Distante de ser um dia efêmero e simples, ou apenas mais uma
sexta-feira, este é o dia. Dia em que, segundo a tradição cristã, especialmente
a Igreja Católica, se recorda os últimos momentos da paixão e morte daquele
que, segundo a tradição cristã, esteve por aqui carregando a missão de salvar os
Homens de um logo ali infernal.
A história contada por relatos publicados no livro mais
vendido e lido na Terra diz que este, o Nazareno, passou sua vida de mensageiro
celestial onde hoje são terras palestinas. Os relatos ainda dão conta da
perseguição e exílio que integraram a vida do mensageiro, assim como ocorre com
os milhões que comovem o mundo hoje. Mesmo havendo contestação sobre a veracidade de
todos esses fatos, especialmente em relação ao exagero cativante empregado nas
publicações, o predestinado a salvar o mundo, mesmo que mais de dois mil atrás,
já convivia com problemas que nos parecem contemporâneos, do pós-moderno.
Na personificação de Herodes, o desespero peculiar de
lideres temerários a perda do Poder. No desterro, a imposição fria e seca a adaptabilidade
do Homem que, ainda hoje em algumas partes do mundo, segue sendo enxotado de
suas terras. Já mais adiante, no ato de sua paixão, os relatos convidam a uma escolha.
Nesse ponto, os judeus, à época, optaram por Barrabás em vez de o Nazareno. A
escolha, segundo tais escrituras, de um assassino confesso levou ao
flagelo e morte daquele que proclamava-se como “rei dos Judeus”. Um dia simbólico
repleto de história e que, independente de crença, pode, sim, ser usado como dia de reflexão, e melhor, reflexão embasada.
Pouco mais de dois mil anos se passaram, o mundo segue girando,
e nós, estagnados? Onde estamos nessa história? Tirar ao menos um dia, entre
trezentos e sessenta e cinco dias de um ano convencional, para refletir nosso
papel enquanto seres humanos conscientes é imensamente superior ao discurso de
que não passa de hipocrisia retirar este dia para reflexão sobre o andamento de
nossas vidas.
E mais, não há data certa para se refletir e se perguntar qual
a razão de estarmos na Terra: viemos para perseguir, torturar, escorraçar e não
refletir? Por que coube e, em alguns casos, ainda cabe a nós, humanos, escolher
entre o salvador e o bandido? Por que, ainda hoje, a escolha pelo salvador implica
na condenação do bandido e vice-versa? Em um mundo em que cabeças pensantes
despontam de todos os cantos, a criatividade não conta e os caminhos ainda mantêm-se em escolher um lado e
escrachar o outro. Um mundo sem solução, o “oito ou oitenta” sempre.
Não há questionamento ou debate, e sim uma
restrição a enxergar o mundo através de um pince-nez,
um tipo de óculos, que, todo modulado por preferências e gostos, impedem
a visão panorâmica de que somos 7 bilhões de habitantes, todos diferentes e espalhados nos pouco
mais de 12.500 km de Terra.
O mundo que não discute é o mesmo que
nunca, em todo esse tempo, promoveu o mínimo de reflexão. Nele, ninguém
reflete. As ações são promovidas como se não houvesse passado.
É o mundo que há alguns anos discursava pela globalização e
hoje se limita a construção de muros e recuos históricos. É o mundo que já foi sólido e derrama, transborda na “liquicidade” do saudoso Bauman. É o mundo que precisa, rapidamente, de reflexão.
Independente do sacrifício na Cruz (até por que, mesmo com as referências arqueológicas, muitos dizem que "não existiu") acho que o Ser Humano no geral precisa rever suas atitudes, agir com a decência e a coerência que seu julgamento e condenação ante o próximo são feitos.
ResponderExcluirVivemos um momento terrível na humanidade, entendo que não sejamos capazes de assim como Jesus "nos sacrificarmos pelo próximo", mas será que precisamos sempre querer passar por cima deste mesmo próximo para vencermos, será que podemos ao menos não machucar nosso semelhante? Só isso já seria um grande avanço humano.
Texto maravilhoso!
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