Com Alemanha, México, Suécia e Coreia do Sul, o Grupo F da Copa do Mundo deve ser um dos mais previsíveis da competição. A atual campeã mundial é a principal seleção da chave e provavelmente não terá dificuldades para superar seus rivais. Enquanto isso, mexicanos e suecos estão na frente na disputa diante dos sul-coreanos.


                                                                        Mário André Monteiro
A Alemanha sabia que seu ciclo marcaria uma transição logo após a conquista da Copa do Mundo de 2014. Philipp Lahm e Miroslav Klose se aposentaram da equipe nacional, assim como o reserva Per Mertesacker. Mas antes as preocupações se limitassem a isso. Vários outros foram os entraves de Joachim Löw, entre a queda de desempenho de protagonistas (como Bastian Schweinsteiger), as lesões frequentes de potenciais titulares (Marco Reus, Ilkay Gündogan) e as frustrações de talentos que não cumpriram tudo aquilo que prometiam (sim, estou falando principalmente de Mario Götze).
Mesmo com estas questões, a Alemanha ainda conta com uma grande oferta de bons jogadores, em processo de renovação constante. E não foi tão difícil se classificar à Eurocopa. O problema estava em alguns resultados que indicavam certas indagações, como as derrotas históricas para Polônia e Irlanda, assim como um monte de tropeços em amistosos – que incluíram derrotas para Argentina, Estados Unidos e França entre 2014 e 2015, este último em meio ao caos dos atentados no Stade de France. Empatar com a Austrália também não animava. Já na preparação à Euro 2016, derrotas para Inglaterra e Eslováquia.
Neste cenário, era natural que alguns ficassem com um pé atrás sobre a campanha da Alemanha na Eurocopa. E, de fato, o Nationalelf esteve distante de encantar. Fez algumas partidas burocráticas e contou com alguns brilhos individuais, em especial de Toni Kroos. Mas, ainda que aquém de seu melhor, foi derrubando a concorrência. Deu o troco na Eslováquia nas oitavas e também superou a Itália nas quartas, num jogo duríssimo, só resolvido nos pênaltis. Por fim, a queda na semifinal, em que dominaram a posse de bola e foram bem menos efetivos que a França. Após a eliminação, mais algumas aposentadorias, como de Schweinsteiger e Podolski – dois nomes importantes no ciclo vitorioso até 2014, mas longe de contar com a mesma influência.
O sorteio das Eliminatórias para a Copa de 2018 facilitou a vida da Alemanha. Pegou um grupo fraco, no qual manteve os 100% de aproveitamento. Foi uma campanha realmente arrasadora, em que as vitórias garantidas por lampejo se transformaram em frequentes goleadas acachapantes na reta final. Até parecia que o Nationalelf se acertava, jogando por música – em especial, no massacre por 6 a 0 contra a Noruega. Concomitantemente, nos dois últimos anos, Löw soube aproveitar as competições continentais para ajustar o elenco. Os Jogos Olímpicos serviram para garimpar atletas, mesmo que alguns dos principais nomes da geração não tenham vindo ao Rio de Janeiro. Já a Copa das Confederações foi claramente um laboratório, mas que serviu para oferecer certezas a Löw e até mesmo projetar algumas peças à escalação titular. E enfim, surgia o Mundial.
Se há uma desconfiança sobre a Alemanha, é por conta dos amistosos a partir de novembro. O problema é que o time não mostrou muito nestas partidas. Ok, eles não são definitivos, mas servem de termômetro. E o do Nationalelf esteve frio na maior parte dos compromissos. Exceção feita à partidaça contra a Espanha, em empate por 1 a 1 que ficou barato pela intensidade de ambos os times, não se viu mais o “modo Copa” no time de Joachim Löw. As cornetas soaram com a apática atuação na derrota ante a Áustria. Quando a Arábia Saudita poderia ter servido de sparring, o triunfo por 2 a 1 contou com um sufoco dos germânicos.
Ainda é um conjunto muito forte. E ainda é uma seleção que costuma se transformar em um monstro a cada Mundial. Mas o desempenho recente, unido à queda de alguns jogadores importantes, deixa uma pulga atrás da orelha. A Alemanha precisa ligar o “modo Copa” logo na estreia, porque o Grupo F pode não dar margem a manobras. Se ligar, vai ser difícil de segurar os tetracampeões.
                                                                              Federação Mexicana de Futebol
O México viveu dias até tranquilos no seu caminho rumo à Rússia. Logo no início do ciclo, houve uma mudança no comando. O técnico Juan Carlos Osorio foi contratado no segundo semestre de 2015 para dirigir o time, após a saída de Miguel Herrera, que tinha acabado de ser campeão da Copa Ouro, mas se envolveu em uma briga física com Christian Martinoli, da TV Azteca, que era crítico do trabalho do treinador.
O estilo do treinador colombiano, ex-Atlético Nacional, causou um impacto inicial. Pela quarta fase das Eliminatórias, o time passou com tranquilidade, com 16 pontos, avançando ao hexagonal final sem problemas. O time carregava uma invencibilidade de 16 jogos, desde junho de 2015, ainda com Herrera, quando chegou à Copa América Centenário, em 2016. Liderou o seu grupo, derrotando Uruguai e Jamaica e empatando com a Venezuela. Nas quartas de final, porém, tomou uma goleada humilhante por 7 a 0 do Chile, encerrando a série invicta com 22 jogos. As críticas, então, foram pesadas.
A classificação para a Copa do Mundo veio com tranquilidade. Em setembro de 2017, depois de uma vitória sobre o Panamá por 1 a 0, o México garantiu sua vaga. Chega à Copa do Mundo com esperanças, um grupo experiente, com nove jogadores com 30 anos ou mais – sendo o goleiro Jesús Corona, com 37,  e Rafael Márquez, 39, os mais experientes.
