Quando lemos distopias, ideias que superam os parâmetros do
imaginário, nos deparamos sempre com um sistema controlador e um saboroso
personagem revolucionário que desafia a lógica e deseja mudar tudo e todos em
um curto tempo. Consideradas as duas principais distopias do século XX, Admirável Mundo Novo e 1984 dos britânicos Aldous Huxley e
George Orwell, respectivamente, contam com o saboroso personagem e o tais
sistemas controladores. Enquanto Huxley deposita nas alterações genéticas como
forma de se obter a estabilidade, Orwell vai além e determina que a propaganda,
por si só, seja capaz de manipular e, também, estabilizar sociedades recheadas
de seres humanos inconstantes.
Curiosamente em ambas as obras, os autores impõem, de certa
maneira, à figura feminina o papel de combustíveis na luta de seus personagens
principais. Elas estão ali, participando ativamente nas idealizações e
conspirações dos considerados desertores, compartilhando dos mesmos pensamentos
revolucionários, entretanto não são tratadas como Winston de Orwell, Bernard ou
Selvagem de Huxley.
Lenina, alfa mais
da sociedade “huxleyana”, e Julia, espécie
de mecânica das máquinas que produziam conteúdos de entretenimento para o
proletariado de Orwell, se relacionam, no mais pleno sentido, com os personagens
que elas indiretamente escolheram, por considerar que havia ali afinidade de
pensamentos e diagnósticos sobre as condições em que viviam. Tendo em vista isso, os casais, no caso de Admirável um trio amoroso, se formam,
não porque as garotas serviriam apenas de auxiliares, mas pelo encontro, quase que
platônico, dos ideais que cada um deles, os personagens, carregava. As mulheres
também guardavam e no caso de Lenina
e Julia empiricamente, o desejo de
mudança, o fim da submissão, a luta de modo geral.
Talvez os brilhantes Huxley e Orwell tenham cometido o erro
de considera-las personagens secundárias. Erro que não se priva apenas a eles,
mas a todo o contexto de sociedade do século XX. Impressiona que nem mesmo
quando se imagina uma sociedade distópica, os autores, mesmo que brilhantes,
conseguem desvencilhar de elementos milenares como o machismo.
A participação delas nas obras, ainda mais o fim melancólico
e quase imperceptível que ambas foram condenadas configuram o que, atualmente,
considera-se machismo. Não reconhecer que elas, ao menos, também compartilhavam
dos pensamentos de luta é, para o contemporâneo, machismo. Portanto, seguindo o contemporâneo, Huxley e
Orwell foram machistas por não tentaram desconstruir, também, a ideia de superioridade
masculina, assim como fizeram acabando com as limitações da Religião e a
exacerbação, por Huxley, ou impedimento total, de Orwell, as vontades do
instinto humano.
Distante de ser uma condenação, o possível machismo dos
saudosos só se faz possível de se levar em consideração porque eles mesmos, em
obras singulares como Admirável e 1984, permitem que o leitor pense a
respeito. Talvez esse tipo de pensamento faça parte do pacote de provocações
que os autores impuseram em suas obras.
De provocação em provocação as distopias questionam os
limites, imagináveis ou inimagináveis, de uma sociedade. E, sim, Huxley e Orwell sendo interventores fantásticos e bons maus homens
podem ter sido machistas.
Belo tema, eu honestamente não tenho opinião formada sobre, pois é preciso analisar o contexto da época e justamente, compreender nestas distopias, o que é provocação e o que é a crítica provocativa, isso dá uma reportagem interessante com leitoras, sobre como enxergam o papel da mulher nestas obras e se acham que está de acordo com o que deveria ser, pra ser o que a garotada chama de "Crítica social 'foda'" também nesse aspecto.
ResponderExcluirExcelente!