato da política portuguesa em geral, desde a chamada “esquerda radical” à direita considerada “democrática”.

Em Outubro de 2019, o partido Chega chegou ao Parlamento português, colocando um ponto final na ideia de que Portugal era um dos poucos países europeus sem uma extrema-direita relevante. Na altura, muitos desvalorizaram este resultado, afirmando que o partido é, na verdade, o projecto de um homem só e que, no dia em que ele o abandone, o partido acaba.

No entanto, com o passar do tempo veio-se a descobrir que o Chega, embora tenha em André Ventura o seu rosto mais mediático, encontra-se rodeado de outros interesses, com alguns dos empresários mais poderosos do país a financiá-lo, além do apoio de outras figuras da extrema-direita europeia e de pastores evangélicos.

Este facto, aliado à estratégia também utilizada por Jair Bolsonaro e Donald Trump de uma hiper-produção de notícias falsas e desinformação, originou uma subida do Chega nas sondagens, sendo que, até às próximas eleições legislativas (Outubro de 2023), o potencial de crescimento do partido é elevado, dada a forma como se apoderou das redes sociais e tendo em conta o discurso simplista e populista de André Ventura. Resta saber se as eleições presidenciais de 2021, às quais Ventura é candidato, servirão para desgastar a sua imagem e prejudicar o tal potencial de crescimento do partido ou se, por outro lado, serão uma oportunidade para o líder da extrema-direita portuguesa aproveitar o tempo de antena que lhe será dado para conquistar mais eleitores, mesmo sabendo que as probabilidades de vitória são muito reduzidas.


Ora, com a extrema-direita a ganhar o seu espaço na política portuguesa, de que forma os outros partido se posicionam neste momento?

Voltando às eleições legislativas de 2019, houve para além do Chega mais dois partidos a chegar ao Parlamento: o Livre (partido europeísta de esquerda) e o Iniciativa Liberal (como o nome indica, partido de direita liberal), ambos com 1 deputado eleito.

Quanto aos restantes partidos, o PS (supostamente, de centro-esquerda) aumentou o seu número de deputados (108), embora não tenha atingido a maioria absoluta (seriam necessários 116), o que implicou desde logo um diálogo com todos os outros partidos de forma a conseguir formar um governo. No final das eleições, o Primeiro-Ministro António Costa anunciou que estava disponível para falar com todos os partidos à excepção do Chega, dado o carácter anti-democrático deste último.

O PSD (centro-direita) perdeu deputados e ficou-se pelos 79; o Bloco de Esquerda manteve exactamente os mesmos 19; o Partido Comunista Português (PCP) perdeu 5 deputados, registando um total de 12; os democratas-cristãos do CDS-PP foram os principais derrotados, elegendo apenas 5 deputados; e, por fim, o PAN (sincrético, isto é, diz-se fora do espectro esquerda-direita, embora tenha uma maior proximidade com a esquerda no Parlamento) aumentou a sua força política de 1 para 4 deputados.

Tendo em conta estes resultados, seria de esperar que a esquerda tivesse saído como vitoriosa das eleições. Porém, menos de um ano depois das mesmas o Livre já não tem a sua deputada (a primeira mulher negra cabeça-de-lista a ser eleita), depois de desavenças dentro do partido e de uma onda de difamação por parte da comunicação social, e o Chega é o partido com maior potencial de crescimento.

Além disso, depois de meses a afirmar-se como um social-democrata, o líder do PSD, Rui Rio, veio nas últimas semanas admitir que, caso o Chega modere o seu discurso (o que não vai acontecer), poderá convidar o partido de extrema-direita a formar Governo, na eventualidade de o número de deputados dos dois partidos superar a maioria absoluta. Para que os leitores brasileiros melhor percebam, é o mesmo cenário que o PSDB mostrar disponibilidade para se unir a Bolsonaro.

Há, ainda, a possibilidade de a PSD e Chega se juntarem os deputados do CDS, que, receoso de desaparecer do mapa – o Chega e a Iniciativa Liberal tiraram-lhe eleitores – também já colocou a hipótese de se juntar ao partido de extrema-direita, radicalizando, de resto, o seu discurso nos últimos tempos.

Por sua vez, o PS continua a colocar o socialismo na gaveta, juntando-se ao PSD e à direita “moderada” na maioria das votações de propostas no Parlamento, ao mesmo tempo que tem o apoio dos partidos de esquerda supostamente “radicais”, que preferem um governo PS a um governo de direita, embora tenham noção de que é um mal menor e não o ideal.


Pelo caminho, a esquerda perde força – poderá chegar o dia em que os seus eleitores se cansarão de tanto suporte a um Governo que não os representa – e a democracia fica quase dependente de um PS que serve como tampão para a direita, disponível agora para se radicalizar. Um PS que pode evitar uma maioria de direita, sim, mas também um PS que, usando esse argumento de “salvador da democracia”, poderá usar a esquerda para se perpetuar no poder e continuar o seu rasto de corrupção – que, tal como se verificou no Brasil com o PT, é o grande calcanhar de Aquiles dos partidos de centro-esquerda que chegam ao poder.

Sobre a coluna

A coluna Do outro lado do Atlântico é escrita por Daniel Fernando diretamente de Portugal.

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Daniel Fernando

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