Há cinco anos, dava-se inicio a “primavera árabe”, uma onda em meio à estação da primavera em que árabes do oriente médio e norte da África enfrentaram, por meio de protestos, regimes ditatoriais que já perduravam por muito tempo. A Tunísia, localizada entre a Líbia e Argélia ao norte da África, foi o primeiro país a enfrentar a revolta dos populares que reivindicavam melhores condições por meio de grandes e violentos protestos, que foram se estendendo aos países vizinhos. Além dos tunisianos, os líbios, egípcios, argelinos, iemenitas, marroquinos, bareinitas, jordanianos, omanenses e sírios também se lançaram a guerra pela liberdade e resgate dos direitos civis. Desde então houve a queda de alguns ditadores, milhares de mortos e refugiados, além da destruição de patrimônios históricos.


Os países árabes são geridos de forma distinta aos modos ocidentais de se governar. Lá, como bem sabemos, quem manda, administra e comanda grandes populações é a religião, são os preceitos da doutrina religiosa que faz, desfaz e conduz a vida em sociedade. Estamos em 2016, e os países árabes ainda vivem – ávidos pelo fim – as muitas consequências das revoluções do inicio da década. A Síria, por ser um dos poucos países que não obtiveram êxito nas revoltas, já que Bashar al assad – no poder desde 2000 – ainda é o chefe de Estado, é o país que mais têm sofrido com as mazelas dos conflitos armados entre os grupos favoráveis e contra a permanência de Bashar e o violento grupo extremista Estado Islâmico. O clima de insegurança, de que nada será feito e a observação sobre a omissão da ONU, tem estimulado o êxodo de milhares de pessoas pelos mares até a costa emparedada, concretada de desumanidade do continente europeu. Muitos especialistas dizem que esses cinco anos de instabilidade no oriente, são apenas os primeiros momentos de uma guerra que ainda tem muita “lenha pra queimar”, isso sem contabilizar os anos necessários para a retomada da mínima tranquilidade necessária para o prosseguimento da vida nessas localidades. 


As imagens da desgraça, dor e sofrimento circulam o mundo. É triste ver que alguns já escolheram não enxergar essa dura realidade e, consequentemente, optaram pela continuação das mortes, sem que ao menos um debate seja iniciado. Às vezes toda essa situação me faz pensar que há lucro na morte de crianças, jovens, adultos e idosos. Estamos mais que atrasados para desenvolver algo que chame atenção para a calamidade que envolve a vida de milhares de pessoas inocentes.  


Abdullah antes do ataque aéreo; Foto: BBC
Crianças, mortas após o ataque aéreo; Foto: BBC
Mesmo após todo esse tempo e todos esses acontecimentos, o canal britânico BBC, nessa semana, publicou em seu site uma entrevista com o Abdullah al-lbbi, pai de família, nascido no Iêmen, que sofre com a morte das esposas, filhos e netos. Ao todo foram 27 pessoas ou três gerações dizimadas após sua casa ser acertada por um ataque aéreo, enquanto almoçavam. Abdullah foi o único a sobreviver o ataque, mesmo tendo ficado internado por seis meses. Os familiares de Abdullah são apenas alguns entre os quatro mil civis mortos nos embates entre os houthis (grupo iemenita extremista de doutrina xiita) e a coalizão liderada pelos Emirados Árabes e apoiada pelos Estados Unidos. 

Filho mais novo de Abdullah; Foto: BBC
Garoto Aylan Kurdi morto em uma praia turca; Foto: MSN
 Assim como Abdullah existem muitos outros que estão, nesse momento, aterrorizados com os fatos que a vida tem colocado à frente. Parece que para esses a passagem pela Terra é, necessariamente, medida pela força de defender o extremismo que a sua mortífera fé exige. Defende-la é matar a si e aos seus que estão ao seu redor. Partindo do pressuposto que devemos respeitar todo tipo de crença e religião, nós enquanto sociedade não podemos, de maneira alguma, deixar que mais garotos como o Aylan Kurdi morram na busca pela sobrevivência. 


Eleições – EUA

Construir barreiras físicas ou psicológicas como o candidato estadunidense, Donald Trump, promete em campanha para estimular o xenofobismo e assim impedir o acesso dos latinos pelas fronteiras, ou estimular a guerra para que se obtenham louros de ser a nação mais importante do mundo e, obviamente, ser a chefe de Estado mais importante, como pretende Hillary Clinton, é o mais perverso caminho para o mundo. Os Estados Unidos, que vai as urnas nessa terça (08), terá um enorme dilema a resolver. Dilema esse que está nas mãos dos estadunidenses, porém é de suma importância a todo o mundo. 

Foto: THE ATLANTIC
 
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Claudio Porto

Jornalista independente.

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1 comments so far,Add yours

  1. Nossa Claudio, a gente tem alguma dimensão do que ocorre no Oriente Médio, é um tema que chama muito a atenção, evidentemente. Mas nada como conhecer histórias como essa, pra ficar ainda mais chocado.

    É absurdo ver a maneira com que essas guerras transcorrem. É claro que o extremismo desses grupos terroristas é o grande responsável e precisa ser debatido. Mas será que estas autoridades não percebem, que ataques aéreos sem alvos definidos tem muito mais possibilidade de atingir civis que extremistas?

    Isso vai de encontro aquela estúpida "percepção" ocidental, de que todo Muçulmano é extremista. Tudo na nossa sociedade atual é RELATIVIZADO, afinal, pra relativizar, não se precisa PENSAR...

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