E novamente chegou a noite do dia 28 de novembro. Alguns talvez já tenham esquecido a data, mas para quem viveu de perto, e se apegou tanto à história da Chapecoense, é difícil deixar passar em branco qualquer coisa no mês de novembro. Hoje, completam-se quatro anos da maior tragédia esportiva brasileira, um voo que nunca deveria ter acontecido, e que pôs um fim precoce à uma time de futebol tão representativo e marcante para aqueles da sua região. O texto de hoje não é uma análise, tampouco quer procurar respostas ou justificativas para o acontecido. É apenas um tributo, algo como uma homenagem de alguém que viveu momentos inesquecíveis com a Chapecoense de 2016, e que se sente imensamente grato pelo privilégio que foi acompanhar aquela jornada. 

Foto: AFP


A história da Associação Chapecoense de Futebol sempre foi muito modesta. Fundado em 1973, o clube teve um breve período de sucesso nos seus primeiros anos, para depois voltar ao anonimato. Apenas próximo da virada do milênio é que as coisas voltaram a funcionar; mas não por muito tempo. Uma grave crise financeira quase levou o clube à falência no início dos anos 2000. Foi quando a ideia da reformulação veio à tona, e o clube decidiu procurar novos caminhos. 

Fechada com empresários e gente da sua terra, a Chapecoense iniciou seu processo de retomada. Vieram títulos catarinenses, acessos em sequência e a tão sonhada vaga na Série A. Me recordo perfeitamente de, com 14 anos naquela época, ficar imaginando o quão incrível seria ver alguém tão distante da capital jogar a primeira divisão. 

Foi muito bom. A Chapecoense fez Santa Catarina orgulhosa, e colocou campanhas admiráveis no papel. Escapou do rebaixamento com certa autoridade em praticamente todos os anos, e ainda por cima conseguiu estrear em competições continentais. Em 2015, parou no gigante River Plate da Argentina. Mas caiu em pé, vencendo em Chapecó. Em 2016, levou seu nome, o nome da sua cidade, a um patamar antes somente possível nos sonhos. 

Da maneira mais épica possível, os adversários foram sucumbindo. Primeiro o Cuiabá, que vencia no agregado por 0-2 e levou a virada para 3-2. Depois o Independiente, na noite mágica dos pênaltis. Na sequência o Junior Barranquilla, que saiu na frente na Colômbia mas não foi páreo em Chapecó. Os 3-0 na noite chuvosa em solo catarinense foram marcantes para qualquer um, e serviram de credencial para o grande jogo do ano: a semifinal, contra o San Lorenzo, atual campeão da Libertadores. 

O jogo de ida foi na Argentina, tenso como nenhum outro até então. No final, o empate em 1-1 era positivo, afinal a Chapecoense só precisaria segurar o 0-0 para garantir a vaga na decisão. Era hora então do jogo decisivo, da última partida na Arena Condá por aquele campeonato, já que o regulamento da Conmebol forçaria uma possível decisão a ser disputada em um estádio maior. Era hora do time mais raçudo que eu vi jogar derramar cada gota de suor por sua torcida. E assim o foi. 

Com o destino do seu lado, a Chapecoense se segurou no limite frente os campeões da América. O resultado de 0-0 só foi garantido no último lance, com a defesa milagrosa do goleiro Danilo em cima da linha. Com o pé. Aos 49 minutos do segundo tempo. 

Não houve um torcedor da Chapecoense que não teve um mini ataque cardíaco naquele fim de jogo. Da mesma forma, não houve um torcedor da Chapecoense que não foi dormir sorrindo, orgulhoso pelo feito que seu time havia conquistado. Eufórico, por ter presenciado o primeiro time catarinense a chegar numa final continental. Em sua segunda participação naquela competição. Maravilhado, por ter visto a história sendo escrita, e bem diante de seus próprios olhos. 

Alguns dias depois, a delegação da Chapecoense partira para São Paulo, onde enfrentaria o Palmeiras pelo Brasileirão. O time jamais voltaria para casa. 

A derrota por 1-0 frente os paulistas decidiu o título para o adversário, e construiu ali nossas últimas imagens daquela equipe vencedora dentro de campo. Logo após o resultado, a Chapecoense partiu para uma longa viagem rumo à Colômbia, onde disputaria a partida de ida da final da Copa Sul Americana, contra o Atlético Nacional de Medellín. 

Existem algumas pessoas que tem medo, receio ou desconforto em dedicar o dia 29 de novembro à memória daqueles que se foram. Já conheci gente que prefere tentar esquecer, seguir em frente como os outros dizem. Sim, as páginas da vida jamais voltam para o início; o eterno rio dos acontecimentos segue seu fluxo, com águas novas banhando toda santa manhã. Mas, todo ano, eu ouso esperar pela noite do dia 28 de novembro. Porque é nessa noite que eu sinto tudo aquilo de novo. 

A felicidade pelo gol de William Thiego contra o Junior Barranquilla. A explosão no gol da Chapecoense no Nuevo Gasómetro. A loucura, incredulidade e o êxtase dos minutos finais do 0-0 vs. San Lorenzo. A magia que foram as noites sul americanas em Chapecó.

A tristeza pela maneira como tudo isso nos foi tirado é grande; enorme. Mas tão grande quanto é a gratidão por ter vivido junto com o melhor time da história da Chapecoense. As palavras hoje não servem para curar a dor daqueles que perderam seus pais, filhos, irmãos, amigos e parentes naquela tragédia; não servem também para tampar o buraco deixado numa torcida que tinha no futebol a sua maior alegria regional; e infelizmente não tem a capacidade de transmitir a quem não viveu aqueles momentos toda a felicidade que a Associação Chapecoense de Futebol nos proporcionou em 2016. As palavras hoje são uma lembrança, uma singela forma de homenagem àqueles deram sua vida pelo sonho de uma comunidade. 

Gratidão por todos os momentos que vocês proporcionaram a nós. Eles são inesquecíveis. Espero do fundo da minha alma que todos desfrutem do descanso eterno. 



Se inscreva em nossos canais no Youtube: TV Jovens Cronistas e confira nosso novo canal exclusivo de esportes, o JC Esportes e nossos conteúdos esportivos, com destaque para transmissões ao vivo, dê sua opinião que é fundamental, seu like e divulgue para os amigos! 


Curta nossa página no Facebook: Jovens Cronistas!, siga-nos no Insta: @jcesportess e @jcronistas



Compartilhe:

Ricardo Machado

Um sonhador, que anseia por deixar sua marca no mundo. Apaixonado por automobilismo, futebol, letras e pelas tardes frias e chuvosas de inverno.

Deixe seu comentário:

0 comments so far,add yours