Olá fãs da velocidade! Faz tempo que não nos vemos, não é? A pandemia de Covid-19 teve um impacto monstruoso na vida da sociedade como um todo, e não foi diferente com o automobilismo. A temporada 2020 da Fórmula 1, que estava programada para começar em março no circuito de Albert Park (Austrália), acabou adiada em quase 4 meses, e teve sua primeira etapa nesse fim de semana no Red Bull Ring (Áustria), e de um jeito bem diferente: número de mecânicos limitado, sem a tradicional cerimônia do pódio e sem público nas arquibancadas. Uma atmosfera diferente, porém necessária para que pudéssemos ver a ação rolar solta na pista.
E quanta ação tivemos nesse domingo! 2020 começou caótico também no asfalto austríaco, com uma série de abandonos, lances quentes na luta pelas primeiras posições e histórias bem diferentes ocupando os lugares do pódio. No topo dele, Valtteri Bottas e sua Mercedes negra, que demonstra notória superioridade sobre a concorrência. Ocupando a segunda posição, um feliz Charles Leclerc, porém ainda mais surpreso e ciente do que a temporada trará pela frente. E na terceira posição, a alegria pura do jovem Lando Norris, que conquistou seu primeiro top-3 na carreira em um fim de semana de força da equipe McLaren. Acompanhe conosco a análise do primeiro GP de 2020 abaixo:

Foto: Getty Images


Tradicionalmente uma corrida que gera muita expectativa por si só, o primeiro GP da nova temporada da Fórmula 1 trouxe um pacote ainda maior de novidades para os fãs. Como se não bastassem os novos carros na pista, haviam ainda outros elementos que movimentariam o domingo. A nova forma de organizar as corridas, com um quadro de funcionários muito menor que o normal; a falta de prática dos pilotos, que ficaram restritos a simuladores e testes por mais de 6 meses, e ainda o forte calor no circuito de Spielberg, que ainda não havia sido experienciado nesse fim de semana.
Antes mesmo da largada, já haviam polêmicas rondando o grid. Lewis Hamilton foi punido por não respeitar bandeiras amarelas na sessão de qualificação, porém a decisão final saiu a menos de uma hora da largada, deixando um ar de confusão no julgamento dos comissários. O inglês foi relegado da P2 para P5, o que teve um efeito importante no andamento do resto da corrida.

Após a largada, as posições se mantiveram em sua maioria. Bottas não chegou a ser ameaçado pela concorrência e logo rumou para uma vantagem confortável. Logo atras, Norris exerceu forte pressão sobre Verstappen na luta pelo segundo lugar, porém o rendimento durou apenas duas voltas. Logo, Lando foi caçado por Alex Albon e Lewis Hamilton, que assumiram terceira e quarta posições respectivamente. O tailandês não conseguiu acompanhar o ritmo de Hamilton, e dentro de poucas voltas acabou perdendo a posição, deixando os três grandes nomes do fim de semana novamente no centro dos holofotes.

Hamilton seguia num ritmo forte e prometendo alcançar Verstappen, que faria o primeiro stint com pneus médios em oposição as Mercedes que calçavam pneus macios. O possível embate entre os pilotos caiu por terra quando Max ficou lento na saída da curva 1, sendo forçado a abandonar. A falha mecânica na Red Bull Honda do holandês não seria a única do dia: nas próximas 10 voltas, Daniel Ricciardo da Renault e Lance Stroll da Racing Point também foram forçados a se retirar da prova. Efeito do forte calor austríaco, que levou os carros ao limite. Pouco tempo depois, Kevin Magnussen perdeu os freios e foi o quarto do dia a parar. O abandono do dinamarquês provocou a entrada do primeiro safety-car da corrida, um tanto desnecessário, importante que se diga. Ao menos, o carro e segurança serviu para esquentar as brigas pelo grid: Hamilton, que vinha tirando a diferença para Bottas, teria a oportunidade da ultrapassagem na relargada. Albon, que aparecia mais de 10 segundos atrás dos dois, voltaria para a cena, bem como teria as ameaças de Norris e Pérez que vinham na quarta e quinta posições.
Foto: Motorsport.com
Após a relargada, ambas as Mercedes tornaram a desgarrar-se dos demais. Sofrendo pressão de Lewis Hamilton, Bottas dava sinais de que estava prestes a perder a liderança, quando então chegou a mensagem de rádio que ajudaria a mudar os rumos da prova. Nela, a equipe Mercedes avisava seus pilotos que o carro de ambos estava sofrendo com problemas nos sensores, e que tanto Bottas quanto Hamilton precisavam diminuir o ritmo. A ordem fez com que Valtteri pudesse respirar, e dessa forma se manter no controle da prova. Mesmo poupando equipamento, a dupla permanecia superior aos demais e a vantagem para o terceiro colocado Albon tornava a ficar na casa dos 10 segundos. Foi quando novamente o safety-car foi acionado. Outra unidade de potência da Mercedes, dessa vez da Williams de George Russel sucumbiu diante dos problemas de superaquecimento. Williams inclusive que mostra-se muito mais decente para esse ano de 2020, ainda ostentando o posto de carro mais fraco do grid, porém muito mais próxima das concorrentes e com chances de brigar por vaga no Q2.

