Levantamentos estão aí para indicar
tendências e não podem induzir o voto; candidatos e propostas não faltam
A última semana antes do primeiro turno das eleições,
marcado para o próximo domingo (07/10), foi regada por pesquisas de
intenção de voto divulgadas diariamente. Desde segunda (01) e de maneira
alternada, os institutos IBOPE e DATAFOLHA cumpriram seu papel em
transformar a corrida presidencial em corrida de cavalos, mesmo que sem a
inconfundível trilha Willian Tell do
italiano Gioacchino Antonio Rossini – vale pesquisar a versão “final” no Youtube e escutar enquanto faz a leitura
deste artigo.
Foram cinco levantamentos até sábado (06), véspera da
abertura das urnas. Em todas, Jair Bolsonaro (PSL), candidato que guarda
trajetória política controversa, e Fernando Haddad (PT), postulante apoiado
pelo ex-presidente Lula, caminham juntos para o segundo turno, apesar da
diferença entre os dois ter aumentado e do temor de que não haja uma segunda
etapa de votação, em 28/10, ter crescido e decrescido com os dias.
De acordo com as três pesquisas divulgadas pelo IBOPE, Bolsonaro (PSL) deixou de vez o
patamar, que não chegava aos 30%, e consolidou-se na ponta com 31% – em 01/10 –,
32% – em 03/10 – e 36% - em 06/10 – das intenções. Já Haddad, apareceu com 21%,
23% e 22%, respectivamente. A mesma sequência de pesquisas deu conta de que
Ciro Gomes, presidenciável do PDT,
aparece liderando o segundo pelotão, com 11%, 10% e 11% da preferência dos
entrevistados em ambos os levantamentos, considerando as mesmas datas de
divulgação.
O DATAFOLHA, que
até há pouco tempo estava sendo considerado pela crítica como mais conservador
– mais realístico, se preferir –, apontou crescimento maior à figura do capitão
da reserva que chegou a 35% no levantamento de quinta-feira (04), tendo subido
para além da margem de erro – 3 pontos a mais que na pesquisa de terça-feira
(02), quando tinha 32% da preferência. No levantamento divulgado no sábado
(06), o capitão da reserva apareceu 36%. Fernando Haddad (PT) aparece com 21%, 22% e
22% nas pesquisas, respectivamente, divulgadas pelo instituto em 02/10, 04/10 e
06/10. Ciro manteve-se com 11% nas duas primeiras amostragens, chegando a 13%
no levantamento de véspera.
Levando em conta tais números, de institutos considerados os
mais importantes do País, a tendência registra que a disputa deve ficar entre
os três presidenciáveis, com destaque para Haddad que se mantém na 2ª colocação
apesar de o “antipetismo” ter voltado a crescer. A observar o que dizem as
pesquisas quanto a votos válidos, quando se elimina os brancos e nulos, Jair
Bolsonaro tem 41% e 40%, e Haddad aparece com 25%, respectivamente, no último IBOPE e DATAFOLHA. Neste caso,
Bolsonaro estaria a 10 pontos percentuais da vitória em primeiro turno e a
analisar os cenários de segundo turno, ambos empatam tecnicamente e o pedetista
vence o capitão. A título de informação, as cinco pesquisas divulgadas nesta
semana não questionaram os entrevistados quanto ao cenário com os dois
progressistas num eventual segundo turno.
Ao todo, os 147,3 milhões de eleitores que vão às urnas
neste domingo (07) têm à disposição 13 candidatos à Presidência da República, o
maior número de postulantes desde a redemocratização, em 1989, quando a cadeira
presidencial foi disputada por 22 pessoas. Mesmo assim, as pesquisa falam em
“polarização” e os concorrentes diretos de Jair e Haddad reforçam isso. A
tática por parte dos outros candidatos é contraditória, entretanto própria para
o momento já que se trata dos últimos movimentos antes do voto de fato.
