Olá fãs da velocidade! Estamos de volta nesse fim de semana para comentar mais uma corrida da Fórmula 1, dessa vez o GP do Bahrein. A primeira das duas provas em sequência a serem realizadas no circuito de Sakhir ficou em segundo plano, já que o domingo foi marcado pelo fortíssimo acidente de Romain Grosjean ainda na primeira volta da corrida. O piloto francês bateu forte, chocando-se diretamente contra o guardrail. O impacto foi de tamanha força que o Haas #8 de Romain se partiu ao meio, pegando fogo instantaneamente. De maneira quase milagrosa, Grosjean sobreviveu a mais de 20 segundos entre as chamas, saindo do carro pelas próprias forças e apenas com algumas queimaduras nos membros superiores e inferiores. 

A corrida sofreu uma longa paralisação, sendo retomada mais de uma hora depois. Na pista, Hamilton foi absoluto. Ao ver seu companheiro Bottas sofrer com um furo de pneu, o inglês teve como único adversário a Red Bull de Max Verstappen, que não foi capaz de chegar ao mesmo nível da Mercedes #44. Vitória de número 95 para Lewis, no GP que ainda viu um fim de prova dramático: na terceira posição durante toda a corrida, Sergio Pérez sofreu uma falha catastrófica de motor com menos de 5 voltas para o fim! A quebra alçou Alex Albon ao terceiro lugar, beneficiando também a McLaren na luta pelo terceiro lugar no mundial de construtores. Confiram a nossa análise da corrida a partir de agora.

Foto: Shutterstock


Na pole position mais uma vez, Lewis Hamilton largava como o grande favorito para mais uma vitória nesse fim de semana. O inglês mostrou-se novamente superior ao seu companheiro Valtteri Bottas na sessão de classificação, e ainda por cima tinha a vantagem de largar do lado limpo da pista, enquanto Valtteri alinhava fora do traçado ideal. Na terceira posição, era Max Verstappen que aparecia como a maior ameaça nos momentos iniciais do GP. Se valendo de uma Red Bull poderosa no setor 2, o holandês dava pinta de que arriscaria uma estratégia diferente para ter chance de vitória, ainda de olho na possibilidade de ser vice-campeão mundial. 

Hora de largada, e a melhor aderência no lado limpo do circuito fez toda a diferença. Hamilton teve uma boa partida, enquanto Bottas fez totalmente o oposto. O finlandês caiu para o sexto lugar ainda nos primeiros metros, vendo Hamilton e Verstappen desaparecerem nas primeiras posições. Checo Pérez se aproveitou da situação para assumir a terceira posição enquanto o pelotão se dirigia para a curva 3. Foi então que o grande momento da corrida tomou lugar. 

No meio do pelotão, Norris acabou encaixotado entre outros dois carros. O inevitável toque deixou Lando com a asa dianteira danificada, e gerou uma reação em cadeia com vários pilotos escapando e precisando desviar do traçado habitual. Logo atrás desse bolo vinha Romain Grosjean, que viu um espaço se abrindo no lado interno da pista e tentou mergulhar. Só que o francês julgou mal a manobra e não notou a presença de Daniil Kvyat naquela posição. Grosjean tocou com a roda traseira direita na roda dianteira esquerda do russo, e foi lançado de frente para o guardrail interno do circuito. 

Por estar em alta velocidade, a estrutura não aguentou o impacto e cedeu. O buraco aberto no guardrail acabou rasgando a Haas do francês, que se partiu ao meio exatamente na região que abriga o tanque de gasolina. O resultado foi uma grande bola de fogo, que ardia envolvendo um carro quebrado ao meio e com o piloto praticamente preso em baixo de parte do guardrail. 

