Estamos de volta para mais uma vez debatermos um Debate Presidencial, desta vez realizado na noite desta sexta (17) pela RedeTV em parceria com a ISTOÉ, o debate mais uma vez reuniu oito dos treze candidatos ao Planalto, mais uma vez com a representação do PT fora do debate, a intenção da emissora até era colocar um púlpito (que perigo) vazio com o nome de Lula, mas a ideia foi prontamente combatida por sete candidatos, exceção feita a Guilherme Boulos (PSOL). Em relação a esse tema em particular, creio que o ideal, assim como em outras sabatinas e entrevistas, seria chamar Fernando Haddad, que hoje é o representante do ex-Presidente, mas não foi essa a atitude tomada seja pela RedeTV ou pela BAND que realizou o primeiro debate.

Em relação ao formato, li muitos elogios, inclusive de membros nossos. Realmente colocar os candidatos pra debater frente a frente, olho no olho no centro do estúdio tem um efeito muito interessante e nisso pudemos identificar os duelos perfeitamente, bem como a colocação do tempo na tela, visível também para o cidadão. Não em tom de crítica, mas vale lembrar que esse mecanismo não foi inventado pela emissora, ele já foi apresentado em pleitos anteriores pela Globo. 

Agora, outro ponto que é preciso falar e agora sim estamos criticando, é que com tempos mínimos de diálogo como um minuto na resposta e 45 (eita) segundos nas réplicas e tréplicas, acabamos vendo um debate excessivamente enxuto onde não foi possível dialogar de forma minimamente satisfatória em quase nenhum tema, fica esse como ponto baixo do debate.


Os temas como já dito acabaram sendo debatidos de forma muito superficial, o tema que mais entrou na pauta foi a Economia, com os embates entre Ciro e Alckmin, dois deles promovidos por Reinaldo Azevedo, um jornalista do qual se pode ter qualquer crítica, menos sobre sua inteligência, ele confrontou dois candidatos cujo ao menos um deles tem grandes chances de desbancar os demais e chegar ao 2º turno, ao menos em tese. Nesse ponto Alckmin foi mais pragmático, falando em reforma tributária e recuperação da confiança de forma mais genérica, quase que repetindo em parte o que disse Ciro, que falou disso, mas também falou (e vejam, isso é muito importante) da necessidade de em um reforma tributária ajustar as desigualdades e desequilíbrios na questão fiscal, além de apontar para a necessidade de explorar toda nossa capacidade produtiva com complexos industriais em insumos. O que não ficou claro é se esses complexos seriam em PPPs ou seriam federais, a meu ver em áreas como a da saúde, é importante que seja estatal, o que é um acinte para os liberais da escola de Newton. Com certeza Ciro explicará melhor sua proposta durante a campanha, em suas plataformas.

Como praticamente não houve o aprofundamento nos demais temas, convidamos vocês a lerem nossa opinião sobre eles no texto relacionado ao primeiro debate (clique). Antes de passar para as avaliações individuais do Debate, eu gostaria de esclarecer que a intenção do quadro, no Ar desde as eleições de 2014, no nosso segundo ano de existência então, é sim debater as opções para o país e também a nossa visão em relação as propostas e as mudanças que o país precisa, nosso intuito é chamar você, que acima de leitor e eleitor é cidadão e cidadã ao debate, para tal, é importante discutirmos tanto o debate, quanto as nossas observações, para que efetivamente se debata o debate, estamos sempre dispostos a isso. Isto posto, abaixo a avaliação individual dos candidatos, como sempre, em ordem de posicionamento no estúdio.


Daciolo (Patriota)

Vejam, que há alguns maus necessários na democracia e nos protocolos. A presença de Daciolo nos debates, embora com um ou outro instante de lucidez, como ao lembrar que Marina Silva outro dia apoiava Aécio Neves, é uma presença absolutamente folclórica e absolutamente fora de qualquer parâmetro antes visto no debate político nacional. O problema não é crer em Deus, seja ele qual for, neste caso é Jeova, a questão é sempre inserir isso na fala, como se todos os cidadãos professassem a mesma crença, como bem lembrou a candidata Marina, o Estado é Laico, não há qualquer possibilidade de se imaginar que o Brasil seja comandado com uma bíblia na mão e convertendo pessoas. 

Sim, Daciolo tem raros momentos de lucidez, mas entendam, em momento algum isso é elogio, o momento de falta de lucidez aparece em qualquer um, mas não pode ser em 98% do tempo, o que infelizmente é o caso deste candidato, que leia-se, não é má pessoa, talvez seja excessivamente bom, o problema é a total falta de entendimento sobre o que é o Estado Democrático de Direito e como funciona administrar o país, que deve ser gerido para o bem-estar de todos e não para a glória de Jeová, Allah ou de quem seja. 


