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Olá fãs da velocidade! Estamos de volta nesse domingo para comentar o Grande Prêmio da Espanha de Fórmula 1, sexta etapa do Campeonato Mundial de 2020. Sucedendo uma prova com a inesperada vitória de Verstappen, o GP espanhol mostrou-se muito mais previsível, ainda que tenha proporcionado brigas e cenários interessantes para análise. Largando da pole, Hamilton manteve a liderança n largada, e dali pra frente fez o que sabe de melhor: controlar a prova. O inglês ditou o ritmo nos estágios iniciais, acelerou quando preciso e rumou para mais uma vitória inquestionável, aumentando sua liderança no campeonato. Max Verstappen aproveitou o vacilo de Valtteri Bottas na largada para tomar a segunda posição, e se valeu de um ritmo forte para completar a prova à frente do finlandês, levando a Red Bull novamente uma posição à frente do habitual. Já Bottas, que terminou em terceiro, conclui mais um domingo desapontado com o resultado final, e sem muita perspectiva de uma guinada na temporada. Confira abaixo a análise da corrida desse fim de semana.

A classificação no sábado mostrou mais do mesmo na parte frontal do pelotão. De novo, as Mercedes estavam num "campeonato à parte", e Hamilton pôde até se dar ao luxo de errar a segunda tentativa para meter 7 décimos em Max Verstappen, o adversário mais próximo. O companheiro de equipe Bottas terminou em segundo, apenas meio décimo atrás de Lewis. O finlandês porém sabia que o trabalho principal seria no domingo. Em praticamente todas as provas até aqui nesse ano, Valtteri não esteve à altura de Hamilton no quesito ritmo de corrida. Uma nova derrota em Montmeló abalaria ainda mais a confiança do piloto #77. No mais, destaque para mais uma exibição sólida das Racing Point, que novamente se mostravam como o segundo carro mais rápido do grid. O objetivo agora era, a exemplo do finlandês da Mercedes, não andar pra trás durante o GP, e transformar a velocidade em pontos no campeonato.

Hora da largada, sempre um momento importante para o transcorrer da prova. Na ponta, Hamilton partiu bem, a exemplo de Verstappen. Na segunda posição, Bottas não chegou a fazer uma má largada, porém vacilou ao não cortar para a esquerda e impedir Max de usar o vácuo de Hamilton. Dessa forma, Bottas ficou de cara pro vento, perdendo velocidade de reta e dando a oportunidade do holandês emparelhar para dividir a curva 1. Para piorar a situação de Valtteri, Lance Stroll também usou-se da mesma manobra, e com a ajuda do vácuo do próprio Bottas, conseguiu mergulhar por dentro na curva 1. O piloto #77 ficou encaixotado e precisou levantar o pé, perdendo duas importantes posições ainda nos primeiros metros.

Ocupando o quarto lugar, Bottas precisou lutar contra Stroll nos primeiros giros da prova. Esse movimento tirou a oportunidade que o finlandês tinha de pressionar Verstappen na fase inicial da corrida, onde (em teoria) o rendimento da Mercedes é melhor, devido à sua facilidade em aquecer os pneus. Após longas 5 voltas, e somente com o auxílio do DRS, Valtteri conseguiu a manobra sobre Lance, assumindo a terceira posição. A essa altura, Verstappen já tinha 2 segundos de frente sobre o finlandês. Mas Hamilton não havia disparado como de costume.

A estratégia do inglês hoje seria um pouco diferente do que estamos acostumados a ver. Ao invés de abrir seus tradicionais 8-10 segundos e cozinhá-los pelo resto da prova, Hamilton queria primeiramente conservar seus pneus, os grandes vilões do insucesso no último GP em Silverstone. Utilizando-se da liderança, Lewis iria controlar o ritmo de prova, pegando leve nas primeiras voltas para fazer seu stint tornar-se longo o suficiente.

