O Brasil não consegue vencer a luta contra o tráfico de drogas e não consegue lutar contra a violência urbana, os números de homicídios nos últimos anos são iguais e até maiores do que os de países que vivem em guerra. A questão da violência no futebol, das torcidas organizadas ficou insustentável. Mas o que a justiça resolve fazer? Jogar o problema para baixo do tapete e responder para sociedade  que a única alternativa para resolver as brigas entre os torcedores dentro e fora do estádio, é colocar torcida única, como forma de diminuir e "resolver" a violência. Foi uma resposta a sociedade, mas também um paliativo para resolver a questão, paliativo aliás, como os que se usam em outras ocasiões que envolvem o tema violência na sociedade.

Na última sexta-feira (10), o Ministério Público do Rio aderiu à bobagem cometida em Minas Gerais e São Paulo e por medida liminar, estabeleceu a regra de torcida única nos jogos do Campeonato Carioca entre os quatro grandes (Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense). As conseqüências dessa liminar poderiam prejudicar a realização da partida entre Flamengo e Vasco valida para a semifinal da Taça Guanabara. Sem o Maracanã, a partida acabou sendo definida para o estádio Raulino de Oliveira em Volta Redonda e com a queda da liminar, tendo garantida até o fechamento desta matéria, a presença das duas torcidas. 
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A decisão da proibição da presença de duas torcidas rivais no estádio veio do promotor Rodrigo Terra e foi aceito pelo juiz Guilherme Schilling, do Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos do Rio, com o objetivo de reduzir a violência após o ocorrido no último Botafogo e Flamengo. Essa decisão veio devido a morte de um torcedor envolvendo as duas torcidas e não sobre a questão da polícia militar cujos soldados não foram para o estádio como estava nos planos, sendo barrados por protestos de familiares contra o descaso do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

O argumento da redução da violência se torna vazio quando nos lembramos do torcedor do Fluminense, que não era de organizada e apenas gostava de seu time, foi agredido perto do Maracanã neste ano quando voltava de um jogo em Xerém. Além disso, não resolve a questão dos brigões que marcam suas batalhas em todo estado ou brigam entre as torcidas que são pertencentes ao mesmo clube. Essa decisão acaba mostrando o quão é ineficaz nas medidas de prevenção e inteligência nos arredores do estádio, privando torcidas rivais de exercerem seu direito de ver o jogo e sem olhar a situação como um todo.

Ao invés de seguir as diferentes experiências bem-sucedidas de combate à violência no esporte pelo mundo como em Alemanha e Inglaterra, que enfrentaram o hooliganismo, através de política preventiva, identificando torcedores violentos e os retirando dos estádios, além de bani-los permanentemente. Nessa questão seria preciso mapear essas pessoas que estão lá com outro propósito que não é acompanhar o espetáculo entre os clubes, secretaria de segurança e governo, para enfim, acabar com a raiz da violência. 

No Brasil temos o exemplo dos torcedores que foram presos na Bolívia devido ao sinalizador que matou o jovem Kevin Spada, alguns deles já apareceram em brigas entre as torcidas e diversos estádios do país e nada foi resolvido. Essas brigas mostram que é uma minoria participante e não no geral. Se identificá-los e puni-loso com tem de ser, talvez pudessemos ter uma diminuição das brigas dentro e fora dos estádios, mas como tudo no Brasil é proibir, não se resolve e a tendência é só crescer. 

O país está seguindo o retrocesso quando o assunto é torcida única. Algumas cidades como Roma, Buenos Aires e Belo Horizonte já estão recuando sobre a questão. Em São Paulo, muitos defenderam a tal medida, mas a violência só mudou de endereço. Agora essa medida chega ao Rio de Janeiro e o assunto volta a ser comentado e criticado. 

Precisamos ver que falhamos na educação da nossa sociedade. "Somos" (o coletivo) violentos por natureza. Muitos morrem em briga boba de bar, em filas de mercado e até por vaga de banco numa praça de alimentação, como aconteceu em um shopping no Rio de Janeiro. Essa questão um dia chegaria aos estádios, a conta chegou e que fizeram? Proibiram a festa em vez de estudar a sua causa. A medida da Torcida Única, até mesmo na questão 90/10 entre mandantes e visitantes é o caminho para a morte da festa e do futebol. Eu que cresci no ambiente do velho Maracanã, com torcida dividida, festas e provocações entre as torcidas não posso aceitar essa tal medida por um simples achismo dos que fazem nossa "justiça", como a nossa política que simplesmente tenta resolver algo temporariamente, como "resposta" a sociedade, mas nunca vai à causa para acabar com a raiz. Como dito no início do texto, se falhamos na questão das drogas e da violência urbana, "vamos" (o Estado) falhar também na questão das brigas de gangues transvestidos de torcedores e "torcida única" não é solução e nem estanca a sangria, como falou Mansur em seu artigo. É preciso fazer muito mais do que uma medida, mas infelizmente não querem. 



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Joseclei Nunes

30 Anos, Carioca, Licenciando em História na Simonsen, amante e pesquisador de Futebol, Política e Carnaval.

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