Desde o início me posicionei contra o impeachment de Bolsonaro. Seja em textos ou me posicionando durante nossas lives, deixei claro que o impeachment de Bolsonaro não passava de mero interesse das elites que não veem mais em Bolsonaro a possibilidade de colocar em prática as reformas da maldade que eles querem aprovar. A crueldade de Bolsonaro e suas opiniões nefastas sempre foram conhecidas de todos, se agora é motivo de indignação das elites, mostra que Bolsonaro já não serve à seus interesses.

Mas agora a situação é outra. Continuo defendendo que a melhor solução era a cassação da chapa - não apenas federal, como de vários estados - por fraude eleitoral mediante os criminosos disparos de mensagem via WhatsApp seria a melhor saída. Uma eventual ascensão de Mourão ao poder nunca deve ser vista com bons olhos, mas a manutenção de Bolsonaro no cargo não pode mais ser tolerada, ainda mais diante da crise que o mundo inteiro vive.

A forma como Bolsonaro vem lidando com a pandemia do novo Coronavirus vem sendo mais do que relapsa. As atitudes do presidente em insistir em tratar uma doença grave que já matou mais de 20 mil pessoas no mundo todo se tornam criminosas. É brincar com a vida do cidadão brasileiro. É deixar claro, bastante claro, que ele está alinhado com figuras nefastas como Luciano Hang, Roberto Justus e Júnior Durski, em não se importar em sacrificar vidas brasileiras se isto puder salvar a economia.

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Pronunciamento de Bolsonaro contraria orientações da OMS e do próprio Ministério da Saúde

A economia já está prejudicada. Não só aqui, mas no mundo inteiro. Todos os países sabem que quando a pandemia passar, vamos ter outra crise para lidar. Mas o momento agora não é de se preocupar com economias e sim com vidas. Bolsonaro se torna o único líder mundial à tratar o coronavirus como uma simples gripe. Até seu maior aliado de todas as horas, o presidente Donald Trump, tomou atitudes alinhadas com as orientações da OMS e que já vinham sendo seguidas por líderes ao redor do mundo. Bolsonaro é uma ilha de insensatez num oceano de líderes, alguns até controversos e dignos de críticas, que estão tomando medidas para resguardar sua população.

E o mundo inteiro já notou isso. Após o pronunciamento de ontem, a imprensa mundial classificou Bolsonaro como "incendiário", "inacreditável" e "contraditório". Até seu maior aliado na geopolítica internacional sabe que as atitudes de Bolsonaro são irresponsáveis e vão levar à uma tragédia sem precedentes, tanto que a embaixada dos Estados Unidos emitiu recomendação para todos os estadunidenses em solo brasileiro retornarem ao país. Essa recomendação ter partido logo após o pronunciamento desastroso da noite de terça não é coincidência. Eles sabem a tragédia que isso vai se tornar se medidas não forem tomadas.

Bolsonaro usa a crise atual para fazer política. Usa as 46 mortes confirmadas para tentar se promover visando a eleição de 2022. Vai na contra mão de outrora aliados como João Dória, Wilson Witzel e até Ronaldo Caiado, responsável pela indicação do atual ministro da saúde, surpreendentemente o mais sóbrio da equipe de governo. Enquanto prefeitos e governadores tentam tomar medidas para frear o avanço da doença e assim impedir o colapso no sistema de saúde, o presidente vai na contra mão e atrapalha mais do que lidera. Seria menos danoso ao país se ficasse simplesmente calado e deixasse os outros trabalharem. A cada declaração, a cada ato, a cada decisão tomada por Bolsonaro, a crise se agrava.

Continuo aqui reafirmando minha opinião sobre o movimento em torno do impeachment de Bolsonaro. É uma movimentação das elites em torno de um nome que talvez seja mais efetivo na aprovação de suas reformas. Mas o cenário mudou. A saída de Bolsonaro da presidência não pode mais ser encarada como uma situação política. Negar o coronavirus, seu enorme poder de contaminação e as mortes que ele irá ocasionar, prova que Bolsonaro é um criminoso que está atentando contra a vida do brasileiro. Não somos peças em um jogo de xadrez que podem ser sacrificadas para salvar um rei ou uma rainha.

Sobre a coluna

De hoje a oito é uma coluna semanal sobre política que procura trazer em pauta assuntos referentes, principalmente, ao governo federal e acontecimentos nacionais, sem deixar de repercutir acontecimentos mundiais.
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Pedro Araujo

Advogado com pós em ciência política, sempre acompanhando o cenário político nacional e mundial.

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