Na última terça-feira o presidente da República demitiu o secretário-executivo da Casa Civil, o número 2 do ministério comandado por Onyx Lorenzoni, Vicente Santini. A justificativa usada por Bolsonaro foi o uso de um avião da FAB de forma particular para realizar um voo para a Índia. Nas palavras de Bolsonaro, o ocorrido é inadmissível. Não se trataria de algo ilegal mas algo “completamente imoral” e isso justificaria a decisão de Bolsonaro de demitir Santini. O ex-secretário-executivo substituía Onyx em suas funções, uma vez que o Ministro-chefe da Casa Civil está de férias.

A justificativa, porém, vai de encontro com opinião proferida pelo próprio Bolsonaro no ano passado. No dia 26 de Julho do ano passado, ao comentar o uso de uma aeronave da FAB que foi usado para levar familiares do presidente para o casamento do deputado federal e filho de Jair, Eduardo Bolsonaro, o presidente, o presidente afirmou que não via problemas em dar “carona” aos parentes em uma aeronave oficial. Nas palavras de Bolsonaro “eu vou negar o helicóptero a ir para lá e mandar ir de carro? Não gastei nada do que já ia gastar".

Não seria a primeira e possivelmente não será a última vez que membros do governo e até mesmo familiares fazem uso particular de aviões da Força Aérea Brasileira. Segundo o colunista do O Globo, Lauro Jardim, em março do ano passado, o desastroso ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles fez uso de uma aeronave da FAB para uma viagem à Nairóbi, no Quênia. Os registros da FAB mostram um avião solicitado pelo Ministério do Meio Ambiente onde embarcou apenas uma pessoa e retornou dois dias depois, transportando três passageiros. A FAB se recusou à informar quem eram as pessoas transportadas no voo.

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Presidente demitiu Vicente Santini por uso particular de avião da FAB

Não é a primeira vez nem no governo Bolsonaro, nem na história recente da república brasileira, que se faz uso de aviões da FAB para uso particular. Situações semelhantes já aconteceram em governos anteriores. Obviamente que, apesar de não ser ilegal, é uma prática que não deve ser incentivada, uma vez que faz uso de dinheiro público para fins particulares, o que por si só já é errado, porém, a pergunta que fica é: o que mudou de Salles e dos parentes do presidente para Santini? O número dois da Casa Civil não era próximo o suficiente do círculo íntimo do governo para usufruir das benesses providas pelo dinheiro do contribuinte brasileiro?

Bolsonaro se formou como deputado do baixo clero e, mesmo estando presidente, ele continua agindo como se do baixo clero fosse. Não existe vergonha alguma do governo Bolsonaro em usar do Estado e do dinheiro público como se particular fosse. Então, o que mudou para que Bolsonaro repentinamente passasse a condenar o uso da coisa pública para fins particulares?

A mudança no discurso passa longe de ser uma mudança de postura do presidente frente à corrupção. Quem vem há mais de um ano defendendo laranjais, rachadinhas e corrupção que está na porta ao lado de seu gabinete, não passaria, repentinamente, a ser um baluarte na luta contra a corrupção. O objetivo de Bolsonaro em demitir Santini é jogar uma bomba de fumaça para distrair a opinião pública e agradar seu fã-clube, assim como dar a impressão errônea de que não tolera corrupção dentro do seu governo. Estamos falando obviamente em abafar o caso Fabio Wajngarten. E Vicente Santini foi o boi de piranha usado para distrair a população do que possivelmente é o maior caso de corrupção gestado, nascido e proliferado dentro do governo Bolsonaro, e que o presidente insiste em afirmar que não “viu nada de mais” em que o homem forte da SECOM repasse dinheiro para artistas e veículos de comunicação ligados à própria empresa.

Sobre a coluna

De hoje a oito é uma coluna semanal sobre política que procura trazer em pauta assuntos referentes, principalmente, ao governo federal e acontecimentos nacionais, sem deixar de repercutir acontecimentos mundiais.
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Pedro Araujo

Advogado com pós em ciência política, sempre acompanhando o cenário político nacional e mundial.

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1 comments so far,Add yours

  1. Muito bem Pedro. O uso da máquina pública por este (des)gverno é recorrente, esse sujeito só está as voltas porque é do "baixo clero" do Bolsonarismo

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