Não há outra justificativa para se invocar o combate à
polarização a não ser levar o eleitor a escolher outro postulante para assumir
um dos polos, uma das pontas. Isso serve, principalmente, para quem se diz
porta-voz da coerente afirmação de que não é bom para o País o voto por ódio ou
medo enquanto reforça a necessidade do chamado voto útil já neste primeiro
turno. Além de incoerente, parece não
compreender o clima que, a levar em conta as pesquisas e o meio social – a vida
diária –, é esse mesmo: de um eleitorado polarizado numa realidade
aparentemente incombatível e inerente aos nossos dias.
Apesar de legitimas, as estratégias eleitorais de imputar
aos dois primeiros colocados das pesquisas a pecha de serem faces de uma mesma
moeda, quando não o são, colaboraram como combustível para a tendência que se
encaminha para o domingo eleitoral. O eleitor médio deve considerar a máxima de que em primeiro turno se vota no
projeto que mais se aproxima de seus íntimos ideais e não em potenciais
vitoriosos na próxima rodada, caso ela venha a se confirmar. E isso vale,
sobretudo, para militantes que hoje pregam o chamado voto útil em candidatos
que aparecem em melhor condição de ganhar, numa segunda etapa, daquele que se
coloca como sendo a personificação de ideias retrógradas, anti-povo e
contraculturais.
No campo progressista, linha seguida afinco –no figurado –
por este blog, três as candidaturas a presidente do Brasil estão postas. De
Guilherme Boulos (PSOL), passando por Ciro Gomes (PDT), a Fernando Haddad (PT),
à denominada esquerda política está bem representada no pleito. Com diferenças programáticas pontuais, os
três defendem plataformas que priorizam a inclusão e valores democráticos. Por
isso, é importante que, ao menos o eleitor deste campo, vote por acreditar no
candidato ou no programa e não por medo de que uma vitória do obscurantismo
bolsonarista.
Aos leitores que pretendem digitar os números de Jair
Bolsonaro na urna por alguma razão que não seja a defesa à tortura, misoginia e
ao racismo, sexismo e preconceito, ou seja, por não compactuar com tais práticas,
há outros candidatos a presidente do Brasil com programas de governo melhores e
que, certamente, preenchem as lacunas do que consideram ser necessário e
importante em um próximo governo.
Aos mesmos leitores que, por ventura, estão convictos em
votar no capitão da reserva por conta do discurso de que se trata de uma
candidatura “antissistema”, a Frente
Parlamentar da Agropecuária – FPA, de pouco mais de 260 congressistas,
anunciou apoio ao presidenciável do PSL.
Congressistas arrolados em investigações de combate à corrupção e que tratam de
fazer política à base de politicagem. Mais do mesmo diriam por aí.
Fizeram o mesmo a candidata à deputada federal pelo Rio de
Janeiro Daniela Cunha, filha do deputado cassado Eduardo Cunha (MDB) e sua porta-voz;
os líderes religiosos Edir Macedo e Silas Malafaia, por exemplo, e a bancada
evangélica no Congresso Nacional; e as legendas históricas DEM e PSDB de maneira
velada, na figura de alguns de seus quadros. Isso além da chamada bancada da
bala, com a marca Forjas Taurus, especializada na produção de
armas de fogo, crescendo mais de 50 vezes nos últimos dois meses – algo na casa
de 14 milhões de reais negociados por dia – com as notícias favoráveis ao
candidato. O mercado financeiro também parece estar com Bolsonaro que, além de
não ser defensor de valores democráticos, já não sustenta – na verdade, nunca
sustentou – o “ser antissistema”.
A democracia sempre está em jogo quando de pleitos
eleitorais. Mas, este, por todos os acontecimentos – muitos relatados por este
blog nas figuras de Adriano Garcia e Claudio Porto –, teima em apresentar um
placar a favor do retrocesso. Espero estar errado.
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