Existe na baixada santista uma tradição de ano-novo tão comum quanto usar branco, soltar fogos ou pular sete ondas: entrar em pânico com o mercado da bola.



O torcedor dos outros times grandes tem duas posturas básicas frente à janela do verão brasileiro: excitação quando o clube tem algum dinheiro (por exemplo, o atual Palmeiras) e apreensão quando não tem (por exemplo, o atual Corinthians). Mas nenhum torcedor é capaz de entender o santista, que se sente um pouco apreensivo quando não há dinheiro e MUITO apreensivo quando há.

Quando não há dinheiro, é fato que o clube vai recorrer à sua elogiada base, e com razão, pois tem dado resultado. Por mais que pra cada Neymar exista uma dúzia de jogadores como Tiago “Messi” Luís, Alemão, Victor Andrade, Giva e outros que não vingaram, o fato é que a base santista rotineiramente produz jogadores com qualidade suficiente para manter o Santos no seu lugar marcado – a metade de cima da tabela no Brasileirão e a final do Campeonato Paulista. Por outro lado, a falta de dinheiro significa que os jogadores podem acionar o clube na justiça e nos deixar no prejuízo, além de reforçar rivais a custo zero. Não se engane pelo desempenho de Arouca – não é vantagem perder seus destaques de graça.

Por outro lado, quando há dinheiro...


Produtos da venda do Robinho: Luizão Botijão e Cláudio Pitbull. Resultados: 11 jogos e 2 gols para Pitbull, 5 jogos e uma expulsão boçal para Luizão. Mais um golpe astuto do Santos no mercado.


O Santos, inclusive, pode se gabar de uma continuidade impressionante. Entra diretoria, sai diretoria, desde Milton Teixeira, passando pelo filho Marcelo, Samir Abdul-Hak, o câncer Odílio Rodrigues, Modesto Roma Jr. e até o santo Laor, que descanse em paz. Por mais diferenças que tivessem entre si, uma capacidade tinham em comum: a de fazer contratações miseráveis. Não é necessário listar todas elas aqui Henao Tapia Alessandro Reginaldo Araújo Odvan Clebão Antônio Carlos Triguinho Roberto Brum Germano Cabeleira Émerson Quiñonez Petkovic Tiarinha Trípodi Aldo De Nigris Luizão Pitbull Damião Damião Damião Damião e mais uma renca de jogadores do Iraty para saber a extensão da irresponsabilidade santista com dinheiro. E é exatamente a situação atual. Ou seja: o que esperar do Santos para 2017?

O Santos terminou 2016 em alta, faturando um tradicional paulista e chegando em segundo lugar no Brasileiro, voltando à Libertadores depois de algum tempo. Que ninguém se engane: nosso time não era pra brigar pelo título. Ficamos em segundo porque o Galo era muito mal organizado e porque o Flamengo perdeu o gás (mas confesso, é legal ficar na frente do time do Damião). Posição por posição, segue uma análise geral dos pontos fortes e fracos do time:


Goleiros:


De longe, a posição que menos preocupa o santista. Não só temos o seguro Vanderlei, como temos na reserva o ainda promissor Vladimir. O que é um alento, considerando que os goleiros reservas do Santos costumam ser velhos e desiludidos, e que sempre existe a possibilidade de um dirigente demente querer contratar o Fábio Costa.


Que homem, senhores. QUE HOMEM!


Zagueiros:

Em 2016, o Santos foi muito afetado pela perda de sua boa e entrosada dupla de zaga titular, Luiz Felipe e Gustavo Henrique. Fabián Noguera, apesar de seus gols, é lento e não goza do prestígio de Dorival. David Braz, um dos mais experientes do elenco, constantemente é batido no 1:1 contra atacantes ou sai jogando errado. O ano acabou com o volante Yuri bem encaixado na zaga para qualificar a saída de bola. Dorival sinalizou que deseja testar um esquema 3-4-3 com apenas um zagueiro fixo e dois mais móveis, que podem ser volantes recuados, para qualificar ainda mais a saída de bola. Este zagueiro tende a ser a nova contratação, Cléber, zagueiro que se destacou na Ponte Preta, foi bem no Corinthians mas na longa passagem pelo bagunçado Hamburgo, foi mais destaque por fazer gols do que por evitá-los. De toda forma, parece uma alternativa interessante a Noguera, David Braz e Lucas Crispim, que devem perder espaço quando Luiz Felipe e Gustavo Henrique voltarem à forma. A menos que um dos dois seja vendido, Crispim deve ser emprestado e um dentre Braz e Noguera devem deixar o clube em breve. Torço para que seja o veterano.


Laterais:

Ao que tudo indica, o Santos fez uma rara boa contratação na pessoa do jovem Matheus Ribeiro, jogador que atua pelas duas laterais. Ao que tudo indica, Ribeiro é superior a Caju e Daniel Guedes, o que é bastante bom, dado que ambos – principalmente Caju – dão arrepios no torcedor santista. Somando a má fase de Victor Ferraz na segunda metade de 2016 e o fato de que dificilmente conseguiremos segurar o excelente Zeca por muito mais tempo, o santista torce muito para que o jovem vingue.

Em tempo: O Santos tem mesmo mais sorte que juízo. Emerson Palmieri, que saiu da Vila sem deixar lembranças, é presença constante no flanco esquerdo da Roma, que recentemente nos pagou 2 milhões de euro (R$7,4 milhões) pela totalidade do jogador.


Volantes:
Que fique registrado: nada contra o futebol em si de Leandro Donizete. Reconheço que, mesmo com a idade avançada, a capacidade do jogador de recuperar bolas, iniciar contra-ataques e intimidar adversários pode ser útil a alguns times brasileiros na Libertadores.