Hamilton e a Mercedes sabiam que o único ponto real de ultrapassagem era a freada para a curva 1 do circuito. Mesmo que o carro não tivesse bom ritmo em toda a volta, bastava acertar a tangência das curvas finais e abrir uma distância segura para defender a posição no início da volta. Dessa forma, se o esquema da semana passada se repetisse e Verstappen se tornasse mais rápido à medida que o pneu gastasse, a flecha negra #44 teria como se defender.
Foto: Motorsport.com
E o plano foi executado à perfeição por Lewis! As primeiras 10 voltas foram num ritmo conservador, com Verstappen se mantendo na casa de 2 segundos de desvantagem frente ao líder. Ao se aproximar da volta de número 15, que era a janela esperada para que o pneu começasse a se deteriorar, Hamilton sentou o pé, engatando uma sequência de 5 voltas mais rápidas consecutivas! Nesse momento, a ótica sobre a prova começou a mudar: Max Verstappen não estava conseguindo acompanhar o ritmo de Hamilton, ao mesmo tempo em que reclamava pelo rádio sobre um princípio de desgaste nos pneus traseiros. A maior ameaça à vitória da Mercedes estava caindo por terra, justamente pelo ponto em que (na teoria) deveria se sobressair sobre o adversário: o melhor manejo dos pneus.
Talvez pelo tempo gasto perseguindo Lewis de perto, ou simplesmente por não ter casado bem com os compostos macios, o fato é que ficava claro nessa fase da corrida que a Red Bull de Verstappen não tinha ritmo para ameaçar a primeira posição de Hamilton. Quando nos aproximávamos da 20a volta, a diferença entre os dois pilotos já rondava a casa dos 10 segundos, e Verstappen não teve outra escolha se não a parada nos boxes.

Nem mesmo um terço da corrida já estava completado, porém Verstappen já tinha vantagem suficiente para parar e retornar à frente do quarto colocado Lance Stroll, não perdendo assim nenhuma posição no processo. Essa diferença ilustra perfeitamente o cenário atual da Fórmula 1: o estabelecimento de uma "santíssima trindade", que está um degrau acima dos demais, é real. Com um carro superior a todos os outros, ambos os pilotos da Mercedes aparecem nesse panteão, juntamente com Max, que consegue fazer sua Red Bull andar num ritmo de corrida muito próximo dos concorrentes. Albon e os demais carros frequentam um patamar de meio de pelotão, sem condições de pressionar os líderes em condições normais de prova.

Max retornou à pista com pneus médios, na esperança de conseguir recuperar algum terreno diante de Hamilton. Enquanto isso, a briga por pontos no meio do pelotão ia se desenhando. Depois de enfrentar problemas em traduzir o ritmo dos treinos em desempenho nas corridas, a Racing Point dava mostras de que teria um domingo produtivo. Sergio Pérez e Lance Stroll se mantinham confortáveis em quinto e quarto lugares respectivamente, segurando sem maiores problemas os ímpetos de Alex Albon e sua Red Bull, que vinham logo atrás.

Mesmo ficando o tempo inteiro na zona de pontuação, o tailandês não conseguiu fazer o que, em teoria, deveria ser o mínimo para um piloto RBR: terminar na quarta posição. Ao recordarmos que um desempenho semelhante a esse foi responsável pelo rebaixamento de Pierre Gasly e consequente promoção de Alex à Red Bull, a interrogação sobre qual atitude que o time austríaco terá diante da situação volta à tona. Não há dúvidas que um novo episódio desse tipo traria uma tensão ainda maior para os boxes da equipe, além de praticamente encerrar mais uma carreira dentro do paddock. De qualquer forma, o desempenho atual Albon é sim inferior ao esperado, e mostra também que Gasly foi injustiçado em seus dias de Red Bull, tanto pela direção da equipe quanto por parte da mídia. Resta saber se ele terá uma (talvez merecida) segunda chance.
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Retornando aos primeiros lugares, a parada antecipada de Verstappen teve efeito, e o holandês se viu mais próximo de Hamilton após o seu primeiro pit stop. A diferença girava agora na casa de 4 segundos, enquanto Bottas aparecia mais de 6 atrás de Max. Porém, a principal questão ia além das diferenças no cronômetro. Enquanto Max foi forçado a parar devido à desgaste nos pneus antes da volta 20, Hamilton e Bottas seguiram sem maiores problemas até a volta 25, ainda virando tempos competitivos! Com ambos calçados em pneus médios, era difícil imaginar que a maré virasse. Naquela altura, com praticamente metade da corrida completa, a vitória de Hamilton já estava encaminhada. Restava ainda a expectativa se Bottas conseguiria minimizar o prejuízo.

