O título deste artigo de estreia da minha coluna, também com o mesmo nome, tem uma lógica muito interessante. Me chamo Pablo Barbosa de Oliveira, sou formado em Museologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e foi lá que escutei: "O mundo é um museu". Era o primeiro semestre do curso, uma professora jovem e com muito entusiasmo fala a frase para uma sala cheia de calouros. Esta expressão me quebrou. Por alguns instantes eu sabia que era aquilo que queria, eu almejava o mundo ou o museu, não sabia separar um do outro mais.


O interessante de tudo isso está na construção da museologia. A profissão de museólogo é recente, surge numa França pós-revolução de 1789. Claro, já existiam pessoas que cuidavam de coleções e tudo mais, porém, da forma que conhecemos hoje, foi após a Revolução Francesa e a ascensão de museus nacionais, que buscavam a construção de identidade nacional. A museologia e o estudo sobre as práticas de um museu foi mutando e no século XX se tornou mais social, também na França, com museus urbanos e fora de grandes prédios históricos. O contato popular se fez mais presente na área.

Para complementar o conhecimento do que é museu, eu cito a Lei 11.904 de 14 de Janeiro de 2009. Nela temos uma definição moderna do que é um museu segundo leis brasileiras:

Consideram-se museus, para os efeitos desta Lei, as instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento.

Chamo a atenção do leitor para o curioso fato que diz que museus são locais que preservam, pesquisam e comunicam, isso abre um abre um grande leque de locais que possam ser museus. Foi, assim como eu, que professora contou toda essa história, e para uma sala, já em choque, ela complementou:

- Sabe o que é um museu também?

Ninguém sabia mais, talvez a resposta mais óbvia seria o mundo. Não, ela disse algo que foi além, ela classificou como museu um zoológico. Sem entrar nas questões éticas e morais que um zoológico se submete, ela falou sobre ele como uma instituição que tem acervo (animais), que preservam com comida, vacinas e moradia e comunicam com pesquisa e a exposição dos animais, fazendo como diz a lei, ele comunica, preservar e pesquisa. Naquele momento não sabia mais o que era mundo ou um museu.

Foi ali que aquela professora plantou uma semente. Ser museu diz muito mais do que pesquisar, comunicar e preservar. Estar em uma instituição é ter evidência, é ter reconhecimento. Museu são locais que vão além de um prédio histórico construído por homens ricos. Museus vão além de obras de arte roubadas de civilizações antigas. Os museus refletem uma sociedade. Mostram os valores que ela preza, por motivo que são feitos por pessoas do nosso cotidiano. Toda instituição é composta por escolhas, sejam éticas ou não.

Pensar nos museus e no mundo é algo que está estritamente ligado. Portanto, quando uma comunidade se junta e forma um museu de bairro ou que pesquisa e pede pela conservação de um patrimônio ao Estado, ela está fazendo museologia.

Nos últimos dias eu revisitei alguns projetos museológicos. No ano de 2018 eu me formei em Museologia e meu tema do Trabalho de Conclusão de Curso foi a Vila do IAPI, complexo habitacional construído aos industriários de Porto Alegre fundado no ano de 1953. Ainda hoje a região permanece quase que inalterada na Zona Norte da cidade. Eu me criei lá. Foi uma homenagem ao local da minha infância e também aos meus familiares que residem no bairro desde antes mesmo da fundação oficial dele. O local proporcionou os encontros dos meus avós e dos meus pais que se conheceram e formaram família lá. Talvez se o patrimônio não existisse, eu não existiria.

Eu quis colocar à prova que o mundo era museu. No projeto, criei um museu de percurso onde o bairro seria a estrela. Então numerei oito pontos e fiz o trabalho museológico de pesquisar e buscar a conservação, além de comunicar o trabalho por meio da universidade.

Em razão da pandemia e do meu desemprego, eu resolvi testar o projeto. Se "o mundo é um museu", as redes sociais também seriam. Foi então que criei o “Museu de Instagram da Vila do IAPI”, iniciativa totalmente virtual surgida a partir de uma análise de que as mídias digitais não passam de uma grande exposição virtual, em que somos nós os curadores. Explico: na minha visão produzimos o acervo (fotos ou vídeos), conservamos no celular ou cartão de memória, até mesmo tratamos com edição e filtros, além de elaborarmos uma espécie de pesquisa (principalmente para quem produz conteúdo) e, por último, comunicamos por meio das postagens do nosso acervo pessoal. Assim, somos curadores de exposições das nossas vidas, e que melhor lugar para isso que o Instagram? Foi lá que criei o projeto e onde aqueles oito pontos do TCC se tornaram oito fotos com legendas que falam sobre a importância da história da Vila do IAPI, o que tornou a exposição um percurso virtual que você faz através dos seus dedos.

Enfim, fez sentido aquela frase do primeiro semestre. O mundo é um museu, basta torná-lo um. Nesta coluna pretendo apresentar temas relacionados a museus, patrimônio, cultura e memória.

Para contato tenho meu Instagram:

@_pablobarbosa

Se quiser conhecer meu projeto basta buscar no Instagram:

@museudeigdoiapi.

Abraços e até a próxima.

Sobre a coluna

A coluna O Mundo é um Museu é publicada sempre às sextas-feiras.
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Pablo Barbosa de Oliveira

Sou Museólogo e Escritor. Escrevo sobre cultura na Revista Pauta e no Portal Jovens Cronistas. Criador do Museu de Instagram do IAPI. Fã de Fantasia e Sci-fi.

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