Confesso que, nesse momento, não consigo decidir o que é mais desesperador: o peso de descrever a cena ou a tensão de assisti-la na TV. Fato é que, ao ver aquelas chamas enormes, todos os telespectadores ficaram apreensivos. No meu caso, a reação foi mais próxima de choque do que qualquer outra coisa. Passei alguns instantes olhando para a tela, sem esboçar nenhuma reação, até que aos poucos o desespero de uma possível fatalidade consumia meus pensamentos. 

Para o alívio de todos, a transmissão buscou imagens de Grosjean já no carro médico, consciente e conversando com os doutores. Alguns minutos depois, os replays do momento exato do acidente revelaram cenas dramáticas, com Grosjean pulando fora de um carro envolto por chamas, auxiliado por médicos e comissários de pista que chegavam com extintores de incêndio. Momentos de terror e agonia, que há tempos não eram vistos em nosso esporte. 

Segundo um dos médicos que atenderam o local, foi o uso dos extintores de incêndio que abriu um pequeno espaço entre as chamas, possibilitando a Grosjean a janela necessária para conseguir enxergar uma saída. Aliado a isso, o halo foi fundamental para o salvamento do piloto. Segundo vários colegas, Grosjean poderia ter sido degolado pelo instrumento caso não contasse com a proteção reforçada na cabeça (algo que aconteceu com o também francês François Cevert nos anos 70), ou ainda teria ainda mais obstruída sua saída do carro, o que poderia dificultar seu caminho para fora das chamas. 

Foto: Reuters

Mais do que aquilo que deu errado, acredito que os procedimentos acertados durante o acidente são os fatores que realmente devem ser exaltados. A batida foi um tanto incomum, num lugar completamente incomum, e principalmente, por falha humana. Foi Grosjean quem atravessou a pista, ignorando a presença de outro piloto no caminho. Em contrapartida, a velocidade com que o resgate chegou ao local do acidente, bem como a conduta dos fiscais, e de maneira muito contundente o papel que os dispositivos de segurança exerceram no ocorrido foram simplesmente fenomenais. A resistência do macacão, que aguentou quase meio minuto sob fogo intenso; e claro, a capacidade do Halo de manter o habitáculo do piloto livre, sem peças para atrapalhar sua saída do cockpit ou mesmo atingir sua cabeça foram os fiéis da balança que salvaram a vida de Grosjean nesse domingo. Segundo o próprio Romain, seria impossível conversar de novo sem que estes fatores estivessem presentes junto consigo. 

Para finalizar o assunto, gostaria de compartilhar a minha perspectiva sobre os momentos que sucederam o acidente deste domingo. Como qualquer fã de Fórmula 1 que se interessa por história, é natural que eu já tenha me deparado com acontecimentos trágicos pesquisando sobre a categoria. Desde as histórias mais conhecidas como a Gilles Villeneuve e Didier Pironi, até os casos mais alternativos como a morte de Roger Williamson em Zandvoort, acidentes graves estão em nosso cotidiano, e não são uma novidade para quem acompanha esse esporte tão de perto. Mas, ao vivo, é diferente. 

Mesmo com Grosjean vivo, consciente, e com imagens dele estando relativamente bem, eu simplesmente não consegui relaxar completamente. Ainda que a transmissão da Globo tenha feito um excelente papel, deixando o transcorrer da corrida bem mais leve, o choque com as imagens de um piloto saindo as pressas de um carro em chamas foi tremendo. Uma espécie de lembrete para nós, a geração mais jovem de fãs da categoria, que desconhece a sensação de estar frente a frente com algo tão abrupto como a morte. Ainda agora, ao escrever esse texto, tudo parece ainda meio fora de lugar na minha mente, mesmo que nesse momento possa finalmente estar mais relaxado e aliviado. O que aconteceu hoje foi sem dúvidas histórico, um acontecimento que poderemos contar a nosso filhos e netos. E que, graças a Deus e a segurança, não teve um final de tragédia. 

