Calma! Esse título é pura ironia. Recentemente,
publiquei um vídeo em uma rede social dizendo que as mulheres sentem medo de
assédio no transporte público. Meu vídeo era de reação a um outro vídeo em que
uma moça sentava ao lado de homens e colocava a mão na perna deles, justamente
para mostrar que eles ficavam “procurando a câmera” porque só poderia ser ”pegadinha”.
Alguns olhavam a moça incrédulos, mas nenhum ficou com medo, pois essa é a grande
diferença do que acontece conosco, mulheres, na realidade. Foi só isso que eu
disse, que a diferença é que, apesar de os dois casos configurarem assédio, as
mulheres sentem MEDO. Não ofendi em momento nenhum os homens nem ninguém,
mas... Pronto! Lá veio uma enxurrada de palavras cruéis, machistas e até
misóginas. Eis exemplos do que me disseram: “louça”, “depósito de esperma”, “quero
ver coisas engraçadas na rede social e não mulher falando de assédio”, “nem
todas as mulheres merecem respeito, só aquelas que se dão ao respeito”.
E o que uma
mulher precisa fazer e ser para que toda a sociedade considere que ela merece
respeito? O de sempre: usar roupas discretas, não ficar com muitos homens, não
ser lgbtqia+, ser mãe, dar conta da casa, do trabalho, da aparência física,
falar sem gritar, não perder jamais a classe e a compostura, saber perdoar, ter
talentos, ser vaidosa, não se meter em política, em futebol ou em quaisquer outras
coisas “de homem”. Se você está lendo isso e pensando “nossa, mas não é mais
assim”, saiba que eu também estive iludida, mas as pessoas preconceituosas que
estavam apenas adormecidas começaram a ganhar voz outra vez. Estamos regredindo.
A dor dos outros é piada, as desgraças, fake news. A inversão de valores como o
respeito e a empatia se faz cada vez mais presente.
É triste que
precisemos ser rebaixados como militantes asquerosos quando simplesmente falamos
sobre uma realidade triste como a dos assédios. Sim, porque mulheres que andam ou
andaram durante algum período de suas vidas de ônibus ou metrô sabem do medo
que sentem quando alguém fica encarando. Sentem medo de que o sujeito desça no
mesmo ponto que o seu, medo de violência sexual etc. Não deveriam todos ficar revoltados com o fato de isso ser algo “corriqueiro” ainda, em 2020?
O Brasil está
entre os 5 países que mais violentam mulheres no mundo, mas certamente querer civilidade
e humanidade seria esperar demais de uma população da qual uma grande parcela não
sabe diferenciar discurso de ódio de opinião. Entrando na terceira década do
século XXI ainda não entendem que o corpo da mulher JAMAIS será um convite
ainda que ela esteja completamente nua. Nós ainda não somos livres. Mas para
que falar de preconceito agora que estamos enfrentando algo tão grave e que
assola o mundo inteiro como a Covid-19, não é mesmo? Acontece que estamos em agosto
e há milhões que ainda não acreditam na pandemia, não se informam, nem estudam
e apenas reproduzem. Repetem como robôs e papagaios meia dúzia de palavras de
um repertório muitíssimo limitado, gritam ao mundo inteiro a própria
ignorância.
Sobre a Coluna
A coluna Voz de Mulher é publicada sempre às segundas-feiras.
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