Jair Bolsonaro (PSL)

Dessa vez, Bolsonaro não conseguiu adotar a estratégia que teve no debate da BAND, onde se esquivou do confronto contra os candidatos que o refutariam de forma mais veemente, trocando figurinhas com Álvaro Dias e o próprio Daciolo. Muito por causa de Reinaldo Azevedo, que o colocou frente a frente contra Ciro e aí o momento mais esperado, o que o candidato passou vergonha com proposta totalmente genérica de: "Desregulamentação, desburocratização e 'tornar empregado amigo de patrão com fim da CLT", ora, será que o escravo era amigo do Senhor da Casa Grande? Pelos registros históricos creio que não. Ciro ali poderia ter dado o golpe final, mas foi elegante e falou sobre isso inclusive em suas redes sociais. 

Depois de outra besteira que disse, em relação a não existir desigualdade social entre mulheres e homens, foi enquadrado por Marina, que confrontou o candidato com seu gesto animalesco de fazer o gesto de arma na mão de uma criança e com sua ideia de ganhar tudo na bala e no grito. Claro que os apoiadores cegos não abdicarão de votar nele por isso (ou mudarão o voto para Daciolo), mas o eleitor médio, o aberto a discutir seu voto, esse sim pôde perceber de forma efetiva, o despreparo do político profissional Jair Bolsonaro. 


Guilherme Boulos (PSOL) 

Vejam que o candidato evolui a cada entrevista, a cada debate. Na nossa crônica do debate na BAND, apontamos que ainda havia um elevar de tom que poderia assustar o eleitor médio (aquele que não tem uma ideologia definida), não sei se o candidato ou alguém ligado a ele leu, ou foi natural, ou o alerta foi gerado por outras críticas, mas o fato é que o candidato melhorou muito nesse aspecto, continuou batendo pesado nos pontos que a Esquerda bate e que tem de seguir batendo, mas não é o volume com que se coloca a coisa e sim a força da ideia e ela foi colocada com elegância, com luva de pelica, isso foi uma evolução importante a meu ver na apresentação do candidato. 

Boulos sabe como se comunicar com o trabalhador, com a grande massa, fala em linguagem simples, direta, usa muito bem o tempo que tem e tem propostas claras, inclusive no campo econômico, vai se estabelecendo como um quadro importante á Esquerda, ainda mais perante as indefinições envolvendo Lula. 


Ciro Gomes (PDT) 

O Debate da BAND dava a opção excessivamente da escolha de com quem se debater, a repetição de confrontos, com isso os candidatos partiam pra estratégia defensiva, de trocar figurinhas e com isso Ciro acabou sendo o mais prejudicado naquela oportunidade, tendo muito pouco espaço e ainda perdendo tempo com URSAL. 

Neste debate Ciro apareceu um pouco mais, pôde falar mais de Economia apesar do curtíssimo tempo de resposta como já dito acima, teve o confronto mais esperado, contra Geraldo Alckmin, onde sem o PT até aqui, aceitando ou não, são as duas maiores forças políticas e programáticas do pleito e foi bem, poderia ter ido melhor com mais tempo, sua elegância pode lhe ter tirado alguns segundos, mas deu para o espectador ao menos começar a entender suas ideias no campo econômico, o grande start então da sua campanha passa a ser este debate, nem foi o da emissora do Morumbi. 

Um ponto que a meu ver vale tocar (quem sou eu pra dar dica a Ciro, mas...) é que o candidato acaba entrando muito tecnicamente nas questões, isso para aqueles que acompanham, que entendem efetivamente os problemas do Brasil de forma técnica é maravilhoso, mas o eleitor médio não entende quase nada. Mais objetividade, pretensamente eu lanço a ideia. 


Álvaro Dias (Podemos) 

Talvez o Senador Àlvaro Dias tenha ficado confuso se pode ou não usar tanto assim o nome de Sérgio Moro em sua campanha (afinal, Dias já não é do PSDB) após as reticências do juiz sobre seu convite para integrar uma espécie de Ministério da Lava-Jato. Com isso, parte da bravata foi superada, mas a grande plataforma do candidato segue sendo o tal do combate a corrupção, uma conversa mole que salvo o habitual eleitor dele, no Paraná e nos demais estados da região Sul, não deve enganar o eleitor. 

Não é mais do que obrigação do representante público ser honesto. Combater a corrupção é muito simples, é só não lotear cargos, não fazer alianças escusas que nada tenham de proximidade programática e ideológica (pois é PT...) e fiscalizar todas as pastas e áreas da gestão pública, basta NÃO QUERER o favorecimento ilícito que está limada a corrupção, política de Estado tem de ser PARA O POVO e não contra algo que nem deveria existir. Falando nisso, o momento mais hilário da participação dele foi quando criticou Alckmin por se aliar ao centrão, mas admitiu que desejava e lamentou não ter feito a aliança, dizendo que "O Centrão não se aliou a melhor opção para o Brasil", é difícil. 


