Garoto, sapeca, índio e negro, de cachimbo, alguns falam que
usa gorro vermelho, outros brisam que é somente uma cabeleira vermelha. Fato é
que o vulgo Saci é uma das figuras mais conhecidas do pé na cova, Folclore
brasileiro.
De alguns anos para cá, a massificação de que tudo de origem
estadunidense, MADE IN USA, é exitosa, evoluiu de tal forma que aderir o inglês
como idioma oficial é obrigatório e assumir o ultimo dia de outubro, o
Halloween, como a festa cultural folclórica brasileira cada vez mais comum. Por
contar com a intensa participação das instituições de ensino, a festa do
folclore Celta e fortemente representativo nos EUA tem, infelizmente, invadido
e tomado o espaço do rico cenário alegórico de nossas lendas, estórias e contos
peculiares do Folclore brasileiro.
Folclore por definição, segundo o dicionário Aurélio, é conjunto de costumes, lendas, provérbios, manifestações artísticas em
geral. Tudo o que o Halloween representa está, ao menos, dentro do termo Folclore e mesmo assim assume o posto
daquele que, por muito tempo, perpetuou como temas de pesquisas, trabalhos, feiras escolares ou, até mesmo, por um tempo esteve na grade curricular de ensino.
A documentarista brasileira, Issis Valenzuela, é responsável
pelo curta Observadores de Saci. De
apenas 26 minutos, o documentário é, no mínimo, curioso e misterioso. A
diretora paulistana, expedicionária, grava na Capital Paulista, viaja ao
interior paulista e entre cidades como Botucatu e São Luís de Paraitinga
encontra os tais observadores de Saci.
Atravessando trilhas em meio à mata fechada, Ditão Virgílio,
tipicamente interiorano sertanejo, convida a produção do documentário a uma espécie
de maternidade de Sacis. Está aí algo curioso, todos os entrevistados, falam em
Sacis e não apena Saci. A pluralidade dada pelos “observadores” sobre a lenda brasileiríssima,
em um toque sutil, é o chamariz do documentário. Ditão comentas as estórias contadas
pelo pai, mostra uma antiga foto da sombra, uma silhueta de um garoto de apenas
uma perna na praça de Paraitinga. Caminhando mata adentro, Ditão e a
cachorrinha Brisa guiam o documentário
ao local que, segundo ele, é possível ver os Sacis. Antes de adentrar, se
agacha e no chão coloca um presente em forma de fumo para o lendário cachimbo
do Saci. Ele diz que pela manhã o fumo não estará lá. Após leva a equipe ao bambuzal de Taquaruçu, onde de
acordo com a lenda, em cada pequeno gomo, o moreninho ou moreninhos nascem. Ditão
usa do artificio de tranças nos rabos de cavalos como sustentação para a sua
crença no índio protetor das matas.
Robson Moreira e José Oswaldo Guimarães são os outros
observadores. Jornalista e caçador de saci, respectivamente, os dois compõe a
parte oficial da possível existência de Sacis.
Robson é jornalista e foi entrevistado pelo documentário em
pleno Parque Trianon, Avenida Paulista. Presidente da Sociedade Brasileira de
Observadores de Saci (SBOS), o jornalista que diz ser um saciologo, menciona que o Saci nasce em um gomo de Taquaruçu de 77
cm de diâmetro, mede 77 cm e morre aos 77 anos. Para ele, Saci é “estado de espirito” e que o Trianon,
mesmo estando no centro rochoso de São Paulo, é um antro de Sacis. “É muito simples vê um Saci. Basta sentar e
observar”, em meio ao verde paulistano.
Já Oswaldo Guimarães, representa a Associação Nacional Criadores de
Sacis e diz ter visto a negra figura serelepe por várias vezes. Para ele o Saci
é um animal-pessoa, uma espécie de Centauro da mitologia Grega, assexuado. Diz
ter transportado irregularmente, na calada da noite, um casal de Saci, de
Itajubá a Botucatu, cidades do interior paulista.
Por fim, o que é existir? Será que temos sete bilhões de
pessoas no Mundo ou existem sete bilhões de pessoas no mundo?
Os três observadores coincidem em três pontos: a crença naquele
que, segundo as lendas, protege a Natureza; o Taquaruçu como local de nascimento
de Sacis e, principalmente, a preservação de um patrimônio. O quase perdido
folclore é brasileiro, é nosso. Ter não é existir.
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