                                                                                 Jonathan Nackstrand/France Press
A Eurocopa da França foi simbólica para a Suécia. Primeiro, pela campanha desastrosa: um empate, duas derrotas e a lanterna do grupo. Ao fim do torneio, Zlatan Ibrahimovic aposentou-se da seleção. O técnico Erik Hamrén estava à frente do time desde 2009 e pediu o boné. Assumiu Janne Andersson, o único treinador que conseguiu quebrar a sequência de títulos suecos do Malmö nos últimos cinco anos, no comando do Norrköping, em 2015. Sorteada no grupo de França e Holanda, poucos imaginavam ver a Suécia na Copa do Mundo da Rússia.
Mas a pressão mais leve produziu uma boa campanha. Ficou invicta dentro de casa, com quatro vitórias e um empate. Apesar de o sistema defensivo ter sido o pilar do sucesso, o ataque também foi determinante, com goleadas por 8 a 0 sobre Luxemburgo e duas por 4 a 0 sobre Belarus, já que, no fim das contas, a Suécia ficou com os mesmos 19 pontos da Holanda e se classificou à repescagem no saldo de gols: 17 a 9. E isso porque perdeu o confronto direto da última rodada, por 2 a 0, quando já estava praticamente garantida na próxima fase.
O segundo lugar em um grupo com duas camisas pesadas já foi motivo de comemoração para uma seleção que não tinha mais nenhuma grande estrela. Contra a Itália na repescagem, mais uma vez a Suécia precisaria superar as expectativas para aparecer na relação de 32 seleções do Mundial. Jakob Johansson fez o único gol do jogo de ida para os donos da casa. Na volta, os suecos resistiram à pressão italiana no San Siro e mais uma vez surpreenderam.
Andersson tomou uma decisão que pode voltar para assombrá-lo. Com a classificação da Suécia, Zlatan Ibrahimovic colocou-se novamente à disposição da seleção nacional, mas o técnico decidiu não o levar para a Rússia. Seu medo era comprometer a união do elenco que encontrou no espírito coletivo sua maior força, introduzindo uma grande estrela, que atrairia os holofotes e, no fim das contas, não havia sofrido durante as eliminatórias como os outros. Justa ou não, foi uma escolha corajosa de Andersson. Se as coisas derem errado na Rússia, podemos esperar críticas por ele ter aberto mão de todo o talento do jogador do Los Angeles Galaxy.
                                                                    Jung Yeon-je / AFP
Depois de uma campanha fraca na Copa do Mundo do Brasil, lanterna de um grupo longe de ser o mais difícil da competição (Bélgica, Argélia e Rússia), a Coreia do Sul contratou o técnico alemão Uli Stielike, que teve consideravelmente mais sucesso como jogador do que como treinador. Mas ele deu uma ajeitada na equipe. No começo de 2015, quebrou um jejum de 27 anos sem uma final de Copa da Ásia. Na decisão de Sydney, porém, perdeu para a dona da casa Austrália.
Ainda foi um bom resultado, e mais otimismo apareceu com a boa campanha na Olimpíada do Rio de Janeiro, liderando o grupo que tinha a Alemanha e México, embora a derrota para Honduras, nas quartas de final, tenha deixado um gosto amargo. Havia com o que trabalhar para o futuro. No entanto, o entusiasmo do começo do ciclo não chegou às Eliminatórias Asiáticas.
A Coreia do Sul passou com 100% de aproveitamento na segunda fase do torneio, quando os grandes times do continente enfrentam seleções mais fracas. Venceu todos os jogos contra Laos, Mianmar, Kuwait e Líbano. Na terceira rodada, quando o bicho pega de verdade, caiu no grupo de Irã, Síria, Uzbequistão, China e Catar. E aí, as coisas começaram a dar errado.
O time nunca engrenou. Nunca venceu duas partidas seguidas. Nunca ganhou fora de casa. Perdeu para Irã, China e Catar longe dos seus domínios, além de empatar com a Síria. Conseguiu se manter na briga graças aos resultados em Seul. Depois de perder para o Catar, por 3 a 2, Stielike foi demitido. A Coreia do Sul recorreu ao auxiliar Shin Tae-yong, que trabalhava nas categorias de base e comandou a campanha no Rio de Janeiro. Estava na seleção desde 2015.
Shin Tae-yong não conseguiu manter o aproveitamento da seleção sul-coreana em casa e apenas empatou com o Irã, partida que poderia dar mais respiro para a rodada final. A Coreia do Sul precisava segurar o Uzbequistão, fora de casa, e torcer contra uma surpresa síria diante do líder Irã, em Teerã. No fim, com algum susto de serem jogados para a repescagem, dois empates nesses jogos classificaram os sul-coreanos para a Copa do Mundo pela nona vez seguida.
Mas a equipe inspira pouca confiança. As duas partidas oficiais de Shin Tae-yong à frente da seleção terminaram em 0 a 0. Os amistosos não ajudaram muito, mesmo sem enfrentar nenhuma grande potência. As únicas vitórias foram contra Letônia, Moldávia e Honduras. Houve derrotas para Irlanda do Norte, Polônia Bósnia e Senegal, além de empates com Jamaica e Bolívia e uma derrota para o próprio Senegal. 


A Alemanha na prática não pegou um grupo dos mais fáceis. Tem pela frente a seleção mexicana de Juan Carlos Osório, tentando finalmente passar das oitavas de final – embora o cruzamento mais provável seja com o Brasil. A Suécia não tem tanta qualidade, mas mostrou muita força e coletividade nas eliminatórias. E a Coreia do Sul, embora enfraquecida, tem experiência de Copa do Mundo. Está na sua nona participação seguida.



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Gustavo Araujo

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