A corrida ficou paralisada por mais de uma hora devido aos reparos necessários na zona de guardrail que foi atingida. Depois desse tempo, os pilotos voltaram a alinhar no grid de largada para uma nova partida, dessa vez considerando a ordem do pelotão no momento em que a bandeira vermelha foi acionada. Hamilton seguia na ponta, mas agora com Verstappen em segundo e Pérez em terceiro. Valtteri Bottas teve relativa sorte, partindo do quarto ao invés do sexto lugar. A corrida recomeçou, e na parte da frente do pelotão o filme foi basicamente o mesmo. Hamilton teve outra partida exemplar, conservando o primeiro lugar. Verstappen acabou ficando do lado ruim da pista, e precisou mais se defender de Pérez do que atacar Hamilton. Foi apenas um pouco mais atrás na ordem que novidades apareceram. 

Desesperado por pontos, Lance Stroll acabou por se envolver em mais uma batida, comprometendo inteiramente a sua corrida. O canadense tocou com Daniil Kvyat., enroscando sua roda traseira na roda dianteira do russo. A manobra fez com que a Racing Point #18 capotasse, parando de cabeça para baixo em mais uma cena rara no GP barenita. Nesse caso porém, nenhum problema com a segurança do piloto. Stroll saiu tranquilamente do carro, mas apesar do bom estado físico não tem mais motivos para comemorar. Lance segue sem conseguir bons resultados desde o pódio no GP da Itália em Monza, acumulando abandonos por infortúnios e desempenhos um tanto questionáveis. Momento péssimo na temporada do canadense, e o início de um domingo doloroso para a equipe cor-de-rosa. 

O acidente trouxe a pista o safety car, adiando mais uma vez o início da ação no circuito de Sakhir. Algumas voltas depois, o carro de segurança finalmente recolheu e as primeiras voltas a toda velocidade foram completadas! Hamilton e Verstappen logo se distanciaram do pelotão, deixando claro que os dois estariam por mais aquele domingo em um outro patamar. O terceiro lugar permaneceu com Pérez, que tinha Alex Albon como concorrente mais próximo. Isso porque Bottas, que ocupava a quarta posição antes, acabou coletando detritos espalhados pela pista nas redondezas do local onde Romain Grosjean acertou o guardrail. Isso causou um furo de pneu, que obrigou Valtteri a um pit-stop muito prematuro, o jogando para o fim do grid. Mais uma boa dose de azar para o competidor, que se viu prejudicado nas duas últimas etapas do campeonato, e deve estar rezando para que 2020 chegue logo ao seu final. 

A medida que as primeiras voltas transcorreram, as estratégias de prova começaram a ganhar forma. E dessa vez tudo seria um pouco diferente: devido ao asfalto extremamente abrasivo e as altas temperaturas do circuito, não teríamos uma mas sim duas rodadas de pit stops. A maioria dos pilotos decidiu por dois jogos de pneus médios, antes de trocar para o composto duro, finalizando assim a corrida. Dentre as estratégias alternativas, Carlos Sainz da McLaren foi o que mais se destacou. Saindo do décimo-quinto lugar após um problema na classificação de sábado, o espanhol decidiu ir na contra-mão de todos, largando com os pneus macios. 

Se valendo de um primeiro stint muito forte e de várias ultrapassagens, Sainz conseguiu recuperar terreno, figurando dentro do top 10 ainda na primeira metade da prova. O bom desempenho do espanhol era complementado pela excelente corrida de seu companheiro, Lando Norris. Largando mais à frente e seguindo a estratégia habitual, Lando foi capaz de superar os adversários do meio do pelotão, colocando-se logo atrás de Albon já na medida em que a prova se encaminhava para seu final. 

Ambas as exibições dos pilotos laranja foram pontos de destaque nesse domingo. Justamente nos momentos decisivos do campeonato, a McLaren foi capaz de fazer as coisas acontecerem, extraindo o máximo de rendimento possível do carro e aproveitando as oportunidades oferecidas. Na luta acirrada pelo terceiro lugar no mundial de construtores, o GP do Bahrein pode ser o ponto decisivo da temporada. E nesse quesito, o time de Woking saiu na frente. 