O problema é que o Santos não é um destes times. O time santista precisa da bola, precisa de jogadores como Thiago Maia e Renato, que consigam desarmar e contribuir para a construção de jogadas ao mesmo tempo. Se a ideia é poupar o interminável Renato ou substituir Thiago Maia caso ele saia, Donizete não é a pessoa certa. Se o esquema 3-4-3 vingar, veremos muito mais minutos de Yuri e Jean Mota em campo, o que é boa notícia, caso mantenham as boas atuações do ano passado. Outra boa notícia é a possibilidade da saída de Alisson, que se já não era aproveitado antes, com a chegada de Donizete, fica totalmente obsoleto. O Corinthians se interessou pelo jogador, o que é bom – quem imaginaria que conseguíssemos fazer caixa com Alisson Pitbull?

Em tempo: nada de Schweinsteiger, nem de Yaya Touré. O esquema de jogo do Santos requer jogadores bastante móveis, e nenhum dos dois veteranos cumpre este requisito.



Me diz pra que isso...



Meias:
De modo geral, aqui está o maior desafio do Santos: Lucas Lima. O meia ganha pouco pela sua importância no elenco e seu contrato, prestes a expirar, dificilmente será renovado – ou seja, o Santos tem tudo para perder seu camisa 10 de graça no meio do ano. Por outro lado, o ex-dentes de limpa-trilhos é sabidamente um jogador muito diferente quando está de má vontade, de forma que o Santos deveria aproveitar o Campeonato Paulista para encontrar o substituto para o meia. Vitor Bueno é o candidato ideal – um jogador diferente de Lucas, mais vertical, menos passador, mas que dá velocidade ao time. Léo Cittadini pode ser uma opção caso Bueno seja escalado como ponta, onde rende melhor. Com Guerra já capturado, não tem sentido sair gastando dinheiro procurando algum veterano decadente (essa é a hora que eu rezo a todos os céus que nenhum dos dirigentes dementes do Santos decida ir atrás de Jorge Henrique, Júlio Baptista, Valdívia ou algo do gênero). No entanto, alguma revelação da Copinha ou do Paulista poderia muito bem tomar o lugar dos inúteis Vecchio e Longuine, que não têm condições de jogar no time titular. Felipe Gedoz era um bom nome, mas foi reprovado pelo alto preço e condição física suspeita. O ideal seria conseguir concretizar a trapaça troca de Alisson Pitbull por Marquinhos Gabriel, que pelo visto só joga bem aqui no Santos...


Ataque:
Aqui fica o maior medo do torcedor santista – a chance de contratações cretinas para o ataque é imensa, e apenas a providência divina impediu um desastre maior até agora.

O ataque do Santos conta com Ricardo Oliveira como titular indiscutível, mas com 36 anos, precisa ser poupado com alguma frequência. Isto se não concretizar alguma transferência – há o interesse do São Paulo e o futebol chinês sempre pode voltar. Além do veterano, o Santos tem Copete, ponta-atacante que defende relativamente bem e faz muitos gols, apesar de não ter a maior das intimidades com a bola. Chegaram o rodado Kayke, atacante móvel que teve passagem razoável pelo Flamengo, e o ponta Vladimir Hernández, que pode tanto ser um novo Copete (gostamos) quanto um novo Patito Rodríguez (não gostamos). Além deles, há Rodrigão, Stefano Yuri e Diego Cardoso, que não devem ser aproveitados. Já devolvemos Joel e Paulinho a Cruzeiro, com nossos cumprimentos e votos que não passem mais aqui. Fico honestamente feliz que Keno e Marinho não tenham dado certo – pra mim, eram apostas muito arriscadas. O ideal seria contratar outro ponta agudo, como Bruno Henrique ou Vitinho, mas não é imprescindível. O problema são... as loucuras.

Não há uma janela de transferência onde as palavras “Robinho” e “Santos” não sejam colocadas em conjunto. Quando está na Vila, a pergunta é “Para onde Robinho vai?”. Quando não está, a frase é “Robinho vem?” Não importa que o contrato do atacante com o Atlético seja longo, seu salário altíssimo e sua multa imensa. É importante para o Santos manter sua eterna condição de submissão ao Robinho, mesmo tendo terminado duas posições acima do estrelado ataque do Galo. Se vier, que venha de graça. Não tem sentido fazer loucuras para tê-lo conosco, embora tenha feito um bom Brasileirão pelo Atlético.

Barcos quase fechou, o que não seria tão ruim – exceto pela pressão que Dorival sofreria para escalá-lo junto com Ricardo Oliveira, formando um ataque de baixa mobilidade ou pelo salário alto para mantê-lo no banco. Seria uma aposta arriscada. O staff do argentino errou em pedir que o Santos cobrisse a dívida do Vélez. Barcos tinha mais a ganhar que o Santos na transferência.

Por fim, a notícia que mais me assustou. Após passar dois anos como ex-jogador em atividade tentando estragar seu passado no Santos, Elano se aposentou oficialmente e foi incorporado à comissão técnica. E sua primeira aventura foi ir atrás de um jogador de 36 anos, muito identificado com um rival, que passou o último ano na segunda divisão da China e tem a mobilidade do Groot. Sim. Elano quis manter a cota de ex-jogadores em atividade no Santos trazendo Luís Fabiano.



Andando fabulosamente em campo, quem não quer?



O Santos requer manutenção. Manutenção de Vanderlei, Renato, Ricardo Oliveira e, idealmente, Lucas Lima. O Santos requer reposição – jogadores que possam substituir os titulares à altura, especialmente no meio e no ataque. Mas acima de tudo, o Santos requer moderação – para não gastar dinheiro em medalhões caros e provavelmente inúteis. Se conseguir cumprir estes predicados, o Santos tem tudo para fazer um excelente 2017.





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Victor Martins

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