Com pouco mais de dois meses no poder, o governo Temer tem colocado algumas propostas para a retomada do crescimento e organização das esferas que sofrem com o abalo que, mesmo dando a impressão de ser partidário, o poder judiciário tem realizado. Entre esses “avanços de Temer” está a Medida Provisória (MP) 746, a tão comentada reforma do ensino médio. A MP que, conforme a Constituição, é de total e unilateral responsabilidade do presidente da República, assim como tudo o que esse governo tem feito, deu certo ânimo aos movimentos estudantis e sociais, que saíram as ruas e ocuparam espaços públicos, como as pouco mais de 1.100 instituições de ensino que estão, de acordo com um levantamento da UBES, tomadas pelos estudantes por todo o país. A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, a UBES, é a liderança dos estudantes de ensino médio, o colegial, daí o termo secundarista.

Foto: RACISMO AMBIENTAL
 A medida anunciada pelo governo federal no dia 22 de setembro desse ano é um conglomerado de ações que visam à mudança do atual modelo de atribuições do ensino médio. A facultatividade de algumas disciplinas, no caso: filosofia, educação física, sociologia e artes; a possibilidade de que o aluno escolha entre: linguagens, matemática, ciências humanas, ciências da natureza e/ou ensino técnico, aquela área com que mais se identifique, além do aumento do mínimo de horas estudadas, que passarão de 800 horas/ano para 1400 horas/ano, são os pontos que, mesmo não tendo sido debatido com a população, foram entregues ao Congresso. Essa ultima é a mais controversa e temida atitude da medida, pois os estudantes reconhecem que dar integralidade ao ensino médio trará benefícios, porém muitos da faixa etária do ensino médio, além de serem estudantes já se encontram no mercado de trabalho, devido à perda real do salário das famílias. Prova disso é o número de jovens que se submetem ao trabalho durante o dia e vão cursar o ensino médio no período noturno. Mesmo com todo esse rebuliço, o Palácio do Planalto além de manter a MP já dialogou com os estados para a aplicação desse novo modelo já no próximo ano. Além disso, Temer tem colocado em cadeia nacional de rádio e TV inúmeras campanhas institucionais informando e chamando a população para o “aperfeiçoamento” da medida. Falácias de um governo que até o momento, só tem nos mostrado seus lindos e pomposos jantares e almoços, extrapoladas faturas de cartões de crédito e tentativas de intervenção ao trabalho da justiça.  

No centro Rodrigo Maia e Michel Temer, presidente da Câmara Federal e presidente da Republica, ou gerente e dono do "Bom Prato Alvorada", respectivamente; Foto: O GLOBO


Foi a MP 746 o estopim dos levantes dos estudantes nos últimos meses. Hoje, a PEC 55 (vulgo PEC 241) é que tem feito estudantes de, ao menos, 19 estados e Distrito Federal partirem e ocuparem as escolas e os campi de universidades públicas por todo o país. A “Primavera secundarista”, como os estudantes tem chamado o movimento, é basicamente ocupar instituições de ensino, principalmente escolas públicas, e proliferar a ideia de que a classe estudantil está conscientizada com os “riscos” que essas ações podem trazer. O estado do Paraná, cujo governador é peessedebista - Beto Richa – e um de seus representantes no Senado Federal é Gleise Hoffmann – ela e o seu marido, Paulo Bernardo, são investigados pela lava jato, por ter recebido propina em sua campanha - é a UF com mais escolas ocupadas, são 851 prédios tomados por alunos da rede pública, de um total de 1.108 ocupadas em todo o Brasil. 
 
Foto: UOL

O movimento é legitimo? Claro que é. Porém é preciso não ficar apenas em belos discursos. Um dos males dessa sociedade é a polarização do senso comum, em que os debates são cada vez mais rarefeitos. A morte de Lucas Eduardo Araújo Mota, aluno que ocupava a escola estadual Santa Felicidade, em Curitiba, no dia 24 de outubro, depois de ter levado facadas de um amigo, após se desentenderem enquanto consumiam drogas, é um dos pontos que mais tem me chamado a atenção. Será que eles estão lá por que querem estar lá? Ou há lideres políticos oposicionistas financiando e, por trás dos panos, conduzindo os estudantes, assim como fazem com marionetes? 


“Lutar, resistir e ocupar” este é lema que os estudantes têm se utilizado. Espero que eles lutem, resistam e ocupem sem precisar se alinhar àqueles que não lutam, não resistem a uma mamata e que não sabem, nem mesmo, ocupar seus gabinetes e escritórios.
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Claudio Porto

Jornalista independente.

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1 comments so far,Add yours

  1. Veja Claudio. Tu expôs muito bem as razões que estão levando as manifestações que começam no PR e se espalham pelo Brasil. É um governo como já foi tratado aqui, que tem tomado medidas que não analisam as peculiaridades da população, não há um diálogo, há um etnocentrismo de que vai ser da forma que quer o planalto. A população precisa ser ouvida nesta e em outras medidas como a PC de gastos e o governo precisa cortar na própria carne pra começar e não fazer esses jantares e almoços gigantes, gastar exacerbadamente com cartões, viagens e PUBLICIDADE.


    Agora, debatemos isso pessoalmente e não chegamos a um consenso. Ora, TODO MANIFESTO tem um viés político, seja de um "lado" ou outro, e tem risco de ter excessos. O que importa no meu entendimento é a CAUSA, independente da "apropriação" ou da liderança da Esquerda sobre ela. Essa "Reforma" está errada e precisa ser sim combatida, precisa sim ter manifestos em relação a isso e outros problemas do país, acho que ao contrário, a mobilização está muito pequena ainda, por não ter dessa vez apoio midiático.

    No caso das manifestações para a troca de Presidente, não haviam entes políticos por trás, ao lado, por dentro e no entorno? TODA MENIFESTAÇÃO IDEOLÓGICA vai encontrar algum agente político que se associe a ela fatalmente. Isso não mata a causa. Assim como foi errado PMs paulistas jogarem bombas em manifestantes contra o afastamento da Ex-Presidente, enquanto na porta da FIESP tiravam selfies.

    Tudo está sujeito a ter excessos e pessoas envolvidas de índole duvidosa, o que importa é a causa e que haja uma maioria de pessoas em ordem, com argumento e entendendo o que ali estão fazendo.

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