Mantendo o foco em destaques positivos, outro que merece nossa atenção hoje é Pierre Gasly. O francês da AlphaTauri, que faz uma temporada espetacular, deu mais uma prova de sua habilidade nesse fim de semana. Andando rápido durante todos os treinos, Pierre ficou perto de até mesmo um top-5 na classificação. Durante a corrida, o francês decidiu ousar, arriscando uma estratégia incomum de apenas uma parada. Com os pneus quase no seu fim, Gasly conseguiu levar o carro em ritmo competitivo até o final, sendo ajudado pelo safety-car causado por Pérez nas voltas finais. A sexta posição não muda muito o cenário do campeonato, seja pra piloto ou para a equipe, mas serve como mais um lembrete do que Gasly é capaz de fazer, e do quão produtivo vem sendo o seu 2020. 

Se você está atento, notou a menção ao safety-car de Checo Pérez. Pois é, o lance acabou sendo o momento de maior tristeza do fim de semana. Depois de uma corrida sólida e sem nada a questionar, Pérez vinha para um excelente terceirop lugar, derrotando na pista a Red Bull de Alex Albon. Só que o motor Mercedes de Checo resolveu abrir o bico, logo quando faltavam apenas 3 voltas para o final... De maneira cinematográfica, fogo surgiu na traseira eda Racing Point #11, que se arrastou mas não foi capaz de completar a corrida. Duplo abandono para a futura Aston Martin, que vê mais longe do terceiro lugar de construtores. 

Foto: FIA


A RP até pareceu ser mesmo o melhor carro nessa briga, mas os erros e as falhas mecânicas, além da punição de 15 pontos pela confusão envolvendo a cópia da Mercedes de 2019, devem ser determinantes para o time que precisa de uma reviravolta nas duas últimas etapas. O objetivo ainda é possível, apesar de muito mais difícil, porém não podemos perder o foco: a grande fase da equipe deve começar ano que vem, com o processo de renovação que se inicia com a chegada de Vettel e a mudança de nome para Aston Martin. Se o time aprender com os erros desse ano, certamente teremos mais um competidor com fôlego para 2021. 

Por fim, é hora de citar os atores que ainda não apareceram em nosso texto. A Renault, depois de um sábado promissor, acabou tendo dificuldades no domingo. Talvez por problemas no tráfego, mas o fato é que a equipe jamais teve ritmo para incomodar a McLaren, ficando muito aquém de quem almeja o terceiro lugar nos construtores. A Red Bull conseguiu, através de Max verstappen, se tornar uma sombra persistente no caminho de Lewis Hamilton. Apesar disso, o inglês jamais deixou dúvidas sobre sua posição. Com a tradicional vantagem de 5 segundos estabelecida, Hamilton controlou a prova o tempo inteiro, faturando mais uma vitória para sua conta pessoal. 

Mesmo com o campeonato já decidido, Hamilton parece não ter perdido o foco nem sucumbido a distrações. Com mais um desempenho irretocável, Lewis rumou para uma nova vitória, e segue reescrevendo o livro dos recordes da categoria. O bolão agora é para ver até onde vai essa superioridade jamais vista nos tempos recentes. 

Confira a classificação do GP do Bahrein:



Bom galera, por hoje é só. Fugimos um pouco da dinâmica normal dos textos pois o tempo anda curto, e também porque o dia de hoje foi muito específico. As imagens do acidente ainda me espantam, mesmo depois de tantos replays, e acho que vai demorar um tempo pra entendermos o quão perto estivemos de uma tragédia na Fórmula 1. 

Volto na semana que vem com o GP de Sakhir, no mesmo circuito de hoje porém com um traçado bastante inovador. Abraço a todos e até lá. 



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Ricardo Machado

Um sonhador, que anseia por deixar sua marca no mundo. Apaixonado por automobilismo, futebol, letras e pelas tardes frias e chuvosas de inverno.

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