Movimento dos caminhoneiros foi difuso, sem ideias claras e talvez não um locaute propriamente dito; o intenso apoio de empresários do setor de transportes é inegável


Dias turbulentos assombraram o País e atingiram, em cheio, o que ainda restava de um (des)governo desacreditado, que, segundo analistas de pensamentos rasos regidos cegamente por cifrões, perdeu força lá em 17 de maio de 2017 quando da divulgação pelo jornal O Globo das gravações nos porões do Jaburu. Para este blog, o (des)governo Temer, apesar de legitimo aos olhos da Constituição – o presidente Michel Temer compôs a chapa petista da ex-presidente Dilma Rousseff -, nunca existiu enquanto governo sem o prefixo “(des)”, muito menos no que diz respeito ao status democrático que ele também não fez questão alguma de preservar.  Temer e suas medidas dão conta de um (des)governo elitista, classista e de interesses bem delimitados, que tentaram ao longo desses dois anos emplacar a volta do trabalho análogo à escravidão e a extinção de reservas nacionais, tendo conseguido a flexibilização da cadeia de seguridade social da classe trabalhadora e a entrega de ativos públicos à iniciativa privada, principalmente à internacional.

Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)


Até janeiro deste ano o (des)governo acreditava na aprovação da contrarreforma da Previdência. A falta de confiança na “base não tão aliada assim”, no Congresso, fez Temer e sua equipe repensarem como levar este ano eleitoral e decidiram pela intervenção no Rio. Os militares foram convocados, tomaram o Rio de Janeiro, principalmente os morros cariocas, e estabeleceram métodos pouco condizentes com o que prevê a Carta Universal dos Direitos Humanos. De fichamento de moradores a “Quem matou Marielle e Anderson?”, pergunta feita há mais de 80 dias após a execução brutal de uma vereadora e seu motorista na região central do Rio de Janeiro, a intervenção de Temer na segurança pública fluminense carrega mais aspectos eleitoreiros do que apresenta planos estratégicos de inteligência e integração das forças de segurança. O presidente, como bom espectador do desastre e indiferente, já dava como certo que seu (des)governo teria apenas de manter a “casa” minimante organizada até o final do ano enquanto trabalhava para manter o foro por prerrogativa de função após deixar a Presidência da República no próximo ano. Até o momento em que a turma da boleia começou a bloquear rodovias por todo o País, o presidente Temer só não queria cair no “tanque de piranhas lavajatistas” da primeira instância da justiça brasileira.

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Organizado pelo Whatsapp e regido por empresários do setor de logística, o movimento de caminhoneiros que bloqueou rodovias de todo o País, e levou ao desabastecimento de centros de distribuição de alimentos e, principalmente, de postos de combustíveis, não suspendeu o eixo para atropelar o sossego de Temer e de sua política de preços para os combustíveis, especialmente do óleo diesel. Foram dez dias de um caos desnecessário, ora apoiado veladamente pela mídia tradicional, ora criminalizado pela mesma, que não compreendeu as razões para a crise governamental instaurada tão inesperadamente. 


Entre as reivindicações, apenas a redução no preço do diesel, que tem sofrido alteração quase que diariamente por conta da política da Petrobrás, mostrou-se de interesse, digamos, popular.  De resto, a pauta com demandas trouxe pontos como a retirada do setor de transportes do projeto de reoneração da folha, a redução da carga tributária e a extinção, apenas para o setor, de impostos específicos como zerar o PIS/COFINS e a CIDE. Ou seja, um pouco mais do mesmo que acostumamos ver nos meses de (des)governo: o empresariado usando-se de sua força e influência em troca de benesses políticas, com a diferença que dessa vez a categoria de caminhoneiros, infelizmente, foi utilizada como massa de manobra.  


Na boleia, caminhoneiros impediam outros caminhoneiros de trafegar. Em Brasília, os acordos iam sendo costurados. Na entidade impessoal chamada “mercado financeiro”, acionistas chantageavam o (des)governo Temer com a venda desesperada de papéis da Petrobrás e a desvalorização da estatal no mercado de ações. No final das contas, programas sociais serão sacrificados na ordem de 1 bilhão de reais para cumprir a promessa do (des)governo de retirar 0,46 centavos do preço do óleo diesel por 60 dias. 

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O movimento foi acompanhado de perto por “cidadãos de bem”, que voltaram a tomar as ruas com suas camisetas verde e amarelo, tornaram a bater suas panelas aço inox e, pior, na falta de petista no poder clamaram por intervenção militar, sem se dar conta de que, sob um eventual governo militar, manifestações ou protestos não são admitidos. Aos pseudointervencionistas e apoiadores de maneira geral, o (des)governo não mexeu na política de preços de gás envasado, álcool e gasolina. No último caso, o reajuste em 2,25% ou 0,04 centavos a mais no preço do combustível nas refinarias veio no sábado 2 de junho. 
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Os pseudointervencionistas também engrossaram o coro que pedia pela saída de Pedro Parente do comando da Petrobrás. Parente deixou a estatal e agora poderá se dedicar integralmente ao conselho administrativo da BRF, onde é presidente desde 26 de abril. No mesmo dia da demissão, a sexta-feira 1 de junho, enquanto os papeis da Petrobrás despencavam na casa de 15%, os da BRF saltavam e encerraram o pregão com alta de 9%. Agora no comando da Petrobrás, que não deixará a política do mercado de lado, Ivan Monteiro, um “financeiro conservador” e por isso um “desastre” para a petrolífera, segundo o jornalista Luís Nassif, do “Jornal GGN”. 


Para o articulista, o movimento dos caminhoneiros foi difuso, sem ideias claras e talvez não um locaute propriamente dito. Houve sim o apoio de empresários do setor de transportes - leia-se “apoio” e não “organização” -, que agiram como maestros de uma orquestra já formada, mas não o bastante para configurar a prática vedada pelo Art. nº 722 da CLT.
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Complexos, talvez não na mesma medida das chamadas “Jornadas de Junho”, em 2013, os dias que levaram o País ao caos pediam que sua história fosse contada não enquanto ocorriam os bloqueios e as reivindicações, mas, se possível, com amarração somente após toda a convulsão.


Ao final, na iminência das eleições e agora com um orçamento ainda mais travado, o Estado brasileiro parece não caminhar por outra trilha que não a do sucateamento de suas funções.  Atentos a este momento, cabe ao seu povo pensar mais antes de embarcar na boleia de qualquer movimento.

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Claudio Porto

Jornalista independente.

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1 comments so far,Add yours

  1. Muito bem Claudio, penso da mesma maneira, a desculpa do (des)governo de que "para organizar" o movimento seria necessária uma "grande infra-estrutura logística" é uma balela total, o movimento dos Patos ao redor do país que levaram Temer ao poder foi organizado através do Facebook e este através do Whatsapp, claro, com apoio dos empresários do setor sim, mas nada que caracterize prova (apesar que neste país se condena SEM provas) um Locaute.

    A se lamentar que isto não tenha gerado uma GREVE GERAL onde o povo pedisse a redução da carga tributária em TODOS os combustíveis sem que outras áreas fossem atingidas. Somos autossuficientes em Petróleo, não há razão para tabelar com base no preço de fora, nem comprar matéria prima "do estrangeiro", fazem isso pra vender a empresa, como fazem todo esse repasse nas costas do povo justamente para gerar a insatisfação com a empresa e fazer com que o povo abrace a ideia da desestatização.

    Lamenta-se também que este movimento tenha se isolado tanto do interesse comum e que parte dele tenha sido contaminado pela loucura, ao pedir intervenção "alienígena", pegou muito mal.

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