Ivo Meirelles (MDB) 

Realmente fica difícil entender o que o MDB quis nessa eleição, é um partido essencialmente federalista, parlamentar na concepção federal e que faz uma política de comando dos pequenos municípios do Brasil, onde deles forma seus deputados e assim a máquina gira, então, o que será que explica essa candidatura? 

A vaidade em mostrar que Temer supostamente fez realizações pelo Brasil é uma resposta bastante satisfatória para a pergunta. Meirelles não é político profissional, leia-se, talvez por isso esteja enfrentando muitas dificuldades, falando com Ar de professor, mas não explicando exatamente o que e como vai fazer, jogando frases soltas no Ar, como a da "valorização da mulher", que não teve sentido algum que não o demagógico naquele momento, onde Temer valorizou a mulher em seu mandato. É uma vaidade partidária que configura tiro no pé, pois Meirelles se esconde o quanto pode e não pode da figura de Temer, até mesmo se remetendo a Lula. 


Geraldo Alckmin (PSDB) 

A gente já falou disso e fica até repetitivo, desculpem, mas embora a oposição ideológica e de visão de gestão pública seja total, a dialética de Alckmin é elogiável, ele não diz nada, mas faz parecer que disse tudo. 

Foi por conta dessa objetividade e dessa facilidade de se dirigir ao eleitor que ele não "saiu perdendo" nos confrontos que teve ante Ciro, saiu de forma satisfatória, conseguindo dirigir-se ao eleitor de forma objetiva, mesmo que com um conteúdo quase nulo. 

A Direita estava sentindo falta de ataques mais diretos ao PT (um abraço para os amigos da JP) e o ex-Governador seguiu essa demanda e atacou fortemente o rival histórico em algumas oportunidades, tanto no confronto contra Ciro, como no ponto alto, afirmando que: "40 dos 50 'tons de Temer' são do PT, foram vocês que colocaram eles lá", crítica essa que faz todo sentido. Quem que conhecendo o PT imaginaria que este se ilaria a Temer e a todos os outros que não cabe mencionar aqui? O ÓBVIO aconteceu, foi duramente golpeado, a crítica apesar de oportunista e vir do cara errado, é totalmente válida. 


Marina Silva (REDE) 

Por fim, Marina, que nota-se (ao menos na minha análise) um certo cansaço na candidata, no começo estava um pouco desconectada, mas foi ganhando confiança e acabou já perto do fim protagonizando o grande momento do debate, o momento em que Jair foi colocado contra a parede (aliás, há um filme nacional fantástico com esse nome, que envolve disputa presidencial e jornalismo, vejam). 

Marina se colocou no seu antigo papel, como defensora das mulheres e do Estado Democrático, criticando a postura de Bolsonaro em minimizar o sofrimento das mulheres ao receberem menos e serem mais dispensadas de seu trabalho por conta de gravidez e outras características que fazem com que alguns empresários se vejam no "direito" de subjugar a mulher em relação ao homem. Falou também da característica do candidato em querer ganhar tudo no grito e na bala, saiu muito fortalecida disso, acordou para a campanha, embora isso não mude o voto convicto no deputado. 

Rapidamente, duas coisas agradam nas propostas da candidata, a ideia de Reforma Política sem tocar a todo momento no engessamento promovido pelo voto distrital misto, que honestamente, não vai promover nada mais que o estabelecimento dos caciques políticos que aí estão, não se deixem enganar. A Reforma proposta pela candidata é muito mais objetiva, falando do aumento de mandato para 5 anos com fim da reeleição (o que discordo, mas isso é da democracia), com limite de dois mandatos para o congresso, o que é importante, dentre outras medidas, foi a primeira a apresentar uma proposta de Reforma Política sem conversa mole e com termos que interessam a sociedade e não aos próprios políticos. E a outra é que agrada essa ideia do chamamento da sociedade aos debates através de plebiscitos, se a representação popular, que são os parlamentares, NÃO FUNCIONA, nada melhor que a democracia direta. 



E para vocês, houve algum "vencedor" do Debate? O que acrescentariam nas nossas observações? Opinem! 




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Imagens: Reprodução RedeTV! e Reuters. 


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Adriano Garcia

Amante da comunicação escrita e falada, cronista desde os 15 anos, mas apaixonado pela comunicação, seja esportiva ou com visão social desde criança. Amante da boa música e um Ser que busca fazer o melhor a cada dia.

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