(Des)governo sabe dos números e aproveita-se da falta do devido debate sobre a ineficácia de seus desmandos camuflados de políticas públicas para, com o Congresso focado no pleito de outubro, fingir não enxergar os problemas do País


Quinto mês do ano pelo calendário gregoriano, Maio é dedicado às mães, às noivas e aos trabalhadores. No Brasil, o mês serve de – má - recordação daquilo que talvez tenha sido o início do fim. Aos doze dias de Maio de 2016, após toda a parafernália que compôs o enredo de conspirações que levaram à queda da ex-presidente Dilma Rousseff, Temer foi notificado sobre a manobra política travestida de impeachment, assumiu o comando do País e condenou o mês de Maio como sendo o início de um fim que no próximo dia 12 de maio completa dois anos.
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)

O presidente-nosferatu Michel Temer não apenas assumiu o Poder. Ele e as modernas aldeias - as redes sociais – abriram as catacumbas preconceituosas, classistas e racistas que imaginávamos ter ficado em seu lugar histórico – no passado.  No estilo “Mundo Invertido” da série estadunidense Stranger Things – Coisas Estranhas em tradução livre -, Temer age, implanta sua dita “Ponte para o Futuro” com apoio cego de parte considerável da mídia brasileira, aniquila direitos e comercializa bens públicos ao capital estrangeiro, enquanto “tudo vai bem/ tudo legal” de Comportamento Geral, por Gonzaguinha. 


No mais recente ato de nossa tragédia diária e temerária, a tal modernização que viria com as mudanças da contrarreforma trabalhista, como imaginado e alertado – ao menos por este blog -, não veio e o arrependimento parece ter batido à porta dos pseudo-modernistas. Talvez não arrependimento, mas mais amostras de quão contraditórios são os discursos de quem apoiou, à época, mudanças a toque de caixa e influenciadas por empresários com trânsito livre entre os parlamentares.
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Sem levar em consideração as demandas da classe trabalhadora, a contrarreforma criminalizou a figura dos sindicatos, que prontamente foram tachados de corruptos e bandidos por congressistas investigados – alguns já réus -, e fragilizou – para não dizer que destruiu - toda uma rede de seguridade lançada por Getúlio Vargas e que vinha sendo atualizada em incansáveis lutas, longas greves e, principalmente, através do diálogo que parecia maduro.


Nas manchetes, jornais de grande circulação que cederam o apoio à contrarreforma em troca de algumas cotas de publicidade estatal tiveram que noticiar os efeitos perversos e diretos das alterações. Na edição de 26/03, o jornal Folha de S. Paulo estampou em sua capa, com letras garrafais, que a “Informalidade ameaça alta do PIB neste ano”, com linha fina afirmando que a “renda dos sem carteira assinada é menor e já afeta consumo das famílias”. Neste caso, a reportagem foca em apenas um ponto trazido pelas alterações: a não obrigatoriedade do registro em carteira e o fim da estabilidade do empregado, ao mesmo tempo em que gera maior liberdade de negociação ao empregador. Ou seja, obviedades que deveriam ter sido repercutidas ainda em época das tratativas da contrarreforma, mas que foram caladas em parte por desejo da posição ideológica do veículo de mídia e, em parte, pela intervenção publicitária do (des)governo.
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O (des)governo havia prometido e cumpriu a promessa de enviar uma Medida Provisória para ajustes em inúmeros pontos da contrarreforma. A MP 808 foi enviada pelo Executivo ao Congresso, mas caducou e perdeu validade no último dia 23/04. 


Nos dias que sucederam a promulgação da contrarreforma, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), se negava pautar a Medida e dizia que não reaveria pontos como a permissão para mulheres gestantes e lactantes exercerem funções em ambientes insalubres, por exemplo. 


A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio - PNAD Contínua -, do IBGE, que no último artigo publicado por esta editoria norteou a crítica sobre o abismo social do País (clique!), desta vez trouxe a sustentação estatística necessária para não deixar dúvidas de que as mudanças da contrarreforma trabalhista só vieram a piorar as relações de trabalho, assim como elevou o número de brasileiros(as) desocupados(as).


De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego ficou em 13,1% e atingiu 13,7 milhões de pessoas no trimestre que compreende Janeiro-Fevereiro-Março. Alta de 11,8% em relação ao trimestre anterior. 


A PNAD Contínua destacou ainda a diminuição de postos de trabalho. Na Indústria, 327 mil pessoas perderam o emprego no trimestre JAN-FEV-MAR. No mesmo período, 389 mil e 396 mil pessoas entraram no grupo de brasileiros desocupados na Construção e Comércio, respectivamente. 


Como a assinatura na Carteira de Trabalho deixou de ser obrigatória, o número de brasileiros com registro em carteira diminuiu e, no trimestre analisado, fechou em 2,9 milhões de brasileiros(as), queda de 1,2% quando comparado com os três meses anteriores – Outubro/Novembro/Dezembro.


No total, ainda segundo o IBGE, são 90,6 milhões de pessoas ocupadas no País, sendo pouco mais de 27 milhões subempregadas, quando a remuneração e a carga horária são parciais, e não há estabilidade. 


O (des)governo sabe dos números, aproveita-se da falta do devido debate, por parte da opinião pública, sobre a ineficácia dos desmandos camuflados de políticas públicas para, com o Congresso focado no pleito de outubro, fingir não enxergar os problemas do País que destinou, no ano passado, apenas 76,9 bilhões em recursos para investimentos públicos, o mesmo que 1,7% do PIB, menor índice em cinco décadas. 


E este ano tem tudo para bater o nível pífio de investimentos públicos. Lembro que a Emenda 95, do Teto de Gastos – congelamento de investimentos -, aprovada ainda em 2016, começa a vigorar, em sua totalidade, neste ano. 

Somado aos desmandos que atingem principalmente a classe trabalhadora, há ainda as famílias que estão sendo excluídas do programa Bolsa Familia. Enquanto Temer anunciava, em discurso para cadeia de Rádio e TV, na segunda (30), véspera do Dia do Trabalhador, o reajuste em pouco mais de 5% no programa de distribuição de renda, seu (des)governo desligava mais de 390 mil famílias do programa. Parte da mídia define isso como sendo "pauta positiva" - o cronista fala do mísero reajuste em 5% e da omissão ou tratamento sem muita importância do elevado número de desligamentos.
 
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O brevíssimo resumo da sórdida ópera instalada no comando do País – que o leitor pode acompanhar em todos os seus atos na página de Política clicando aqui – mostra, com números, que a luta tem de ser permanente e precisa da colaboração de todos. O clima de “tudo vai bem/ tudo legal” é aparente e superficial como cantado brilhantemente por Gonzaguinha, em Comportamento Geral.  Nada está bem, nada está legal. 


Na música, o “tudo vai bem/ tudo legal” é sucedido por “cerveja, samba e amanhã Seu Zé, se acabarem com seu carnaval?”.  Perdido está aquele que ainda não percebeu que não haverá amanhã para se perder o carnaval.


                                                                                         Vídeo: Canal "TV Cultura Digital";

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Claudio Porto

Jornalista independente.

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