Com a corrida mais fria no pelotão de frente, retornamos ao meio do grid, agora para aquele momento tradicional de comentar as desventuras do fim de semana da Ferrari. Depois de mais uma vez falhar na missão de colocar os dois carros no Q3, o time italiano viu seu piloto mais bem colocado, Charles Leclerc, abandonar graças a um problema no motor. O propulsor Ferrari simplesmente desligou na saída da chicane final, forçando Charles a rodar. O monegasco ainda conseguiu religar o carro, mas preferiu abandonar logo na sequência.

A falha mecânica não era o melhor dos começos, porém tudo poderia ficar ainda mais estranho para o time vermelho. Ocupando a quinta posição mas com uma parada a menos, Sebastian Vettel era agora a única esperança para a Ferrari salvar alguns pontos no domingo, e o que era uma corrida sólida até então virou motivo para mais polêmica. Ao discutir a estratégia com seu engenheiro, Vettel perdeu a calma ao perceber que a equipe não havia restado atenção em suas observações nas voltas anteriores. Visivelmente irritado, Seb decidiu por não parar mais, tentando segurar na pista os carros com pneus novos que o alcançariam. A aposta acabaria funcionando, com Vettel completando em sétimo lugar, seu segundo melhor resultado em 2020.

Mais do que a posição final ou os pontos conquistados, novamente o que fica em evidência é a péssima relação entre piloto e equipe. Vettel e Ferrari simplesmente não falam mais a mesma língua, e aos poucos ambos vão deixando isso claro também para o público. Já não é mais nenhum devaneio imaginar que os caminhos de Seb e da Scuderia se separem antes mesmo da última corrida do ano, especialmente com o piloto alemão tão insatisfeito como parece. Resta apenas esperar pelas próximas etapas, e presenciar um final certamente bem diferente do que todos os tiffosi imaginaram.

A decepção até pode ter marcado presença na garagem da Ferrari, mas dificilmente foi tão grande quanto àquela que visitou a garagem da Renault. O time francês, que havia conquistado resultados muito otimistas na primeira corrida em Silverstone, até chegou a andar bem com Daniel Ricciardo durante os treinos livres. Mas quando era pra valer, as coisas simplesmente não funcionaram. Daniel sequer chegou ao Q3, enquanto Ocon amargou uma péssima 15a posição, atrás até mesmo da Alfa Romeo de Kimi Räikkönen. Na corrida, ambos os pilotos foram para a mesma estratégia de uma única parada, começando com pneus médios e concluindo com os compostos macios, mas o ritmo de corrida necessário para fazer a aposta funcionar nunca apareceu. Ricciardo até chegou a vislumbrar pontos nos giros finais, mas não conseguiu sequer tentar uma manobra de ataque. Já Ocon deu sequência ao seu fim de semana ruim, terminando longe da briga pelo top-10. Um pequeno balde de água fria para uma equipe que chegou a se imaginar lutando com Ferrari e com McLaren, mas que até hoje não teve a consistência necessária para demonstrar de fato pertencer a esse escalão. Talvez com o decorrer da temporada, a equipe francesa possa entender melhor o seu bólido, e dessa forma trazer resultados mais sólidos. Ou então a chegada de Fernando Alonso no ano que vem reacenda a chama vencedora que desapareceu da equipe. A verdade é que sempre falta algo para a Renault entrar de vez nos eixos, e essa sucessão de decepções certamente não ajuda em nada no futuro da escuderia.
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Encerrando nossa viagem pelo meio do pelotão, a McLaren aparece para escrever uma nota positiva. Com uma estratégia diferente de duas paradas, começando com dois stints seguidos de pneus macios, o time espanhol conseguiu trilhar seu caminho por entre as brigas, especialmente com Carlos Sainz. O dono da casa conseguiu boas manobras, especialmente sobre Alex Albon, e manteve um ritmo constante com os pneus vermelhos. Após a última parada, Sainz voltou metros à frente da Red Bull #23, e manteve a tocada para ultrapassar Vettel nas últimas voltas. Por pouco, não herdou a 5a posição de Pérez, tendo que contentar-se com um já muito bom sexto lugar. Atrás apenas das Racing Point e top-3, Sainz voltou a frequentar as seis primeiras posições, coisa que não acontecia desde o primeiro GP da temporada. A boa exibição do espanhol pode representar uma guinada em seu ano, que será o último com a escuderia inglesa. Encerrar bem uma parceria de sucesso, especialmente na temporada 2019, será um momento especial para o jovem porém experiente Sainz, que já mostrou ter capacidade para conseguir bons resultados até mesmo contra os grandes.

