No Brasil uma onda de violência vem crescendo assustadoramente, um grupo de falsos profetas, vem manipulando a fé de uma parcela de cristãos para implementar seus projetos de poder e influência política. Juntos eles cometem atrocidades que envergonharia o próprio Cristo. Esses falsos profetas usam os meios mais abjetos possíveis para incitar uma polarização macabra. Um exemplo que revoltou todos nós brasileiros, que respeitam as leis existentes, sejam católicos, evangélicos, candomblecistas, espíritas, judeus dentre outros, foi a criminalização da criança de dez anos grávida após ser estuprada pelo tio.


O Art. 128 do código penal garante o direito ao abordo em casos de estupro, logo o caso da criança estava enquadrado na lei, não caberia debate algum, muito menos tentativa de impedimento. Mesmo assim, um grupo de religiosos fundamentalistas agiu para criminalizar a criança. Para eles, a criança de 10 anos deveria seguir grávida, não importando a violência, o estupro, a perda da infância, a dor ou o desespero da menina; muito menos a lei. 

A polarização do ódio revelou-se nua, sem máscaras, sem proteção dos perfis falsos ou anônimos das redes sociais, eles se materializaram em braços erguidos que se diziam representantes de Cristo, aos gritos chamavam a criança de assassina.

Nessas horas o respeito à laicidade do Estado brasileiro é jogado para escanteio, de repente passamos a viver como se fôssemos um país de religião única, sem respeito às liberdades garantidas no Art. 5º de nossa Carta Magna, que, em seu inciso sexto, assegura a “liberdade de consciência e de crença”, sendo assim, por que esses grupos acham que podem definir nossos direitos baseados em sua crença religiosa, em sua ideologia, em seus arroubos fundamentalistas? É isso que precisamos pensar claramente.

Essa crescente de intolerância e violência religiosa é muito mais profunda que esse caso, mulheres estupradas têm vivido duas violências, uma o crime perverso cometido por seus algozes e a outra a violência emocional causada por esses grupos fundamentalistas. 

Quando falo que as questões são mais profundas, falo em relação aos ataques aos terreiros de candomblé, ao apedrejamento dos candomblecistas, a criminalização dos projetos de educação sexual nas escolas, tão importantes para que crianças como essa de 10 anos aprendam que é preciso denunciar se forem tocadas por pedófilos e estupradores.

Precisamos estar atentos, reforçar que esses falsos crentes e esses falsos profetas não são a voz dos evangélicos. Os verdadeiros evangélicos, os que respeitam a liberdade religiosa, as posições e o debate político, devem se levantar para proibir que lhes roubem a voz e tudo que eles verdadeiramente representam. Afinal, ninguém de bom caráter e boa índole deseja ser representado por charlatões sentados em seus tronos de barro. Os verdadeiros cristãos devem se revoltar ao ver o nome de Cristo sendo usado por politiqueiros mesquinhos, sem escrúpulos, verdadeiros comerciantes da fé.

Esses fundamentalistas são as peças manipuláveis dos falsos profetas que ocupam cargos públicos, alguns deles eleitos pelo povo, o mesmo povo que em seguida é perseguido e coagido.

A criança de 10 anos foi coagida a todo tempo. Mesmo dentro do ambiente hospitalar a ética foi deixada de lado. O desejo da criança foi suprimido pela ideologia religiosa que cegava a todos que a perseguiam. O modus operandi é sempre o mesmo: criminalizar e desumanizar a vítima, indo totalmente contra o que semeou o próprio Cristo – o amor ao próximo. 

Felizmente uma rede de proteção a favor da criança se fortaleceu nas redes sociais e na frente do Hospital em Recife- PE, dessa vez com final feliz. 

Esse caso serve de alerta para que percebamos como a polarização do ódio está presente em nossas vidas. As redes sociais, de maneira efetiva, contribuem para esse isolamento em polos, precisamos estar conscientes acerca disso. Tudo o que pesquisamos e consumimos em nossas redes sociais nos é “oferecido” pelos algoritmos do sistema. Sendo simplório na explicação, é esse algoritmo que faz o cruzamento do que temos pesquisado com o que está disponível, nos direcionando para bolhas temáticas. Em pouco tempo nossas redes são inundadas por aqueles assuntos que pesquisamos e assim são criadas nossas bolhas com verdades absolutas. 

Geralmente nos armamos com notícias fragmentadas, tantas vezes fora do contexto e partimos para “batalha” de narrativas. Esquecemos a importância de escutar novas opiniões, de interpretar um fato lendo e vendo diferentes produtores de conhecimento, que estejam em polos diferentes. As redes sociais, em especial o Facebook, nos entrega de bandeja o perfil de quem nos conforta e diz o que queremos ouvir. 

Para pensar brevemente o quanto isso tem sido perigoso para a sociedade de modo geral, pensemos em um pai autoritário que não permite seu filho frequentar a pré-escola porque ouviu de um especialista nas redes sociais que é perda de tempo e de dinheiro enviar uma criança para pré-escola. Por mais que sua esposa tente argumentar, trazer outras opiniões de especialistas, o marido diz que não pretende ouvir nenhuma outra opinião. Para o pai o assunto está resolvido. Para desespero da mãe, ela descobre que o tal “especialista” não é da área da educação, não tem filhos, ou muito menos tem argumentos baseados em pesquisas cientificas. O tal especialista é alguém que ficou famoso na internet porque diz o que muita gente gostaria de ouvir. Pais como esse do exemplo amplificam a cultura da burrice em meio ao caos causado pela polarização do ódio. 

É sobre isso que precisamos estar atentos. A respeito de nossa contribuição na construção de sujeitos autoritários que só aceitam dialogar se você concordar absolutamente, irredutivelmente com tudo o que ele afirmar.

Escutar opiniões de todos os polos é importante, ler diferentes veículos de informação mais ainda. Saber das leis que amparam os direitos, como a que garantiu o aborto legal à criança de 10 anos, é fundamental na formação de opinião.

As sociedades evoluem, nós podemos sim mudar de opinião, reconhecer que erramos em uma determinada avaliação, assumir nossos erros é um ato grandioso.

Em uma sociedade livre, não autoritária, todos nós podemos fazer isso. Fure a bolha construída pelo algoritmo e permita uma análise fora de sua área de conforto, cheque a informação, a fonte, o interesse oculto, duvide!

Sobre a Coluna

A coluna Brasilis é publicada sempre às quintas-feiras.
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Alexandre Pereira

Eu sou Alexandre Silva, natural de Alagoas, mas resido em Salvador – BA, terra que tem me dado “régua e compasso” para seguir firme e forte, na luta por uma sociedade mais igualitária. Ainda sobre mim, sou Graduando em Humanidades pela Universidade Federal da Bahia, curso que me desafia a enfrentar as problemáticas de uma sociedade multifacetada, segregada por uma profunda desigualdade social. Nossos textos buscarão provocá-los a problematizar questões que afetam nossas vidas, mesmo que pensemos que não, tudo está interligado, tudo nos diz respeito, se assim não fosse não seriamos uma sociedade. Obrigado pela companhia e vamos problematizar!

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