O segundo período de SC foi ainda questionável, e também lento em comparação com o tempo habitual. Uma questão levantada como justificativa para tal situação foi a diminuição do número de funcionários em pista, devido às precauções contra a pandemia. A par disso, a única outra explicação seria uma mudança deliberada de atitude por parte dos comissários, que estariam interessados em mais bandeiras amarelas para chacoalharem o grid e entregarem corridas caóticas. A primeira explicação parece viável, e em minha concepção é a única aceitável. Sim, nós fãs de automobilismo adoramos corridas malucas, porém usar da artificialidade para criá-las vai contra a essência do esporte. Se está sendo essa a intenção da F1, não é um ponto que me agrada.

De volta a ação, a bandeira verde tremulou por apenas meia volta, até que o incidente mais bizarro do fim de semana acontecesse. Justamente quando acelerava para a relargada, Kimi Räikkönen viu a roda dianteira direita de sua Alfa Romeo se desprender do carro, rolando em alta velocidade rumo a área de escape da curva 10. Lance acima de tudo extremamente perigoso, ainda que atualmente o halo ofereça grande segurança quanto a proteção da cabeça dos pilotos. Novamente o safety-car foi acionado e a corrida precisou esperar.

Foto: Motorsport.com
De volta para as últimas 10 voltas, o GP austríaco pegou fogo de vez. Alex Albon tinha parado para pneus macios novos, e em apenas duas curvas já assumira a terceira posição de Sérgio Pérez. Um pouco mais atrás, Charles Leclerc seguia vivo no GP, ocupando uma boa sexta posição com novos pneus médios, e contando com a experiência que faltaria aos seus adversários. Esses fatores aliados à Mercedes correndo em modo conservador devido aos problemas nos sensores proporcionaram um final dramático, que foi de tristeza de uns ao êxtase de outros.

Em excelente posição, Albon se viu mais rápido que Hamilton já nas primeiras voltas depois da relargada, e partiu pra cima. O tailandês decidiu ir por fora na curva 4, e com um pneu mais novo e mais macio tinha praticamente completado a manobra, quando então o seu pneu traseiro direito enroscou com o dianteiro esquerdo de Hamilton. Alex rodou, parou na caixa de brita e voltou em último, antes de abandonar algumas voltas depois. Hamilton seguiu na pista sem perder nenhuma posição, mas acabou punido com um acréscimo de 5 segundos ao seu tempo total de prova.
O lance é polêmico e discutível, mas ambos os pilotos decidiram por panos quentes no assunto. Albon costuma ser polido, e apesar da evidente frustração ao final da corrida, não fez quaisquer declarações fortes contra Hamilton. Já Lewis até mesmo admitiu a culpa, e disse que aceitaria qualquer penalidade imposta. Na minha interpretação, acredito ser incidente de corrida. Ao ir por fora, Albon assumiu o risco de ser tocado, além de outro detalhe importante: Hamilton deixou espaço de um carro para o tailandês. A interpretação dos comissários foi que Albon já estava meio carro à frente, e por isso teria a preferência. Porém, como a manobra não tinha sido completada, acredito que tal interpretação esteja equivocada. Analisando outro princípio importante, que leva em conta que punições só devem ser aplicadas como forma de repreensão a pilotos desleais, fica claro que Hamilton jamais jogou o carro intencionalmente em Albon, logo não mereceria qualquer advertência. Porém, sabemos que a interpretação dos comissários costuma não ser essa, e por isso temos o excesso de punições e jogos de regras. Enfim, cabe a discussão.

Mas a corrida não acabou aí! Com o toque em Albon, Pérez se viu na terceira posição, sentindo o cheiro de um pódio para a promissora (e também polêmica) Racing Point. Porém os pneus do mexicano já não tinham rendimento, e Checo foi sendo alcançado por Lando Norris, outro que fazia excelente corrida com sua McLaren. O inglês, porém, foi afoito e tentou uma manobra precipitada sobre Pérez, travando os pneus e dando a chance de Leclerc tentar uma ultrapassagem. O monegasco lá estava para abocanhar a oportunidade e subir à P4. Já na volta seguinte, em uma precisa manobra, Leclerc deixou para trás a Racing Point de Pérez, alcançando um inimaginável terceiro lugar, que viraria segundo com a punição a Hamilton.

