A História da humanidade não é luta de classes, é a história dos horrores, embora não seja apenas isso” (Cornelius Castoriadis).



Neste maravilhoso mundo novo em que vivemos, que se centra no consumo de produtos, na sua grande maioria inúteis e que serão descartados em pouco tempo, a maior batalha que está sendo travada muitas vezes passa despercebida, ou foi naturalizada: a do patrão contra os empregados.

Suprimindo aqui análises mais amplas como a dominação por parte das corporações mundiais na figura de suas marcas, numa disputa por dinheiro, poder e colonização cultural [1] , quero trazer as relações imediatas que tratam da realidade material das camadas que fazem a “roda girar” (o círculo nem tão virtuoso do capitalismo): os proletários (ops!), os trabalhadores.

As (im)possibilidades de atuação em um mercado que encolhe a cada dia jogam uma grande parcela das camadas economicamente ativas na informalidade, associadas a uma reforma trabalhista seguida de uma reforma da previdência (que tinham como propaganda central ampliar postos de trabalho) e somadas ao desenvolvimento tecnológico (que tem como slogan a “quarta revolução industrial”) [2], trazem como resultado (não esquecendo da crise econômica e da pandemia) mais de doze milhões de desempregados até este momento [3].

Esta realidade vem acompanhada de um (des)governo que tem como centralidade o desmonte do Estado, com políticas privatistas, antiecológicas, desrespeitando acordos internacionais e conquistas de grupos sociais, numa tentativa hercúlia de “moralizar” as relações com uma gramática centrada na violência associada a uma agenda neoliberal nefasta.

Mas e os movimentos sociais e as centrais sindicais, onde estão?

Enquanto a popularidade do impostor que está na cadeira da presidência cresce, devido ao auxílio emergencial e à liberação de parte do FGTS (que é dinheiro do próprio trabalhador), as mobilizações das representações dos trabalhadores permanecem pueris, salvo alguns atos isolados de categorias em períodos de dissídio coletivo.

Quando se desenhará um cenário propício para uma luta unificada? Será que já não passou da hora?

Historicamente, as mobilizações de trabalhadores no país criaram possibilidades para avanços no que trata de assuntos referentes a direitos das categorias trabalhistas, ora de um grupo, ora coletiva.

Para Souto Maior, “a greve não é um modo de solução de conflitos e sim uma forma pacífica de expressão do próprio conflito” […], trata-se “de um instrumento de pressão, legitimamente utilizado pelos empregados para a defesa de seus interesses” [4]. No entanto, nos últimos anos, este direito à greve vem sofrendo com processos de judicialização, na tentativa de coibir a mobilização de categorias que poderiam influenciar uma ação ampla, numa possível greve geral.

As possibilidades de ampliar uma luta para barrar ataques ou ampliar direitos, nessa realidade que vivemos, passa pela organização das categorias. Temos em solo nacional, até o momento, nove Centrais Sindicais [5], e, mesmo assim, a teoria nunca passa à prática.

A descrença nas instituições, de modo geral, pode ser percebida na queda de sindicalização (que foi de 11,2% em 2019) [6], associada a um momento pandêmico, que nos joga em uma “impossibilidade” de atuação coletiva, mesmo que nosso individualismo negue sua existência, na ilusão de poder “gozar a vida” (praias lotadas, festas particulares, etc), tendo como resultado um engajamento pífio, associado a uma preguiça de lutar por melhores condições, na eterna espera de um messias salvador.

Acredito que já passou da hora de os trabalhadores fazerem política e não política partidária. Somente admitir o que o Prussiano nos alertou sobre nos unirmos pode ser insuficiente neste momento, e talvez devamos pensar naquilo que Weber nos diz: a jaula de aço, que nos dá esmolas, não possui trancas.


Texto revisado por Adriana Alaíde Sühnel dos Santos.


Referências

[1] Klein, Naomi. Sem logo. Rio de Janeiro: Record, 2002.

[2] SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. Edipro, 2019.

[3] IBGE <https://www.ibge.gov.br/explica/desemprego.php>

[4] MAIOR, Jorge Luiz Souto. Greve e salário. Poder Judiciário, p. 175, 2010.

[5] Brasil 247 <https://www.brasil247.com/blog/a-existencia-de-nove-centrais-sindicais-no-brasil-e-uma-anomalia>

[6] Agência de Notícias IBGE <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/28667-taxa-de-sindicalizacao-cai-a-11-2-em-2019-influenciada-pelo-setor-publico>



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Manoel Rodrigues

Graduado em Ciências Sociais Bacharelado pela PUCRS; Graduando em Ciências Sociais Licenciatura pela UFRGS; Trabalhador de base dos Correios (ECT).

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2 comments so far,Add yours

  1. Excelente reflexão para o momento quando assistimos o desmonte do Estado e direitos sociais, enquanto a única coisa que nos fazem crer como alternativa é esperar 2022. Vale ressaltar que a pandemia, além de servir como pretexto para a retirada de direitos, serviu também para estabelecer novas relações, como o "home-office" que dificulta ainda mais os processos se organização e luta da classe trabalhadora.

    Aguardo a próxima coluna com entusiasmo.

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