Nas contas do rosário político, PT baseia candidatura do ex-presidente em pesquisas de intenções de voto 

No último dia 07/06 o ex-presidente Lula, maior figura política do País, completou dois meses preso nas dependências da PF em Curitiba, no Paraná. Apesar de seu encarceramento, Lula leu 21 livros, com média de 55 páginas por dia, e influencia – demais – às tratativas do PT e da esquerda de maneira geral para as próximas eleições. Toda negociação envolvendo o espectro canhoto da política brasileira parece necessitar do crivo do ex-presidente. Aos que afirmam, em discurso, “respeitar o tempo do PT” – tempo abstrato e subjetivo, a propósito -, parecem não respeitar tanto assim e devem “comer cru”, ou melhor, comer à direita (clique!).
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)
Se no início do ano havia movimento por uma frente única de esquerda para o pleito de outubro, hoje ele parece ter perdido força. Até mesmo o manifesto “Frente pela Democracia, Soberania e Direitos do Povo”, divulgado pelos presidentes do PT, PDT, PSB, PCB, PCO, PC do B e PSOL em abril, com propostas básicas que seriam implantadas em um eventual governo do espectro partir de 2019, foi relegado à vala comum das ideias furadas e deixou de carregar a importância do catalizador de votos e esperança que outrora parecia ser - quando se ouvia suspiros com a formação do “dream team” entre Ciro e Haddad.  Toda a articulação de Ciro, agora em tratativas com setores mais conservadores da política nacional, e a falta de desejo – tesão mesmo –  da esquerda em montar uma frente que a represente é muito por conta do tal “tempo do PT”. Aliás, vale adjetivos: “tempo lento e angustiante do PT”.

O tempo, mesmo que lento e angustiante, do PT tem razão para existir. Os levantamentos de intenções de voto ou de avaliação partidária, que pipocam em anos eleitorais, reproduzem em gráficos o porquê do Partido dos Trabalhadores optar por atuar da maneira que vem atuando: lançamento e manutenção da candidatura de Lula mesmo que ela venha a ser cassada pela justiça eleitoral quando da inscrição em 15 de agosto próximo, último dia para o registro de candidatos junto no Tribunal Superior Eleitoral, o TSE. Em um país em que parte de seus candidatos, seja na esfera municipal, estadual ou nacional, é autorizada a participar de pleitos sub judice, por meio de liminares, acreditar na candidatura do ex-presidente mesmo que preso não é loucura e possível.

Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)
Apesar de a chamada Lei da Ficha Limpa dar base à impugnação da candidatura do ex-presidente por parte dos ministros do TSE – e eles o farão sob a coordenação do ministro Luiz Fux, presidente do Tribunal -, o PT a mantém porque sabe que ainda é o partido mais preferido ou aquele com mais simpatizantes entre as legendas partidárias – na casa de 19% do eleitorado diz ter preferência pelo PT, segundo pesquisa CNI/IBOPE -, e tem o seu candidato à Presidência da República liderando todos os cenários para as eleições de outubro – a última, do Instituto Datafolha, divulgada no domingo 10/06, traz Lula com mais de 30% em todos os quadros em que está presente, quando os concorrentes se esforçam para chegar a dois dígitos e, quando conseguem, não alcançam 20%.
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)
Eleitoralmente, o ex-presidente Lula é o mais valioso ativo político e a estratégica de seu partido, apesar de retardar uma definição para outubro, inclusive para o seu eleitorado, não parece descabida. E a propósito, o eleitorado é fiel a Lula. A observar pelo alto índice de brancos e nulos quando o ex-presidente não está no páreo – 28% nos cenários analisados pelo Datafolha -, seu eleitorado hoje não aceitaria outra definição que não a candidatura de Lula.

Sem definição de candidato à vice-presidente na chapa, que poderia vir a substituir o ex-presidente em uma eventual impugnação, o PT lançou oficialmente Lula sob o lema “Brasil feliz de novo” (vídeo abaixo).

                                                                       Vídeo: Canal "Partido dos Trabalhadores", no Youtube

Nesta semana o ex-presidente se viu no centro de uma discussão: afinal o rosário foi ou não um presente do papa Francisco? Parece que não. O objeto teria sido um presente pessoal do advogado argentino Juan Grabois, ex-consultor do Vaticano e simpatizante de Lula, e se tratava de apenas mais um terço abençoado pelo pontífice em um daqueles momentos em que benze artigos de fiéis que vão à Santa Sé, no Vaticano. 

Nas contas do rosário político, o PT deve seguir para as eleições de outubro do jeito e maneira que sempre foi: cabeça de chapa com parceiros e concorrentes de longa data.


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Claudio Porto

Jornalista independente.

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4 comments so far,Add yours

  1. Belo texto companheiro Claudio! Veja, hoje teve Live do Lula, que segue muito esclarecido, muito preparado, é uma sentença e uma prisão absolutamente política, porém baseada em um teatro que segue os ritos legais, penso ser muito difícil que Lula saia da condição atual, ao menos em tempo para ser o candidato do PT.

    Sobre Ciro, como já dito no texto anterior, capacidade e ideais para ser o "substituto" de Lula no combate ao avanço do radicalismo seja a nível neoliberal com a doação do que é nosso ao capital estrangeiro, seja no ultraconservadorismo de um dito super-herói moralista sem moral. Mas...Há que ver se Ciro vai querer mesmo representar esse anseio ou vai depois de muitos anos e de um afastamento da política justamente por esse desprendimento, sucumbir a sede de poder e fazer alianças escusas.

    Caso isso ocorra, eu ainda acredito na "transferência de votos" que Lula possa exercer, mas na atual condição isso é frágil, não vejo que o PT ou seus aliados históricos PCdoB e Boulos (que mesmo petista, encabeça chapa do PSOL) tenham a possibilidade de receber e sustentar essa massa de votos e anseios que veem em Lula a esperança de recolocar o país no caminho anterior, que era da diminuição da desigualdade social e do progresso.

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    1. Perfeito, Adriano. E mais, esse eleitor de Lula será o verdadeiro "fiel da balança" no pleito de outubro. Engana-se (quando não o faz por puro maucaratismo) aquele que desconsidera este fato e difunde ideias rasas sobre o poder de Lula e, como abordado no artigo, de seu partido, o PT.

      Agradeço pelo comentário.

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  2. minha familia vota pt, vota Lula, são sete membros, e não abre mão. sou de Manaus.

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  3. Votar no PT ou em qualquer outra agremiação política faz parte do Estado Democrático de Direito, e isso é muito saudável. Aliás, está aí algo que anda em falta atualmente: respeito ao bom funcionamento do Estado Democrático de Direito.

    Obrigado pelo comentário.

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