A Ferrari está longe, muito longe do ritmo das equipes de ponta. Com problemas de potência após ver uma de suas tecnologias do ano passado banida pela FIA, o carro de 2020 aparenta ser fraco. Leclerc sabe disso, Vettel sabe disso e a própria Ferrari sabe disso. A corrida de Charles hoje foi grande, o esforço para controlar seu bólido nas últimas voltas era nítido pela câmera onboard. Porém, os italianos sabem que as próximas temporadas não serão fáceis. Com déficit de potência e de aerodinâmica, ainda não está claro se a Scuderia terá potencial para brigar constantemente por pódios, e qual será o efeito das atualizações esperadas já para a terceira etapa. O segundo lugar de hoje é um alívio, e especialmente uma demonstração da qualidade do piloto que é Leclerc, porém de forma alguma é um prognóstico positivo para a temporada que se aproxima. A Ferrari andou na mesma balada de Renault e McLaren, aparentemente mais lenta que a Racing Point em condições normais. Seguindo esta lógica, seu lugar será longe do topo.

Foto: Motorsport.com
E logo atrás de Leclerc, outra grande história surgia. Lando Norris, depois de perder a posição para o ferrarista, lutou bravamente com seu companheiro Carlos Sainz, mantendo a quarta posição. Com os pneus desgastados e sem ritmo de corrida, Pérez foi presa fácil, cedendo a Lando a quarta posição na tabela. Ciente da punição a Hamilton, a equipe McLaren avisou seu piloto para andar forte e manter a diferença dentro da faixa de 5 segundos, o que lhe renderia a terceira posição final. Graças a uma última volta voadora, Norris terminou a exatos 4.8 segundos de Hamilton, e por dois décimos pode subir ao terceiro lugar do pódio.
Durante boa parte da prova, a McLaren conseguiu segurar as Ferrari de Leclerc e Vettel em ritmo de corrida, andando também muito próximo das Racing Point e de Alex Albon. O carro, que antes de sua estreia causava alguma desconfiança em Zak Brown, só deixou boas impressões nesse fim de semana, e se a luta no meio do pelotão está mais dura, o time laranja ao menos não parece ter ficado para trás. Norris, apesar do erro de cálculo na primeira manobra contra Pérez, que possivelmente lhe custou o segundo lugar, acertou uma volta fantástica para alcançar a terceira posição, bem como já tinha feito na qualificação de sábado. Pode ser um ano importante para Lando se habituar com brigas importantes e situações de pressão. Talento ele tem, é indiscutível. E sua dupla com Ricciardo para 2021 promete um desempenho do mais alto nível...

Para fechar, nos voltamos para o vencedor da prova. Valtteri Bottas começa o ano de uma maneira muito positiva, abrindo de cara 13 pontos para quem parece ser seu único adversário rumo ao título. Apesar disso, o resultado foi condicionado pelos contratempos que frearam Hamilton (a largada da quinta posição e os problemas nos carros), durante a prova o ritmo do inglês foi constantemente superior ao de Valtteri, que pode se considerar sortudo. Mas, há um detalhe muito importante aqui: em 2016, Nico Rosberg nos provou que não é necessário ter mais braço do que Hamilton para derrotá-lo na disputa pelo mundial. Sendo extremamente constante e maximizando todas as oportunidades, Rosberg chegou lá, ainda que fosse nitidamente inferior ao companheiro em termos de talento. Bottas deu hoje um primeiro passo, aproveitando ao máximo os contratempos do adversário e maximizando seus ganhos. Se mantiver essa toada, pode colocar certa pressão sob o companheiro, e então aproveitar esse cenário para se favorecer. Nas últimas temporadas, Valtteri tem demonstrado estudar maneiras de enfrentar a grandeza de Lewis, e parece ser um bom cara para ficar atento a esses detalhes. Pode ser que 2020 seja o ano do conto de Nico Rosberg se repetir. Vamos ficar de olho...


Confira a classificação do GP da Áustria:























Sobre o campeonato de construtores, a Mercedes lidera com 37 pontos, com a McLaren aparecendo em segundo com 26. A Ferrari vem na terceira posição com 19, seguida por Racing Point, AlphaTauri, Renault e Alfa Romeo.

Por hoje é isso pessoal, estaremos de volta já na semana que vem, com o Grande Prêmio da Estíria, um GP da Áustria "rebatizado", já que utilizará exatamente o mesmo traçado da corrida de hoje. Boa semana e até lá!



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Ricardo Machado

Um sonhador, que anseia por deixar sua marca no mundo. Apaixonado por automobilismo, futebol, letras e pelas tardes frias e chuvosas de inverno.

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