Nos encaminhando para o final de prova, tornamos a voltar nossos olhos para quem andou na frente. Verstappen foi o primeiro a entrar para sua segunda parada, colocando um novo set de pneus médios. Bottas o seguiu algumas voltas depois, porém com um jogo de pneus macios. A jogada para tentar ameaçar a posição do piloto holandês não funcionou e Bottas parecia simplesmente não ter o ritmo necessário para incomodar Max. Nas voltas em que andou com o pneu vermelho, sequer conseguiu baixar a diferença para a casa de 1 segundo e ter a chance de usar o DRS. Assistindo tudo de camarote, Hamilton se manteve o tempo inteiro confortável na primeira posição, parando para um novo jogo de médios e ainda retornando com grande vantagem sobre Max. Nada poderia derrotar Lewis nesse domingo!

Bandeirada para o inglês, que fatura sua 88a vitória na categoria. Número extraordinário para um piloto dominante, que passeou sobre a concorrência e "recolocou" ordem na casa após a derrota do último fim de semana. Caminho cada vez mais aberto para o hepta!

Do outro lado, Bottas mais uma vez vai para o pódio com motivos para uma cara azeda. O finlandês parece ser incapaz de igualar Hamilton em ritmo de corrida, e como nas últimas provas foi também incapaz de pressioná-lo na hora da largada. Pelo contrário: perdeu a posição para Verstappen e não foi capaz de recuperá-la. Bottas precisa ser mais ousado e ir para uma espécie de tudo ou nada nas próximas corridas. Caso contrário, segundo lugar será o limite.

Sobre Max, pouco a acrescentar daquilo já comentado nos finais de semana anteriores. Corrida perfeita, sem erros, maximizando o resultado. No mais, uma leve exaltação numa conversa com o engenheiro de equipe, as vésperas do segundo pit stop. Aliás, Max costuma alfinetar os outros quando se sente irritado. É mais um traço da personalidade do que necessariamente um defeito. Não cabe uma crítica, apenas a observação das atitudes. Se elas levarem à brigas ou polêmicas desnecessárias, aí sim, o holandês deve e será cobrado para controlar mais os seus instintos, e focar apenas no que faz de melhor: guiar o carro.

Hamilton agora lidera o campeonato absoluto com 132 pontos, contra 95 de Verstappen e 89 de Bottas. Nos consrutores, destaque para a briga de foice pelo terceiro lugar: Ferrari com 61, McLaren com 62 e Racing Point com 63 participam da batalha, atrás de Red Bull (135) e Mercedes (221).


Confira a classificação do GP da Espanha:
Resultado final do GP da Espanha de Fórmula 1 — Foto: Reprodução/FOM


Por hoje é só pessoal. Semana que vem não tem Fórmula 1, mas tem 500 Milhas de Indianápolis! Estaremos ligados na prova estadunidense, que tem a chance de ser histórica. Fiquem bem, abraços e até mais!



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Ricardo Machado

Um sonhador, que anseia por deixar sua marca no mundo. Apaixonado por automobilismo, futebol, letras e pelas tardes frias e chuvosas de inverno.

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